Mahomes e Hurts chegam ao Super Bowl como líderes dos melhores ataques da NFL neste ano
Primeiros quarterbacks negros e dupla mais jovem da posição a chegar à decisão, jogadores são amostra definitiva da transição entre gerações na liga
Parte dos olhos do mundo estarão voltados para Phoenix, no Arizona, na noite deste domingo para acompanhar o Super Bowl LVII, entre Philadelphia Eagles e Kansas City Chiefs, às 20h30. Além de definir um novo campeão da NFL, o confronto marca um novo cenário do futebol nos Estados Unidos. Nas últimas cinco edições do Super Bowl, ninguém esteve mais presente em campo do que Tom Brady. O quarterback de New England Patriots e Tampa Bay Buccaneers se aposentou recentemente e marcou uma era na NFL. Após mais de 20 anos na liga e sete títulos, a ausência Brady deixa o caminho aberto para novas estrelas do futebol americano.
A decisão evidencia algo que já havia sendo antecipado há, ao menos, seis anos, quando Patrick Mahomes foi escolhido pelo Kansas City Chiefs na décima escolha geral do draft de 2017: a geração vitoriosa de quarterbacks das últimas décadas, com Ben Roethlisberger, Drew Brees, Peyton e Eli Manning, além de Bradu, chegou a seu fim. No atual cenário da NFL, as escolhas recentes do draft dominam a liga.
Patrick Mahomes e Jalen Hurts, líderes de suas franquias, compõe a dupla mais jovem a se enfrentar em um Super Bowl. Somados, os jogadores têm 51 anos - média de 25,5 anos. Tendência já observada nas semifinais dos playoffs desta temporada - o Divisional Round -, quando a média de idade dos quarterbacks titulares foi a menor na história da NFL. Dak Prescott, de 29, era o mais velho deles, mas foi eliminado nas semifinais de Conferência pelo San Francisco 49ers. Além disso, todos foram selecionados após o draft de 2016.
Tanto Mahomes quanto Hurts concorreram ao prêmio de MVP da temporada regular - que não contabiliza o desempenho dos jogadores nos playoffs. Mahomes foi eleito nesta quinta-feira, com 48 dos 50 votos possíveis, e se tornou o jogador mais jovem a conquistar o prêmio pela segunda vez - a primeira havia sido na temporada de 2018, quando passou para 50 touchdowns.
O novo Philadelphia Eagles com Hurts
O Philadelphia Eagles chega para a final da NFL pela primeira vez desde a temporada de 2017, quando a equipe venceu o New England Patriots e conquistou seu primeiro título da história. Da equipe que esteve no Super Bowl há cinco anos atrás, pouco se repete. Se na temporada de 2017 a equipe teve Carson Wentz e Nick Foles como quarterbacks e Alshon Jeffrey e Zack Ertz como grandes alvos, o time de 2022 tem como marca registrada a pouca idade e a intensidade durante todos os quatro períodos de partida.
Jalen Hurts, de 24 anos, é o quarterback do time e DeVonta Smith, também de 24 anos, é o principal alvo de uma equipe que atuou durante toda a temporada em um ritmo que quase não teve dificuldades para enfrentar nenhuma equipe durante a temporada de 2022.
Caso Jalen Hurts leve o Philadelphia a seu segundo título na história da NFL, ele se tornará o segundo quarterback mais jovem a ser campeão. Atualmente, esse título ainda pertence ao ex-quarterback do Pittsburgh Steelers, Ben Roethlisberger, que levou sua equipe à vitória aos 23 anos.
Hurts cresceu nas últimas duas temporadas sob o comando de Nick Sirianni. Selecionado na segunda rodada do draft de 2020, inicialmente como reserva de Carson Wentz, assumiu a titularidade na reta final da temporada 2020/2021, de onde nunca mais saiu. Após duas aparições consecutivas na pós-temporada, disputa o primeiro Super Bowl de sua carreira neste domingo.
"Não acho que (Jalen Hurts) tenha nada a provar na NFL", afirmou Jeffrey Lurie, dono e CEO dos Eagles nesta segunda-feira, na noite de abertura da semana do Super Bowl. "Ele é um quarterback do calibre de MVP, um líder incrível para a equipe dentro e fora do campo. Ele tem 24 anos, é incrivelmente maduro e, o mais importante, motivado a ser ainda melhor. O que estamos vendo hoje, acho que é apenas o começo para ele."
Chiefs liderados por Mahomes
Mahomes, por sua vez, já é uma realidade na NFL. Desde que assumiu sua titularidade sob o comando do técnico Andy Reid nos Chiefs, chegou ao menos na final de Conferência. São cinco aparições consecutivas da franquia do Missouri na pós-temporada, com todas as decisões disputadas no Arrowhead Stadium, sua casa - algo inédito na história da liga. Ao chegar a seu terceiro seu Super Bowl neste ano, ele iguala uma marca de Tom Brady e se torna o segundo quarterback da história a disputar três finais em seus seis primeiros anos na NFL.
Focando suas ações em seu quarterback e permitindo que ele decida, o Kansas City Chiefs se colocou entre as melhores equipes da NFL nos últimos anos. Em 2022, superou adversidades em seu corpo de recebedores - enfraquecido pelas perdas de Tyreek Hill e Sammy Watkins nos últimos anos - e teve um de seus melhores desempenhos na carreira. Na temporada regular, passou para 37 touchdowns e 4.729 jardas. Os números em campo justificam seu salário: em 2020, fechou um acordo com Kansas City, válido por 10 anos, no valor de US$ 450 milhões (cerca de R$ 2,3 bilhões).
Nesta temporada, ele pode quebrar mais uma marca em sua carreira. Desde 1999, o jogador eleito MVP da temporada regular não é campeão da NFL - Kurt Warner, quarterback do St. Louis Rams, foi o último a realizar o feito. Peyton Manning, Aaron Rodgers, Tom Brady e o próprio Mahomes tiveram a oportunidade neste século, mas ficaram pelo caminho. Para isso, uma das questões é a lesão no tornozelo que o quarterback sofreu na semifinal da AFC diante dos Jaguars. A tendência é que o jogador não esteja 100% recuperado para o Super Bowl.
Representatividade negra
Além da transição de gerações, o Super Bowl tem outro aspecto histórico. Pela primeira vez desde que a NFL passou a ser decidida em uma final entre Conferências, em 1967, os dois quarterbacks titulares dos finalistas são negros. Mahomes e Hurts foram os destaques da temporada.
Historicamente, a posição de quarterback é dominada por jogadores brancos. Um estudo conduzido pela Universidade de Pittsburgh apontou que, em 2019, 70% dos jogadores eram negros ou tinham descendência africana, enquanto 80% dos quarterbacks da NFL eram brancos. Em outra análise, conduzida pelo Instituto de Diversidade e Ética no Esporte da Universidade da Flórida Central, apenas 25% dos jogadores na Liga se consideravam brancos.
Melhores ataques da NFL
Em 2022, durante a temporada regular e os playoffs, Chiefs e Eagles tiveram os melhores ataques da NFL. Kansas City anotou 59 touchdowns, enquanto Philadelphia ficou logo atrás, com 57. Ambos tiveram as melhores de suas Conferências - AFC e NFC, respectivamente - e eram tidos como favoritos para disputarem o Super Bowl.
Além de Mahomes e Hurts, Chiefs e Eagles são abastecidos por importantes nomes no ataque. Apesar da perda de Tyreek Hill, Kansas City conseguiu repor sua ausência ao ampliar seu corpo de recebedores: além de Mecole Hardman, a franquia foi à free agency para trazer JuJu Smith-Schuster e Marquez Valdes-Scantling. Contra o Cincinnati Bengals, na final de Conferência, Mahomes passou para 10 alvos diferentes durante a partida - maior número nos playoffs. A linha ofensiva de Kansas City também merece destaque, como uma das que mais oferece tempo para o quarterback dentro do pocket.
Em Philadelphia, o destaque do ataque é o conjunto, que tem o melhor jogo corrido da liga, reforçado pela melhor linha ofensiva da liga - liderada pelo center Jason Kelce. Dos 57 touchdowns, Hurts passou para apenas 25 ao longo do ano. Miles Sanders, running back, anotou foi duas vezes à endzone na final de Conferência contra os 49ers - Hurts e Boston Scott marcaram os outros touchdowns, todos correndo com a bola.
DeVonta Smith, wide receiver de Philadelphia, é outro refúgio para o ataque aéreo da franquia. Vencedor do Heisman - prêmio dado ao jogador mais prolífico da temporada do futebol americano universitário -, foi escolhido pelos Eagles na 10ª escolha geral do draft de 2021. Desde então, é um dos principais alvos de Hurts - recebeu 102 passes nesta temporada.
Kelce e Andy Reid Bowl
O encontro de Chiefs e Eagles é simbólico por dois aspectos. Com Travis e Jason Kelce, jogadores de Kansas City e Philadelphia, o Super Bowl LVII será o primeiro a ter um duelo de irmãos. A NFL utilizou os jogadores para promover a divulgação da partida ao longo da semana e ambos comentaram sobre em seu podcast New Heights.
"Eu sinto que me perguntaram isso a minha carreira toda 'como seria se você jogasse contra o seu irmão no Super Bowl?' E o tempo todo eu sempre pensei que esse era o objetivo. Agora alguém vai ter que mandar o irmão para casa", afirmou Travis Kelce nesta última semana. Nascidos em Ohio e escolhidos por franquias de Conferências opostas, eles se enfrentaram em poucas oportunidades ao longo de suas carreiras - franquias da NFC e AFC se enfrentam, em média, uma vez a cada quatro anos. O último encontro foi em 2021, com vitória dos Chiefs por 42 a 30.
Além dos jogadores, Andy Reid é uma peça central deste confronto. O treinador iniciou sua carreira em Philadelphia, onde permaneceu entre 1999 e 2012, e levou a franquia a cinco finais de Conferência e um Super Bowl. Em Kansas City desde 2013, também chegou a cinco finais da AFC, além de três Super Bowls. Na temporada 2019/2020, conquistou seu primeiro título da liga.