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Brasileiro detalha festa no Marrocos com a seleção na Copa: "Euforia generalizada"

André Pacheco, de 25 anos, trabalha em um resort de Marrakesh e acompanha os festejos pelo desempenho da seleção no Catar

14 dez 2022 - 05h10
(atualizado às 07h43)
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Foto: André Pacheco

Não é só no Brasil onde o futebol é paixão nacional. O Marrocos está em polvorosa pela classificação da sua seleção à semifinal da Copa do Mundo do Catar, a primeira equipe africana a chegar a esta fase do torneio em toda a história. Trabalhando em um resort de Marrakesh, importante cidade ao oeste do país, o brasileiro André Pacheco, de 25 anos, acompanha de perto o comportamento de milhares de pessoas que nunca antes comemoraram com tanta felicidade os gols da seleção.

Torcedor do Atlético-MG, André admite que não acompanha muito futebol. Ele chegou ao Marrocos há cerca de um mês para trabalhar em um resort fazendo apresentações e dando aulas de trapézio voador, função que exercia antes na unidade da empresa em que trabalha, no Caribe. A escolha pelo país do Norte da África não foi por acaso. O brasileiro conta que desejava experimentar uma realidade diferente de tudo que eu já viveu. Ele explica que Marrakesh, por ser um polo econômico nacional, é um ponto de encontro de várias culturas, especialmente a árabe. Quando a bola rola, a capacidade do futebol em unir as pessoas independentemente do lugar fica evidente.

"É impressionante perceber como todos os marroquinos e marroquinas engajam nos jogos da seleção desde que a Copa começou. Normalmente não se vê muito isso acontecendo em partidas de clubes na TV. Não se vê muito uma cultura de andar com camisa de time pelas ruas ou falar de futebol, mas quando a seleção marroquina entra em campo, tudo para", conta André. "Todos os bares ficam lotados, todo mundo pinta o rosto, compra bandeira, sai por aí com a camisa do Marrocos. É impressionante como isso faz girar a economia e a política social. Não chega a ser como no Brasil, mas engaja muitos dos que estão aqui."

André conta não ter visto marroquinos torcendo para outros países na Copa, algo comum em outras nações da África, mas afirma que os mais aficionados pelo esporte conhecem muito sobre outras seleções do torneio. Ele relata que a primeira resposta de cidadãos locais ao revelar ser brasileiro quase sempre são os nomes de jogadores da seleção. "Não posso falar de outras grandes seleções, como Argentina e França, mas o Brasil todo mundo conhece. Todos conhecem os jogadores da seleção brasileira", conta.

A seleção marroquina é certamente a que teve a trajetória mais heroica até o momento nesta Copa do Mundo. Depois de se classificar em primeiro lugar em um grupo com Croácia, Bélgica e Canadá, o time eliminou a Espanha, nos pênaltis, e mais recentemente Portugal. Segundo André, a campanha foi acompanhada com bastante entusiasmo no Marrocos, com ambulantes pelas ruas vendendo bandeirinhas e camisetas da seleção - cena comum de qualquer metrópole brasileira. Nos bares, cada toque na bola dos principais jogadores é motivo de aplausos e as vitórias são comemoradas com muita cantoria e instrumentos de percussão típicos.

"Os jogos foram uma euforia generalizada. É claro que os marroquinos tinham esperança de vitória, mas eu acredito que todos eles se surpreenderam com o quão longe Marrocos tem chegado nessa Copa. Foram abraços, choros, sinalizadores nas ruas, trânsito caótico com motocicletas andando em fila com bandeiras. Foi bem emocionante e com muita energia", conta. "Independentemente do resultado final, se ganhar ou não, eu sei que todos vão estar muito orgulhosos de tudo que tem acontecido porque ganhar de Espanha e Portugal foi um motivo gigantesco de alegria. Isso tudo só aqueceu bem meu coração, ver essa energia e essa alegria toda dos marroquinos."

A coletividade da seleção de Marrocos tem sido o diferencial do time nesta Copa. A equipe comandada pelo técnico Walid Regragui conta com jogadores que atuam em grandes ligas da Europa, como Bono, Ziyech, Mazroui e Boufal. No entanto, o rosto que simboliza o sucesso marroquino entre os torcedores é o de Achraf Hakimi. O lateral-direito do Paris Saint-Germain nasceu na Espanha, mas é filho de marroquinos e escolheu jogar pela nação dos pais por Marrocos ser o país onde realmente se sente em casa, algo que nunca ocorreu na Espanha.

"Eu diria que 60% de todas as camisetas que eu vi por aqui tem o nome do Hakimi. Ele é um ídolo mesmo. Toda vez que a câmera foca no rosto dele durante os jogos é um frenesi. Todo mundo aplaude e grita", conta André.

MULHERES E LGBT+

Quinta maior economia da África, o Marrocos tem o Islamismo como religião predominante. Durante o pouco tempo que está no país, André atestou rapidamente como a cultura local exerce grande influência na realidade do povo. O brasileiro relata ser comum ver mulheres nas ruas cobrindo o rosto com véus, apesar de não ser uma regra, e que boa parte delas trabalha cuidando da casa e dos filhos, enquanto os maridos saem para trabalhar. Apesar disso, elas não ficam de fora na hora de apoiar a seleção. "Sempre vejo mulheres assistindo aos jogos e torcendo. Elas são bem recebidas, na verdade, elas são tão barulhentas quanto os homens", diz.

Quanto à comunidade LGBT+, André conta ser difícil encontrar pessoas que se identifiquem no país. Assim como no Catar, o Marrocos proibe a relação entre pessoas do mesmo sexo. "Ainda não vi ninguém (LGBT+) e não acho que irei ver muitas pessoas".

FRANÇA X MARROCOS

Para chegar na final, Marrocos vai precisar superar a atual campeã França, nesta quarta-feira, às 16h. O adversário não poderia ser mais especial, tendo em vista que a maior comunidade marroquina fora do país fica no país europeu. O Marrocos conquistou sua independência apenas em 1956.

"O povo está encarando esse duelo de forma muito amistosa entre esses dois países. Tem uma maior comunidade fora do Marrocos na França e também os franceses aqui."

Estadão
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