KTM prega cautela, mas diz que é "revigorante" trabalhar com Red Bull na aerodinâmica
Chefe da divisão esportiva da KTM, Pit Beirer comemorou a chance de explorar o conhecimento da equipe de aerodinâmica da Red Bull na Fórmula 1 para trabalhar na evolução da RC16. O dirigente avaliou que, ainda que veja o intercâmbio entre as duas categorias de maneira salutar, é preciso ter em mente que a elite do automobilismo tem muito mais dinheiro, o que inviabiliza a aplicação integral de todas as ideias
A KTM procurou uma ajuda de peso para melhorar a aerodinâmica da RC16 para a temporada 2023 da MotoGP: a Red Bull. Isso mesmo, a equipe da Fórmula 1. E, de acordo com Pit Beirer, o chefe da divisão esportiva da marca austríaca, o trabalho tem sido revigorante.
Mesmo com duas vitórias na temporada 2022 — ambas de Miguel Oliveira — e o segundo no Mundial de Equipes, a casa de Mattighofen não fechou o último campeonato muito satisfeita, já que ficou atrás de Ducati e Aprilia. A avaliação da equipe foi de que a aerodinâmica foi o ponto fraco e, por isso, a Red Bull surgiu como ponto de resgate.
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A KTM é patrocinada pela gigante dos energéticos e tem trabalhado com o time da equipe da Fórmula 1 em Milton Keynes, na Inglaterra, para desenvolver o pacote da RC16 para 2023.
"A maneira de integrar é bem simples: eles desenvolvem o pacote aerodinâmico e nós colocamos na moto", disse Beirer em entrevista à revista britânica Autosport. "Não vou te dizer nenhum detalhe sobre como trabalhamos, mas posso dizer que tem sido uma experiência incrível para nós", seguiu.
Na definição de Beirer, a experiência tem sido "revigorante", mas não se trata de uma solução imediata. É um programa de longo prazo.
"Encontramos algumas ótimas pessoas do lado deles e, desde que começamos a trabalhar, tem sido muito revigorante. E as ideias que eles têm, o estilo profissional de trabalho e o conhecimento puro é incrível", elogiou. "Então estamos curtindo muito essa relação. Não é para solucionar rapidamente uma coisa, é, definitivamente, um programa de longo prazo em que eles vão nos ajudar a desenvolver a aerodinâmica da moto", explicou.
"Então estou realmente feliz e sinto que tê-los ao nosso lado é uma parte importante do nosso futuro quebra-cabeças", comentou. "Se você olhar para o nome do projeto, está escrito Red Bull. Então somos nós juntos, mas nós nunca realmente abrimos a porta para transferir tecnologia daquele lado. Então isso é realmente novo e isso é realmente fantástico neste momento", comemorou.
A influência da Fórmula 1 na MotoGP tem sido crescente nos últimos anos. A Aprilia, por exemplo, hoje é comandada por Massimo Rivola, que foi diretor-esportivo da Ferrari. Desde que assumiu o posto na casa de Noale, o italiano trouxe outros engenheiros do mundo do automobilismo ao paddock, o que ajudou a acelerar a evolução da RS-GP.
No ano passado, a Yamaha também contratou o serviço de consultoria de Luca Marmorini, ex-chefe de motores da Ferrari, que também chegou a trabalhar com a Aprilia.
Beirer avalia que, apesar de essa ser uma tendência, é preciso ter cuidado para preservar a identidade do esporte.
"Devemos ter cuidados, pois na Fórmula 1 você pode colocar um zero extra em qualquer projeto, então eles trabalham com uma situação orçamentária e de poder completamente diferente. Assim, onde nós temos dez pessoas, eles têm mais de 100. Então o resultado é muito diferente", ponderou.
"Devemos ser muito cuidadosos, pois olhar para um projeto da Fórmula 1 como um chefe da MotoGP é como uma criança em uma loja de doces", comparou. "Tudo que você vê é muito legal e muito profissional e você quer incorporar. Mas se você traz, para trazer todos os detalhes, você precisa decuplicar o orçamento", alertou.
"Isso não é realista. Então temos de ser muito cuidadosos para tentar não copiar a Fórmula 1 no que fazemos na MotoGP. É um mundo diferente", assumiu. "A Fórmula 1 é a Fórmula 1, e acho que a MotoGP não deveria entrar em uma competição com a Fórmula 1", defendeu.
Beirer frisou que a briga hoje é para que a MotoGP não tenha um regulamento que seja permissivo demais no quesito aerodinâmica, mas deixou claro que, se as regras hoje permitem, a KTM também vai jogar neste campo.
"Deveríamos curtir ser o esporte número um em duas rodas. É por isso que, por um lado, estamos brigando com o regulamento para não mergulharmos fundo demais", observou. "Mas as regras são o que elas são, então temos de usar o que podemos", defendeu.
"Acho que é revigorante ter algumas pessoas da F1 no paddock, mas uma moto não é um carro, então é preciso pensar diferente. É preciso pessoas realmente com a mente aberta para se adaptar ao mundo das motos, mas isso também é interessante", falou Beirer. "Somos todos maníacos por corridas, eles amam corridas de moto, nós amamos Fórmula 1. Sim, é bom ter essas pessoas da F1 no paddock, mas temos de ter cuidado com o dinheiro que usamos", encerrou.
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