Endrick, Tabata ou Giovani? Conceito tático indica escolhas de Abel no Palmeiras
Escolhas mostram que o treinador usa as características do elenco em favor do próprio grupo
Com o trabalho mais longevo entre os principais clubes do país, Abel Ferreira tem no Palmeiras uma vantagem que poucos treinadores do mundo possuem: realizar mudanças profundas em sua equipe com poucas alterações de peças.
A entrada de Bruno Tabata na vitória por 1 a 0 diante do São Bernardo, pelas quartas de final do Paulistão, é um belo exemplo disso. E o conceito de superioridade no futebol nos ajuda a entender o que foi feito pelo técnico palmeirense.
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Atualmente, são conhecidos cinco tipos de vantagens no futebol:
- Numérica: ter mais jogadores que o seu adversário em uma zona do campo;
- Técnica: ter jogadores melhores que o seu adversário em uma zona do campo;
- Posicional: ter jogadores melhor posicionados que o seu adversário em uma zona do campo
- Cinética: é a vantagem obtida quando seu jogador consegue se movimentar antes que seu adversário (exemplo: o impulso para uma cabeçada no escanteio);
- Sócioafetiva: ter jogadores melhor entrosados que seu adversário em uma zona do campo.
As três primeiras ajudam a explicar a escolha de Abel.
Um dos motivos da ótima campanha feita pelo São Bernardo no estadual estava na formação com uma linha de cinco defensores. Como padrão, a equipe de Marcio Zanardi induzia o adversário para o lado do campo e tentava gerar superioridade numérica para recuperar a posse. Lateral, zagueiro, volante e ponta do lado da jogada eram os responsáveis por pressionar a bola.
Sabendo disso, Abel escolheu Tabata com duas intenções claras: garantir que o time não perderia a bola quando pressionado, através da qualidade (superioridade técnica), e deixar o zagueiro de sobra do São Bernardo em situação de 1x1 contra Rony, que teria total liberdade para correr de frente para o gol (superioridade posicional). Abel detalhou na coletiva pós-jogo:
- O meia interior do lado da bola (Menino de um lado e o Veiga do outro) tinham que ajudar os pontas (Dudu e Tabata) para fazer combinações com o lateral, que estava por fora. Preferimos abrir bem a linha de cinco e ter jogadores chegando de trás para frente: nosso centroavante, o ponta e o meia do lado contrário à bola, algumas vezes o Menino e outras vezes o Veiga.
Mas se a intenção era abrir a linha de cinco defensores, por que não usar a velocidade e habilidade de Giovani? A resposta está no histórico de Tabata, que jogou seis anos na Europa e está acostumado ao ataque posicional, estilo adotado pelo Palmeiras desde a chegada da comissão técnica portuguesa. É um dos jogadores do elenco que melhor lê os espaços do campo, e mais: faz tanto a ponta quando o meio, como ele mesmo declarou.
- Eu sou um meia que joga pelos lados, consigo combinar bem o meio-campo com os laterais e, algumas vezes, ser um pouco agudo. Eu fiz isso a minha carreira inteira. Enfim, o Abel sabe onde pode contar comigo, sabe das minhas características - disse o jogador após a classificação palestrina.
Assim Tabata daria ao Palmeiras a superioridade técnica e, principalmente, posicional que o time tanto precisava para sustentar sua proposta: deixar Rony sempre de frente para o gol contra somente um zagueiro.
Com relação a Endrick, o comandante do Verdão também explicou, e citou a palavra mágica do jogo: vantagem.
- Quando jogou, formávamos dois centroavantes: Rony de um lado e Endrick de outro. Se nós colocássemos o Endrick na frente, seria fácil para a marcação: 3 zagueiros para 2 atacantes, com a sobra de um zagueiro. Um zagueiro marcando a bola e outro marcando o Endrick. Com o tamanho que estes zagueiros têm, não tiraríamos tanta vantagem.
De maneira prática: com Endrick no lugar de Tabata, o Palmeiras não tiraria os defensores adversários da zona de conforto, perderia as superioridades técnica e posicional pelos lados e correria o risco de perder a posse facilmente diante da superioridade numérica do São Bernardo na zona da bola.
Para a semifinal, o Ituano joga em outro sistema, um 4-3-3, com ajuda dos atacantes de lado para fechar o meio-campo. Sem a necessidade de abrir uma defesa com cinco jogadores, Abel pode optar pelo retorno de Endrick, em dupla com Rony para sobrecarregar zagueiros e volantes, ou de Giovani, colocando velocidade em cima das marcações dobradas pelos lados. Qualquer que seja a escolha, o jogo contra o Bernô mostrou que Abel sabe utilizar como poucos as peças que tem.