Polícia reconstitui morte de Gabriela Anelli, com drones e scanners 3D, e ouve novas testemunhas
Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) assume o caso e tenta encontrar quem atirou a garrafa cujos estilhaços mataram a jovem torcedora do Palmeiras
A Polícia Civil fez uma reconstituição virtual da morte da palmeirense Gabriela Anelli, vítima de mais um episódio de violência associada ao futebol no último dia 8 deste mês, no entorno do Allianz Parque, depois que torcedores de Palmeiras e Flamengo brigaram horas antes da partida entre as equipes.
Por determinação da Justiça de São Paulo, o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) assumiu na última sexta-feira o caso, que antes estava com a Delegacia de Polícia de Repressão aos Delitos de Intolerância Esportiva (Drade).
O DHPP está analisando imagens da briga que resultou na morte da jovem palmeirense de 23 anos e busca novas filmagens que possam mostrar o exato momento em que a torcedora do Palmeiras foi atingida em seu pescoço pelos estilhaços de uma garrafa de vidro.
Segundo a delegada Ivalda Aleixo, chefe do DHPP, a polícia também ouviu novas testemunhas. "Estamos analisando todas as possibilidades", afirmou Ivalda ao Estadão, sobre a investigações que tentam encontrar quem atirou a garrafa cujos estilhaços atingiram o pescoço de Gabriella Anelli.
O DHPP não partiu do zero para investigar o caso. Na verdade, deu prosseguimento ao trabalho feito anteriormente pela Drade, chefiada pelo delegado Cesar Saad. Segundo Ivalda, já foi possível, desde a última sexta-feira, captar novas imagens, de antes e também durante a briga.
Os trabalhos foram intensificados no último sábado, dia 16, quando equipes do DHPP e da perícia criminalística da Polícia Civil estiveram na rua Padre Antônio Tomás, uma das que cercam o Allianz Parque, onde Gabriela foi morta.
Conforme a Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP), na reconstituição foram utilizados scanners 3D e drones no local do crime. De acordo com a SSP, essa abordagem tecnológica "permitirá uma análise mais precisa dos fatos e contribuirá para uma melhor compreensão dos eventos ocorridos". Na segunda-feira, dois guardas civis foram ouvidos.
Quem matou Gabriela Anelli?
Imagens que circulam nas redes sociais mostram ao menos dois torcedores, um flamenguista e um palmeirense, atirando garrafas durante o tumulto. Um vídeo gravado pela ESPN exibe um homem de barba e camiseta clara lançando uma garrafa em direção aos torcedores do Palmeiras que estavam do outro lado de uma divisão de metal que separava as torcidas. Na mesma gravação, Gabriela aparece tentando entrar na área destinada aos torcedores do Flamengo.
De acordo com a delegada Ivalda, esse homem de barba não é o principal suspeito, mas um deles. Outras imagens mostram um torcedor do Palmeiras, com uma mochila nas costas e vestindo a camisa verde do time, arremessando o que parece ser uma garrafa de vidro. O objeto explode na proteção de metal que dividia as duas torcidas. Gabriella Anelli aparece na parte de cima da tela, de jaqueta branca e calça azul marinho.
Flamenguista preso e solto
O flamenguista Leonardo Felipe Xavier Santiago, ex-integrante de uma organizada ligada ao clube, a Fla Manguaça, chegou a ser preso em flagrante no dia do crime, mas foi solto na última quarta-feira por fragilidade de provas, como apontaram o Ministério Público de São Paulo e a juíza Marcela Raia de Sant'Anna. A magistrada que determinou a soltura de Santiago afirmou, em sua decisão, que o delegado que vinha investigando o caso, Cesar Saad, "se mostrou açodado e despreparado para conduzir as investigações".
Saad declarou reiteradas vezes publicamente que Santiago tinha confessado, em conversa informal com os policiais, ter atirado a garrafa que feriu e matou Gabriela. No entanto, no interrogatório na delegacia, Santiago deu outra versão. Ele disse que palmeirenses jogaram rojões em direção à torcida do Flamengo e que, como revide, resolveu lançar pedras de gelo, "mas essas eram muito pequenas e não atingiram sequer a barreira" de metal que separava torcedores locais e visitantes.
O crime
O fato aconteceu por volta das 17h45, mais de três horas meia antes do início do jogo entre Palmeiras e Flamengo, perto dos portões C e D do Allianz Parque, na rua Padre Antônio Tomas. Havia uma proteção de metal para separar os flamenguistas dos palmeirenses, mas ela não foi suficiente para evitar a morte da torcedora, e foi muitas vezes aberta, dando brecha para que os torcedores arremessassem pedras e garrafas.
Vídeos mostram, de fato, a divisória de metal aberta para a passagem de uma viatura da Guarda Civil Metropolitana (GCM) e palmeirenses e flamenguistas arremessando garrafas por entre esse vão e também por cima da proteção. As imagens evidenciam que havia pouco policiamento no momento da briga.
Somente uma viatura da GCM estava próxima, mas, segundo a PM informou ao Estadão, o policiamento na região do estádio e nas ruas adjacentes era realizado pelo 2º Batalhão de Polícia de Choque (BPChq) no momento do incidente. Saad afirmou, na verdade, que a PM chegou às 19h no local, duas horas antes do jogo.
Gabriela foi socorrida no posto de atendimento do Allianz. Ao ser constatada a gravidade dos ferimentos, ela foi encaminhada à Santa Casa, onde ficou internada e passou por cirurgia. A palmeirense teve duas paradas cardiorrespiratórias, ficou em coma induzido e morreu na madrugada do dia 10.
A torcedora do Palmeiras foi enterrada na última terça-feira em Embu das Artes, na Grande São Paulo, em cerimônia marcada por dor, emoção e pedidos de paz de familiares e amigos da palmeirense, que "vivia" o time alviverde, segundo contou o pai, Ettore Marchiano Anelli. "A balada dela era o Palmeiras. Meninas de 23 anos gostam de outras coisas, ela gostava do Palmeiras. Era apaixonada demais".