Era jogo-treino? Estreia da Argentina tem silêncio bizarro
Quem foi a um jogo da Argentina na última Copa do Mundo e esteve presente na estreia da seleção na Copa América neste sábado, que terminou com um decepcionante empate diante do Paraguai em La Serena, podia facilmente ser convencido de que a partida se tratava de um jogo-treino. Ao contrário da festa e da cantoria, o silêncio absoluto reinou no Estádio La Portada durante a maior parte dos 90 minutos, dando a impressão de que o duelo não valia nada e possibilitando escutar até quando o vendedor de amendoins gritava do outro lado da arquibancada.
Segundo informações do diário Olé, cerca de 1.500 "barras bravas" – os torcedores organizados da Argentina – estão fichados e proibidos de ingressar no Chile nesta Copa América. E certamente eles não estiveram no La Portada. Apesar de alguns cantos tímidos antes do jogo, a torcida alviceleste, que compunha a maioria da lotação do estádio, ficou quase sempre calada de uma forma totalmente incomum.
A atmosfera era mesmo de um treino. Quando os jogadores batiam na bola, o som podia ser ouvido com clareza. Até mesmo gritos dos jogadores eram escutados perfeitamente: Mascherano corrigindo o posicionamento de Otamendi, Valdez reclamando de uma marcação de lateral, Paulo da Silva orientando seus companheiros de defesa. Nem quando o Paraguai começou a pressionar no segundo tempo a situação mudou.
A torcida logo passou a usar o silêncio para fazer piadas com o técnico do Paraguai, o argentino Ramón Díaz. Os compatriotas gritaram para que o treinador tirasse o time da retranca e provocaram depois que Agüero abriu o placar, causando risadas em boa parte do público. Outro torcedor fez ainda mais sucesso ao pedir a Tevez que voltasse para o Boca Juniors quando o atacante foi aquecer.
Aliás, o gol de Agüero, aos 28min, foi a primeira ocasião em que os argentinos cantaram uma de suas tradicionais músicas: "vamos vamos, Argentina... vamos vamos, a ganar"... Mas a festa não durou nem um minuto, e o silêncio logo voltou a tomar conta. Em outros momentos do jogo - especialmente quando Messi tinha um momento genial -, uma parte do estádio até tentava puxar outra canção e era seguida pelo restante, mas o refrão mal chegava ao fim e todos já estavam calados de novo.
O momento de maior vibração das arquibancadas veio mesmo dos chilenos: no segundo tempo, um grupo puxou o tradicional "Chi-chi-chi, le-le-le, viva Chile!" e arrancou apalusos de quase todo o La Portada. Já o gol de empate do Paraguai, marcado por Barrios nos minutos finais, fez a pequena torcida paraguaia festejar, mas também de forma tímida.
Pode ter sido um público pouco frequente a jogos de futebol, pode ter sido o frio da noite de La Serena. Mas o fato é que, para quem está acostumado ao show de torcida que os argentinos costumam dar, foi bizarro ouvir mais o "tio do amendoim" do que os gritos e cânticos apoiando a seleção.