Paraná - 25 anos: o "clube dos anos 2000" se perde no tempo
Clube paranaense está desde 2008 na Série B e vive crise financeira
O slogan do Paraná Clube, na fusão entre Colorado e Pinheiros, era o "clube do ano 2000". Mas, curiosamente, foi a partir de então que a situação paranista foi complicando cada vez mais. No especial do Terra sobre os 25 anos de história, o clube vira o século e começa a decadência pelas más gestões e falta de visão na "época de ouro".
O último acesso à elite do futebol
Após o pentacampeonato, o Paraná passou em branco em 1998 e 1999. Para piorar, perdeu duas finais no primeiro semestre, diante do Grêmio pela Copa Sul, no Pinheirão abarrotado de paranistas, e para o Coritiba no Campeonato Paranaense, no mesmo estádio, em uma campanha em que perdeu apenas um jogo – o primeiro da final. E, em uma fórmula contestada até os dias atuais, caiu para a Série B após a média de pontos dos dois anos, não conseguindo retornar nos bastidores com a criação da Copa João Havelange.
Assim, sem muitos recursos, teve que olhar para dentro do clube. Apostando em garotos das categorias de base, como o goleiro Marcos, o zagueiro Ageu, o meia Lúcio Flávio e o atacante Márcio Nobre, além da experiência de jogadores como o líbero Nem, o ala Gil Baiano e o volante Helcio, o Paraná levou a melhor na disputa da final do Módulo Amarelo contra o São Caetano.
Assim, o time dirigido pelo técnico Geninho, que chegou durante a competição depois de um início muito ruim, se credenciou para a disputa das oitavas de final da competição. Depois de bater o Goiás nesta fase com empate em casa e vitória por 3 a 0 no Serra Dourada, foi eliminado nas quartas pelo Vasco da Gama, com muita reclamação sobre a arbitragem. "Naquele ano vivemos uma grande fase. Para se ter ideia, tínhamos no banco de reservas atletas como o zagueiro André Dias e o volante Fredson, que mais tarde foram para o São Paulo. Fomos campeões da divisão que era equivalente à Série B na época e depois poderíamos ter ido mais longe, pois perdemos muitos gols contra o Vasco e o juiz nos atrapalhou", relembrou Lúcio Flávio.
Só que boa parte desse time foi embora, assim como o técnico que arrumou o elenco dentro de campo. E esta passou a ser a tônica paranista nos anos 2000. Contratar diversos atletas e, ao longo da temporada, ir desmontando a equipe e formando outra. Sem planejamento algum e gastando o que não pode.
O gigante se apequenou
Com a crise financeira, o clube virou refém de empresários e, mesmo sendo um grande formador de atletas, não soube entender a Lei Pelé. Ainda assim, teve bons momentos, como nos Campeonatos Brasileiros de 2003 e de 2005, quando formou times interessantes com nomes como os dos meio-campistas Marquinhos e Thiago Neves e os atacantes Renaldo e Borges. Entretanto, a melhor época foi a de 2006, quando foi campeão paranaense após jejum de nove anos e conquistou a classificação à Copa Libertadores.
O bom desempenho em campo e o retorno à Vila Capanema, que passou por um processo de revitalização, faziam a torcida sonhar com voos maiores. A participação na Libertadores – ficou em 5º colocado na Série A de 2006 – foi bem satisfatória por ser a primeira vez, pois o time chegou até as oitavas de final, caindo diante do Libertad-PAR. Mas depois disso a temporada foi horrorosa: perdeu o título estadual para o Paranavaí em casa e foi rebaixado à Série B. "A equipe tropeçava, mas o foco do clube era todo na parte política, com as denúncias de corrupção do então presidente Miranda", apontou Saulo, relembrando a polêmica com a empresa LA Sports, parceira na época.
Mesmo com a queda, o clima entre os torcedores não era de terra atrasada. Todos acreditavam que o clube voltaria com facilidade, assim como foi em 2000. A torcida se orgulhava de dizer que “time grande cai e volta no ano seguinte”. Mas não sabiam, internamente, que o clube estava pequeno havia anos. O Paraná está até hoje na Série B. E para falar bem a verdade, se aproximou mais de uma nova queda do que de alcançar o almejado acesso. O descenso quase ocorreu em 2008, 2009 e em 2014, enquanto a briga para subir se resumiu, verdadeiramente, a 2013.
A página sombria na história
Mas isso nem de perto se compara ao vexame do primeiro semestre de 2011. Com a ambição de colocar as contas em dia, o Paraná apostou em um elenco baratíssimo para a disputa do Campeonato Paranaense (haviam titulares ganhando R$ 1 mil, e o mais caro recebia R$ 20 mil). Só que o barato saiu muito caro, com o rebaixamento à Divisão de Acesso do Estadual, na página mais triste da história tricolor.
Quem teve a missão de reerguer o clube foi Ricardinho, ídolo da torcida e certamente o jogador mais importante a vestir as cores do clube. Só que o atleta campeão mundial pela Seleção Brasileira em 2002 surpreendeu: decidiu pendurar as chuteiras após passagem apagada no Bahia e assumiu o comando técnico do time. A primeira missão foi a de reerguer a equipe à elite estadual, cumprida com êxito. Porém, a de recolocar o clube paranaense no cenário principal do futebol nacional não conseguiu ser bem sucedida, nem em 2012 e nem em 2014, quando retornou em setembro. "O Paraná vive um momento difícil. Não adianta ele querer subir por subir. Ele precisa de uma reestruturação, para aí sim pensar em subir e ficar na Série A", afirmou Ricardinho.
O problema estrutural, aliás, tirou mais uma vez o ídolo do clube. Com atrasos salariais constantes, que iniciaram em 2008, o comandante abriu mão de comandar a equipe do coração para ir trabalhar no Santa Cruz. "Para o Paraná nunca é um adeus, e sempre um até logo", despediu-se.