Promotoria espanhola retira acusações contra Neymar em julgamento sobre fraude fiscal. Relembre o caso!

Nesta sexta-feira (28), a promotoria espanhola retirou as acusações de corrupção e fraude contra Neymar e os outros réus no processo aberto sobre irregularidades na transferência do craque do Santos para o Barcelona, em 2013. Relembre o caso.

Em 2009, pouco tempo após a estreia de Neymar pela equipe profissional do Santos, aos 17 anos, o grupo DIS, fundo de investimento esportivo pertencente aos proprietários da rede de supermercados Sonda, comprou 40% dos direitos do atacante por € 2 milhões, em uma modalidade de negociação permitida pela FIFA à época.

Em 2011, o Santos convoca uma entrevista coletiva para anunciar a renovação de contrato com Neymar até 2014. À época, o jogador já era campeão da Copa do Brasil, da Libertadores e se preparava para disputar o mundial com o Santos. Neymar já era reconhecido como craque, não mais como promessa. A permanência do atacante foi considerada uma grande vitória para o time praiano, que afastava, pelo menos instantaneamente, o assédio dos europeus em cima do jogador.

Em maio de 2013, Neymar anunciava a sua transferência para o Barcelona. O Santos divulgou a venda no valor de € 17,1 milhões, o equivalente a R$ 54,68 milhões na época. 405 desse valor deveria ser pago o Grupo DIS. Neymar Pai, o pai de Neymar, deu entrevistas declarando que existiam seis propostas na mão do jogador, mas que a disputa estava entre Real Madrid e Barcelona, com o jogador dando preferência para o Barcelona por afinidade com o ‘estilo de jogo’ do time.

O problema começou quando o Barcelona divulgou que foram desembolsados € 57 milhões na contratação do jogador, o que daria aproximadamente R$ 182,2 milhões. Josep Maria Bartomeu, vice presidente do Barça à época, ainda afirmou que a proposta do clube não era a maior que Neymar tinha em mãos, e que o desejo do jogador pesou para um desfecho positivo. O Santos, presidido no período por Odílio Rodrigues (foto), continuava afirmando que recebeu apenas o valor de € 17,1 milhões.

Com os desencontros nos valores divulgados entre Santos e Barcelona, clube de Bartomeu (foto), o ministério público da Espanha decidiu investigar a transação, baseados em uma denuncia de que o valor da transferência teria sido ainda maior que o divulgado pelo clube catalão: € 74 milhões, ou R$ 236,6 milhões. Em janeiro de 2014, o jornal ‘Mundo Deportivo’ publicou uma matéria em que o suposto valor da transferência aumentava ainda mais: € 95 milhões.

Essas diferenças foram a gota d’água para o Grupo DIS, que notificou Santos, Barcelona e Neymar Pai, logo após Bartomeu declarar que o valor correto da transação teria sido de € 86,2 milhões, sendo que € 61,2 milhões teriam ido diretamente para Neymar e sua família. A alegação é de que os valores foram fraudados para prejudicar os ganhos do grupo de investimentos.

Com o decorrer das investigações, o MP foi chegando à conclusão que havia uma espécie de ‘pré-acordo’ entre Neymar e Barcelona, clube presidido por Sandro Rosell (foto), com uma série de transações feitas através de outras atividades.

A diferença de mais de € 61 milhões divulgada por Bartomeu teria sido repassada à empresa N&N - iniciais de Neymar e Nadine, pais do atacante e responsáveis por gerir a carreira do jogador. Esses valores seriam direcionados a uma série de outras atividades de administração exclusiva da família de Neymar e o Santos, sem nenhuma relação com o Grupo DIS.

Entre essas atividades, estariam pagamentos pelos amistosos marcados entre Santos e Barcelona (foto), pagamentos pela preferência de compra de jogadores da base santista, pagamento de bônus, direitos de imagem e luvas para Neymar, comissões para agentes, e até mesmo acordos entre o Barcelona e a Fundação Instituto Neymar Jr.

Na ação que corria na justiça espanhola, a promotoria pedia uma sentença de cinco anos de prisão e o pagamento de uma multa de € 10 milhões. Se condenado, Neymar seria proibido de jogar futebol profissionalmente. Por sua vez, o Grupo DIS esperava uma sentença de cinco anos de prisão para o jogador.

O julgamento do atacante começou no dia 17 de outubro e se estendeu até o dia 28 de outubro, e durou 12 dias. Neymar prestou depoimento, mesmo sem obrigatoriedade de presença no tribunal, no dia 18 de outubro.

Neymar, Neymar Pai, Nadine Santos (mãe de Neymar), Sandro Rosell (ex-presidente do Barcelona, preso em 2017, acusado por lavagem de dinheiro e absolvido em setembro) e Josep Maria Bartomeu (preso em 2021 e solto após um dia em processo que investigava a contratação de empresas de desinformação em massa) são réus no processo.

Em breve depoimento na terça-feira (18), segundo dia do julgamento, o atacante chegou a dizer que apenas assinava o que seu pai dizia, fato confirmado pelo próprio pai do jogador: 'Neymar nunca participa das negociações'.

Um dos momentos mais aguardados do julgamento foi o depoimento de Florentino Pérez, presidente do Real Madrid, falando sobre como o acordo secreto entre Neymar e Barcelona influenciou o mercado do futebol. Como o próprio pai de Neymar disse em 2013, o jogador escolheu o Barcelona, algo confirmado por Bartomeu. Florentino Pérez disse que o clube da capital chegou a oferecer € 45 milhões pelo atacante, mas que no fundo, os jogadores acabam indo mesmo para onde querem.

Após 12 dias de julgamento, a promotoria espanhola retirou as acusações contra Neymar, seus pais, Sandro Rosell, Josep Maria Bartomeu, Odílio Rodrigues Filho e as pessoas jurídicas do FC Barcelona, Santos FC e a empresa fundada pelos pais de Neymar para administrar a carreira do jogador.

A definição do caso é um alívio para Neymar, que agora foca as atenções para a Copa do Mundo do Qatar, em novembro deste ano. A estreia do Brasil será no dia 24, contra a Sérvia.