Rebeca Andrade repete atuação da ginástica no curso de psicologia e tira notas altas na faculdade
Campeã olímpica está no terceiro semestre do curso, revela média 9 e comenta relação dos estudos com a preocupação com sua saúde mental decorrente da pressão por resultados
Rebeca Andrade é o maior nome da história da ginástica artística brasileira. Com um ouro no salto e uma prata no individual geral nos Jogos Olímpicos de Tóquio, a atleta se tornou a primeira da história do Brasil a chegar ao pódio de uma Olimpíada na modalidade. Sobre o feito, Rebeca não esconde que uma das razões que a fizeram chegar tão longe está na preocupação com a saúde mental, que também despertou uma paixão: a psicologia. Ela viu de perto o drama da americana Simone Biles nos Jogos do Japão, quando abandonou algumas provas por não se sentir preparada mentalmente.
Após as conquistas na última Olimpíada, Rebeca Andrade buscou unir partes do seu mundo e se colocou em um novo desafio. Fazendo uso de uma bolsa de estudos oferecida pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB), a ginasta passou a cursar a faculdade de psicologia. A rotina de estudos do terceiro semestre do curso é feita de maneira concomitante com os treinos, e a atleta vem conseguindo se sair bem em tudo. Sua rotina requer muita obstinação.
"Eu treino de manhã e de tarde e faço a faculdade presencial à noite. É corrido, muito cansativo, mas prazeroso. Apesar dos treinos e das competições, minha média está em 9, o que é bem alta e fico muito feliz todas as vezes que vejo essa nota. A minha psicóloga me influenciou, sim, na escolha e sou muito feliz com ela, amo a psicologia", disse a atleta já em fase de preparação para os Jogos de Paris.
Fazendo uma análise dos últimos anos e projetando o futuro e o que deseja, Rebeca mostra que soube caminhar durante a carreira no esporte e valoriza cada momento.
"A Rebeca que saiu de casa aos 10 anos não tinha a confiança de que poderia conquistar tudo que conquistou, mas isso aconteceu com o passar dos anos, foi uma construção. Com o meu tratamento psicológico, consegui encontrar e construir uma Rebeca mais empoderada, mais forte, mais aberta para falar e se posicionar. Penso que não quero mudar nada para o futuro, mas amadurecer e melhorar cada vez mais", disse a ginasta.
SAÚDE MENTAL
"Eu saí de casa muito cedo, com 10 anos, e entendi o que era pressão e rotina de atleta cedo também. Lógico que existe toda a dedicação, treino, tudo, mas vejo que a minha preparação mental me ajudou muito a chegar onde cheguei. Estou com a minha psicóloga, Aline Woff, há mais de dez anos e sei que as conquistas vieram, porque consegui equilibrar o mental e o físico", comentou a medalhista olímpica.
Além de ser um marco na carreira de Rebeca Andrade, a Olimpíada de Tóquio trouxe um novo olhar para a saúde mental dos atletas de alto rendimento. O maior símbolo desse momento foi Simone Biles.
Maior nome da ginástica artística nos Jogos Olímpicos no Japão e candidata a ser o maior nome da competição, a americana optou por se retirar da maioria das disputas por entender que era necessário dar um passo atrás e lidar melhor com a pressão por resultados em sua cabeça. Ela não estava bem e não se furtou em admitir isso em meio à competição.
A decisão de Biles "ajudou" Rebeca Andrade a chegar mais alto nos pódios do Japão, mas também abriu os olhos do mundo para a relação entre o esporte de alto rendimento e a questão mental. Há uma conduta dos atletas antes de Biles e depois dela. A saúde mental entrou, de fato, na rotina dos competidores de alta performance. Rebeca entendeu isso muito cedo.
BILES NÃO FOI A ÚNICA
A escolha de Simone Biles teve impacto no mundo todo, mas não foi a única. Durante os últimos anos, principalmente após a volta das competições após a pandemia da covid-19, alguns atletas reconheceram que era necessário parar um momento para seguir. Uma delas foi Naomi Osaka.
Líder do ranking mundial em 2019 e dona de dois títulos de Grand Slam, a tenista japonesa assumiu que sofreu com depressão durante algum tempo na carreira e decidiu que o melhor caminho era uma pausa nas competições.
A australiana Liz Cambage, do basquete, e a americana Sha'Carri Richardson, do atletismo, também admitiram que por conta de acontecimentos da vida pessoal passaram a precisar de medicamentos para lidar melhor com a pressão mental.
No Brasil, Gabriel Medina, do surfe, chegou a anunciar uma pausa temporária nas competições para conseguir lidar com problemas pessoas. Drussyla e Gabi Cândido, ambas do vôlei, foram diagnosticadas com síndrome do pânico e ficaram afastadas do esporte.
Em todos os casos, os atletas entenderam que era preciso, de algum modo, retomar o equilíbrio entre o mental, o físico e o técnico. Rebeca Andrade reconhece que a "virada de chave" a nível mundial só foi possível quando conseguiu este caminho.