Roger Machado, um técnico negro em destaque que vai virar tema de escola de samba em 2025
O técnico colorado será tema da Escola de Samba Imperatriz Dona Leopoldina no Carnaval 2025
Único técnico negro entre os 20 que comandam as equipes da elite do futebol brasileiro, Roger Machado tem se destacado não apenas pelos seus resultados à beira do campo, mas também pela sua postura firme no combate ao racismo no futebol e fora dele. O técnico colorado será tema da Escola de Samba Imperatriz Dona Leopoldina no Carnaval 2025.
"Penso que tivemos evoluções, o país começou a olhar para essa questão. Porém, vejo que os avanços ainda são pequenos. Para mim, o futebol amplifica, cristaliza e aponta o que somos como sociedade", declarou o técnico colorado ao ser perguntado sobre a data recentemente, após a vitória sobre o Fluminense.
Jogador de sucesso nos anos 1990, o ex-lateral não costuma esconder suas posições políticas, sobretudo sobre o racismo. Esse seu lado se tornou mais visível quando ele começou a assumir posições de comando como técnico, mas aflorou bem antes, nas conversas com a família, e foi crescendo ao longo dos anos com um hábito que ele cultiva, o da leitura.
Marcelo Carvalho, amigo de Roger e diretor executivo do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, organização que monitora e debate casos de racismo no esporte, destaca que a presença de Roger como técnico negro é uma exceção que confirma uma regra ainda muito presente: a falta de oportunidades para profissionais negros em cargos de comando.
"O futebol está descobrindo que o racismo não é só quando alguém chama uma pessoa negra de macaco. O racismo está quando a gente olha para os clubes e não vê pessoas negras no espaço de gestão em comando. Quando a gente não vê treinadores negros. O Roger hoje não é só uma inspiração para quem sonha ser jogador de futebol, ele é uma inspiração para quem também sonha ser treinador de futebol, ser gestor de futebol", afirma Carvalho.
As ações de Roger para mudar essa realidade não se limitam ao discurso. O treinador decidiu apoiar projetos relacionados ao tempo, como o "Diálogos da Diáspora", uma coleção de livros de várias áreas do conhecimento e que busca dar visibilidade a autores negros e indígenas. Já são 28 livros publicados.
"A gente vê cada vez mais alunos negros e indígenas no espaço universitário. E vimos que o mercado editorial não acompanhava essa evolução. Criamos esse projeto para abrir portas para esses futuros autores", explica Tadeu de Paula, professor da UFRGS e amigo de Roger.
Por tudo isso, a trajetória de Roger é uma das inspirações para o samba-enredo que a Imperatriz Dona Leopoldina levará para a avenida no carnaval de Porto Alegre em 2025. A ideia é simples, mas carregada de significado: contar a história de figuras que desempenharam um papel crucial na luta contra o preconceito racial.
Luiz Augusto Lacerda, carnavalesco da escola e primo de Roger, explica que a escolha do tema "A Cor do Futebol - A Imperatriz Marca um Gol Contra o Preconceito Racial" também reflete a maneira como ele vê o técnico: "Roger não se curva. É um técnico negro que se posiciona, é um técnico negro que mesmo apanhando o tempo todo, ele não se curva".
Roger terá um lugar de destaque no desfile da escola. É um reconhecimento à sua postura e ao seu papel na sociedade, motivo de orgulho para a comunidade negra.
"O Roger, ele deve hoje ser encarado como um lanceiro negro. O posicionamento do Roger é a ponta de uma lança. Hoje se faz muito necessário que ele grite. Nós estamos ao lado de um ser humano ímpar, consciente do seu papel na sociedade, e que é sim motivo de orgulho, não só para os seus próximos, mas para toda uma comunidade negra - conclui o carnavalesco".