Diego adia volta ao Santos e mira mais 3 anos na Europa por "sonho Copa"
Meia faz balanço da carreira e diz que amadureceu após uma década fora do Brasil
Diego tem uma ambição clara: voltar à Seleção Brasileira. O meia, 28 anos, desfruta da melhor fase no Wolfsburg, da Alemanha, sonhando tornar real o hoje distante desejo de disputar a Copa do Mundo que lhe falta na carreira. Em entrevista ao Terra, o camisa 10 adiantou que deseja permanecer na Europa por, pelo menos, mais três anos, frustrando o sonho do Santos de tê-lo para 2014. O alento é uma promessa: a garantia de "preferência" ao antigo clube quando voltar.
"Não é o meu grande objetivo nesse momento retornar ao Brasil. Eu não fecho as portas, também, sou grato ao futebol brasileiro por tudo o que me proporcionou. Deixo sempre em aberto (essa possibilidade) desde que vim para a Europa, mas realmente o meu objetivo é continuar aqui", disse o ex-santista. "Assinando agora um novo contrato seria isso. Permaneceria por três anos mais ou menos" completou.
Na Alemanha, Diego vive grande fase. Comanda o Wolfsburg na surpreendente quinta colocação no campeonato local após quase rebaixamento no último ano. Além disso, a recente convocação do amigo Robinho voltou a lhe darr esperanças.
"É uma motivação a mais (a convocação dele), pois é um amigo que tenho. Muito merecida a volta dele a Seleção. Eu, particularmente, fico feliz, pois sei que queria muito e trabalhou bastante para retornar. Vai ajudar muito a Seleção Brasileira. E, claro, vira uma motivação a mais pelo objetivo de reencontrá-lo por lá", afirmou.
Quase uma década após ir para o Porto ainda garoto, com 19 anos, Diego se diz mais "maduro taticamente" e argumenta que enfrentou concorrência muito acirrada para não ter se firmado na Seleção.
O aviso prévio de permanência do meia na Europa frustra os planos santistas que já sabem que, dificilmente, contarão com Robinho, que renovou contrato com o Milan, da Itália, após longas negociações na última janela de transferências.
A diretoria do Santos, que planeja um time forte e competitivo em ano eleitoral, seguirá em busca de nomes, enquanto Diego espera ansiosamente que Scolari olhe para além de Luiz Gustavo no Wolsburg. O destino de ambos, no entanto, provavelmente não caminhará junto.
Veja entrevista com o meia Diego, do Wolfsburg:
Terra - Gostaria que você falasse do seu momento no clube alemão. Vive fase suficientemente boa para voltar a Seleção? Segundo o site Who Scored, você está entre os cinco melhores do mundo em média de atuações.
Diego - Os números, muitas vezes, falam por si só. É muito positivo saber disso e acredito que seja até uma motivação para que eu possa continuar trabalhando cada vez mais. Meu momento é muito positivo pelo fato de estarmos entre os cinco primeiros na Bundesliga, que dá uma vaga para a Liga Europa, então é um momento muito bom. Joguei todas as partidas até agora, é bom fazer parte desse momento vitorioso da nossa equipe. Acredito ainda que pode melhorar, mas, nesse momento, estamos todos muitos satisfeitos e felizes.
Terra - Dá para dividir a sua passagem da saída do Felix Magath, com quem você teve problemas públicos, até o Klaus Allofs, que foi quem o contratou no Bremen. Muda muito da sua chegada mais conturbada até esse bom momento?
Diego - Acho que muda muito com relação à equipe, independentemente do Magath. Não vou responsabilizar uma pessoa pelos momentos difíceis que vivemos aqui no ano passado. Lutamos contra o rebaixamento, mas acho que a responsabilidade foi de todos que fizeram parte do projeto. Hoje a equipe vive um momento positivo, em que as coisas estão dando certo, então todos têm responsabilidade: dirigentes, o novo treinador e os jogadores. Com o Magath as coisas não fluíram. A equipe, realmente, não respondia, viveu um momento delicado e, com certeza, quando as coisas estão dando certo é tudo mais fácil para todo mundo. Vejo que a grande diferença é essa: o fato da equipe estar ganhando, vencendo.
Terra - E você entrou nos seus 12 últimos meses contrato, justamente, nessa fase no clube. Pensa em renovar? Acha que já é o momento de voltar ao País?
Diego - Não descarto. Não é o meu grande objetivo nesse momento retornar ao Brasil. Eu não fecho as portas, também, pois sou grato ao futebol brasileiro por tudo o que me proporcionou. Deixo (essa possibilidade) sempre aberta desde que vim para a Europa, mas, realmente, o meu objetivo é continuar aqui. Não descarto continuar no Wolfsburg, porém esse momento é de trabalho e a decisão de ficar, ou não, será tomada mais para frente. Com certeza tem que partir do clube.
Ainda temos tempo para ver que rumo vai tomar a equipe nesta temporada e, a partir daí, precisamos decidir o que é melhor para o clube, o que é melhor para mim e, com certeza, nós vamos chegar a um acordo. Sou bem otimista com relação a futuro. Acho que o importante é a equipe estar vencendo e no final ficará bom para todos. Nesse momento tenho procurado me concentrar nos jogos da Bundesliga e chegará o momento que precisará ser tomada essa decisão.
Terra - Mas já fizeram uma oferta para essa renovação contratual? Você tem sido procurado por outros clubes?
Diego - Existem possibilidades. Não tive contatos e nem ofertas oficias de outros clubes, mas as possibilidades existem, por isso é complicado falar, citar nomes de clubes, principalmente sendo possibilidades. O meu pai (Djair Cunha) é o meu empresário, é o responsável por essa parte, e até o momento não conversamos sobre isso. Falamos sobre a temporada e com relação ao projeto. A renovação, caso aconteça, será o próximo passo. Esse momento ainda não chegou. A situação, por enquanto, é de me dedicar somente aqui. O momento vai chegar em breve, aí sim veremos o que vamos fazer.
Terra - Você diz que prioriza a Europa, mas tem um projeto? Ficar por mais três anos, por exemplo? Pensa em voltar antes disso?
Diego - Assinando, agora, um novo contrato seria isso, três anos mais ou menos. Mas como disse não é uma certeza. A partir daí muitas coisas podem acontecer. Gostaria, sim, de um dia voltar a jogar no Brasil, mas não penso nesse momento. Vai depender muito das oportunidades lá na frente para ver que decisão tomar.
Terra - Se voltar, vai dar preferência ao Santos ou a melhor proposta?
Diego - Eu tenho um carinho especial para o Santos e, sem dúvida, eu daria essa prioridade. Mas, como sempre digo, isso precisa ser recíproco. Havendo essa mesma reciprocidade as coisas vão ser facilitadas. Tenho um carinho pelo Santos e, caso um dia eu volte, podemos conversar para tentar chegar a um acordo. Claro que essa prioridade não garante um acordo.
Terra - E esse teu profissionalismo não impediria, por exemplo, que você atuasse por um rival? Você descartaria jogar por algum deles?
Diego - Aí são possibilidades, certo? Existe esse carinho pelo Santos, mas o que vai acontecer no futuro nós não sabemos. Tenho um respeito pelos clubes brasileiros, como disse, e é difícil analisar uma possibilidade para o futuro. Prefiro ficar por aqui, deixando claro o carinho que tenho para o Santos. O que vai acontecer lá na frente nós não sabemos.
Terra - No fim da janela de agosto de 2012, o presidente Odílio Rodrigues disse que o Santos esteve muito próximo de fechar a sua contratação. De fato isso ocorreu?
Diego - Existiu o interesse do Santos, mas nunca chegou a ficar tão próximo assim, não. Teve uma proposta oficial mesmo, uma conversa, mas próximo nunca aconteceu.
Terra - Você saiu do Santos em 2004, com 19 anos, e hoje você tem 28 e já quase dez anos de Europa. O que mudou no Diego desde então? Quais as diferenças?
Diego - Mudou muita coisa. É bastante tempo. Como jogador aprendi, principalmente, a ter disciplina tática. Você aprende, é algo que você obrigatoriamente tem que aprender e seguir. Essa preocupação tática que, principalmente no começo de carreira, não temos no Brasil. Aprendi a jogar mais rápido, dominar já pensando no que vou fazer, pois aqui há menos tempo de decisão, o futebol é mais rápido, são adaptações que você tem que buscar. Acredito que fiz isso, tanto que estou aqui há quase dez anos. Como pessoa saí daqui só com uma namorada na época. Hoje sou casado, tenho dois filhos, outra vida e outras prioridades, mas no geral posso dizer que sou muito feliz e satisfeito com tudo, tanto que tenho o objetivo de continuar mais um tempo por aqui.
Terra - E essa passagem pela Europa conta com uma passagem apagada pelo Porto, depois um período brilhante no Bremen, uma frustração na Juventus, um ressurgimento no Atlético de Madrid e a volta ao Wolfsburg. O que você lamenta não ter dado certo? O que você guarda dessas passagens?
Diego - Acho que foi no momento certo. Estava com 19 anos, comecei a jogar profissionalmente com 16, havia conquistado um bBrasileiro, já tinha o reconhecimento de todos no País apesar de ter apenas três anos como profissional. Apareceu, ainda, a oportunidade de ir para o Porto, atual campeão da Liga dos Campeões naquele momento. Era a chance de começar por Portugal, que tem o mesmo idioma. Foi um primeiro ano muito bom, com o título da Supertaça (da Europa) e do Mundial (Interclubes). Depois, no segundo ano, fui campeão do Português da Taça de Portugal, mas ao final já não jogava tanto devido à mudança tática da nossa equipe. Chegou um treinador holandês que não usava um meia de ligação, acabei perdendo espaço, fui para o Werder Bremen. Lá foi maravilhoso.
Na Juventus houve uma expectativa muito grande pela qualidade que nós tínhamos, todos esperavam um título, que não veio. Acabei sofrendo com esse ano negativo do clube, mas, no geral, não me arrependo de nada. No futebol não há como prever. Apesar de muitas vezes parecer haver algo positivo, que vai dar tudo certo, as coisas não acontecem. Por onde passei conquistei o respeito de todos, a admiração, tenho amizades até hoje. Foram experiências diferentes, idiomas diferentes, formas de viver. Aprendi muito com cada passagem, umas mais vitoriosas, outras menos, mas no geral aproveitei, fiz o meu melhor possível e hoje vivo um momento positivo. Espero que no futuro possa vir mais.
Terra - E lamenta não ter ficado no Atletico de Madrid? Viveu uma grande fase lá.
Diego - Foi, realmente, um dos melhores momentos que vivi como jogador, como pessoa, também, pois vivi muito bem lá com a minha família. Mas não sinto tanto porque precisa sempre haver a vontade dos dois lados e, naquele momento, o Atletico deixou claro que não era possível fazer o investimento que precisava para que eu continuasse. Sabemos que cada jogador tem um preço, e esse é estipulado pelo clube que você pertence, pelo contrato que você tem. E o clube interessado tem que decidir se vale a pena, se tem condições econômicas de fazer o investimento. O Atletico informou que não era viável pelo momento econômico que vivia. Foi uma decisão que eles tiveram, por isso nunca descartei um retorno ao Wolfsburg.
A Alemanha é um país onde me sinto muito bem, sou muito respeitado, tenho uma relação excelente com os jogadores, torcida, presidente. É um lugar onde me sinto muito bem, que me acolheu novamente. Temos que fazer o possível para permanecer onde nós queremos, mas nem sempre é possível, então procuro valorizar quem realmente se dispõe a fazer o investimento e quem fez isso foi o Wolfsburg. Por isso estou aqui até hoje.
Terra - Seleção Brasileira ainda é um sonho bem claro seu. Você acha que desperdiçou um pouco as chances na Seleção apesar de ter duas Copa América e uma Olimpíada. É um sonho viável ou distante?
Diego - É um objetivo, um sonho, mas quanto mais tempo passa, mais difícil fica. Saiu recentemente uma convocação, meu nome não estava na lista. O tempo vai correndo contra esse sonho e essa vontade. Mas acredito ainda é possível, sonho com isso, trabalho com esse objetivo pois no tempo em que estive lá acredito que tenha condições de ainda ajudar a Seleção Brasileira. As opções são muitas, depende do que o treinador precisa e quer para que eu possa ter uma nova oportunidade. Dentro das oportunidades que tive para a Seleção Brasileira acredito que aproveitei da melhor forma possível.
Na época em que era convocado concorria com jogadores como Ronaldinho Gaúcho e Kaká vivendo momentos maravilhosos, jogando como meias de ligação e gerando uma concorrência muito forte. Então eu tinha menos oportunidades como titular. Nas poucas procurei aproveitar da melhor maneira possível, participei de dois títulos de Copa América. Procurei fazer o meu melhor, mas a avaliação precisa ser feita pelo treinador atual, o Felipão. É ele quem decide, que sabe em quem pode confiar. Eu trabalho com esse intuito, com certeza, de mostrar através do meu futebol que mereço uma nova oportunidade.
Terra - E essa nova oportunidade passa por ficar na Europa ou voltar ao Brasil? Cito o Robinho, por exemplo, que voltou em 2010 para se garantir na Copa.
Diego - Acho que isso é muito relativo. Voltei à Seleção jogando pelo Werder Bremen que não era um clube de tanta visibilidade, mas que vivia um momento espetacular e, graças a isso, recebi novas oportunidades. Logo depois parei de ser convocado no meu melhor momento, quando estava me transferindo para a Juventus: final da Liga Europa, artilheiro, campeão da Copa da Alemanha. Recentemente, fui campeão da Liga Europa com gol na final e essas coisas, com certeza, chegam aos treinadores e responsáveis. Mas, claro, depende da decisão do treinador. Por isso que falo que, independentemente do clube, vai da necessidade que o técnico tem no momento. Por isso que jogando no Brasil, ou fora, o importante é que a equipe vive uma boa fase para chamar a atenção.
Terra - E a convocação do Robinho traz essa esperança de que, de fato, o sonho é possível?
Diego - Com certeza é uma motivação a mais (a convocação dele), pois é um amigo que tenho. Muito merecida a volta dele à Seleção. Eu, particularmente, fico feliz, pois sei que queria muito e trabalho muito para o retorno e vai ajudar muito a Seleção Brasileira. E, claro, vira uma motivação a mais pelo objetivo de reencontrá-lo na Seleção.
Terra - Você disse que seu pai segue como seu representante. Foi sempre ele? Ainda é uma relação de muita confiança? Por que nunca teve um empresário?
Diego - Sempre foi meu pai, realmente, pois temos uma relação de amizade, confiança, cada vez mais, como sempre foi. Desde o começo decidimos as coisas juntos. Pesa muito a minha vontade, a minha palavra, e a partir daí o meu pai faz o que tem que fazer. Tenho uma confiança muito grande. Já tive propostas de centenas de empresários, mas com todo o respeito a eles tenho uma confiança grande no meu pai, que pode me oferecer tudo aquilo que preciso como jogador e, por isso, sou muito satisfeito de tê-lo como meu empresário.
Terra - Com relação a time, o Santos de 2002 foi o melhor que você atuou? E quem foi o seu principal treinador na carreira?
Diego - Essa pergunta é difícil, tive momentos bons e joguei com grandes jogadores. Difícil classificar o melhor ou o pior. O Santos de 2002, sem dúvidas, foi um momento especial, foi uma equipe especial pelo modo como surgiu e como conquistamos o título. De lá para cá, conheci grandes jogadores na Juventus, que era a seleção da Itália inteira, o Werder Bremen, com uma equipe que atuava há muitos anos juntos, no Atletico de Madrid. Creio que o Thomas Schaff, no Bremen, está entre os principais que eu trabalhei na carreira, mas parando para pensar tem muita gente, jogadores e treinadores, com os quais aprendi muito.
Terra - O parceiro da carreira é o Robinho?
Diego - É um dos grandes da carreira, foi o que mais marcou no começo com aquele título, com aquela parceria tão jovem. É um dos grandes amigos que tenho até hoje.
Terra - Você ainda acompanha o Santos, o futebol brasileiro, ou se desligou completamente? Quem é o melhor em atividade no País?
Diego - Procuro sempre acompanhar, gosto de ver como estão as equipes, o Campeonato Brasileiro. Talvez não esteja tão pronto para dizer quem é o melhor jogador, pois assisto jogos esporádicos, mas vejo que o Alex, do Coritiba, tem se destacado, o Borges, no Cruzeiro, o Cícero, no Santos, mas é complicado, pois não acompanho todos os jogos. Talvez esses pelo pouco que pude ver.