Moradores relatam caos no entorno da Vila Belmiro após rebaixamento do Santos: ‘Nunca vi isso’
Santos foi rebaixado para a Série B, e torcida se revoltou
O entorno do Estádio Urbano Caldeira, em Santos, no litoral de São Paulo, foi tomado pelo caos na noite desta quarta-feira, 6, após o rebaixamento do alvinegro praiano para a Série B do Campeonato Brasileiro. Moradores da Vila Belmiro relataram que houve muito quebra-quebra por parte dos torcedores revoltados e se queixaram da falta de policiamento naquela região.
O Santos FC foi rebaixado após perder por 2 a 1 na partida contra o Fortaleza. Essa é a primeira vez que o time cai para a Série B. No fim da partida, os torcedores invadiram o gramado, atiraram bombas, destruíram assentos. Além disso, foram atirados copos plásticos, latas, garrafas, tênis e chinelos, dentro e fora do estádio.
O Terra foi até o local na manhã desta quinta-feira, 7, e presenciou que as ruas já começavam a ser limpas, embora o clima ainda fosse de revolta e tristeza. Os moradores do entorno da Vila Belmiro relataram que o efetivo de policiais militares no local era pouco ou quase nenhum após a derrota.
"A gente já sabia que isso ia acontecer se o Santos perdesse. O Santos perdeu, e eles ficaram revoltados, antes de terminar o jogo, já começou a loucura, a pancadaria. Eu acho que tinha pouca polícia, não deram conta, não”, afirmou uma mulher que preferiu não se identificar.
"Quando o outro time fez um gol, eles [policiais] abandonaram e foram embora. Não ficou policiamento nenhum. Os meninos invadiram e começaram a tacar fogo e quebrar tudo", declarou outra. "A quantidade de polícia que tinha aqui, se tivessem ficado até o final, não teria acontecido. Como a polícia sai da entrada do portão dos caras? Eles não tinham que ter saído. Imagina se esse povo invade, eles iam tocar fogo na Vila Belmiro".
Revoltados, os torcedores queimaram os veículos de Stiven Mendoza e do delegado da partida, Wilson Roberto Santoro. Ao todo, cinco carros foram atacados pela torcida após a partida que sacramentou o rebaixamento o time. A população chegou a ligar para o Corpo de Bombeiros, mas as equipes demoraram a chegar.
De acordo com elas, algumas pessoas chegaram a pedir extintores de incêndio dos prédios para apagar o fogo, devido à demora dos bombeiros. "Ia começar a pegar fogo nos fios", destaca uma delas.
O grupo de vizinhas acha que nesta quinta ainda será pior. Acreditam que a Vila Belmiro pode ser depredada, o que não aconteceu ontem. "É muito triste. Eu acho que ainda hoje eles voltam, e vão pichar isso tudo aí. Eles não vão deixar assim. Estão esperando uma oportunidade".
“Nunca vi isso’
A moradora Simone Gouvea também reclamou da falta de policiamento. Ela afirma que, em outros momentos, com torcidas mais acaloradas, até a cavalaria esteve presente, mas que não viu isso nesta quarta. Foi a primeira vez que ela presenciou tanta violência.
"A previsão de que ia acontecer isso era 100%. Aí todo mundo que é daqui, a vizinhança, já sabe que ia ter confusão porque estava na cara que ia perder. A gente não viu cavalaria ontem, viu pouco Choque, faltou polícia. Podia ter sido mais preparado porque estava na cara que ia acontecer”, desabafa.
João Barbosa Mendes Filho, dono de um dos bares da Vila Belmiro, contou que mora há 40 anos na cidade e também nunca havia visto tamanha fúria da torcida. Ele também tentou falar com os bombeiros, por medo de explosões no bairro.
"Chamamos o Corpo de Bombeiros, e não vinham. As portas aqui ficaram pelando, estava arriscado explodir. Todo mundo preso com aquele gás aqui dentro, não podia sair. Foi uma coisa de outro mundo. Isso foi anunciado. Já vi de tudo aqui, mas isso, foi a primeira vez. Foi muito triste”, finaliza.
Depredação pela cidade
O cenário de destruição chamou a atenção de curiosos e moradores do entorno da Vila Belmiro na manhã desta quinta-feira. Ainda restava um carro queimado em frente ao portão principal do Estádio Urbano Caldeira, além de marcas no chão de outros veículos incendiados, estilhaços de garrafas de vidro, lixo e depredação.
Apesar do clima de tristeza e indignação dos moradores, o movimento no bairro parecia normal nesta manhã, com a tradicional feira livre sendo realizada. Quem passava de carro ou de moto parava para fotografar os resquícios da revolta dos torcedores, e alguns até procuravam uma sombra para se abrigar do sol forte e observar as marcas de tudo que aconteceu durante a noite.
Além dos carros queimados, uma ambulância também foi incendiada e outros seis ônibus da prefeitura de Santos também foram alvo de vandalismo, ficando completamente destruídos. Os veículos foram removidos para a Avenida Senador Pinheiro Machado, conhecida pelos moradores como o Canal 1, na altura da Praça da Bíblia. Os seis ônibus queimados foram dispostos próximo ao canal e passaram a noite ali.
Só por volta das 10h30 que guinchos foram acionados pela prefeitura para retirar os veículos. O prefeito Rogério Santos (Republicanos) esteve no local e conversou com moradores indignados com a falta de segurança.
“Cenas de guerra, cenas que a gente não tolera. Violência não dá para tolerar. Isso não são torcedores, são vândalos. Se dizem torcedores do Santos, não são. O Santos é conhecido no mundo porque parou guerras e não porque fez guerras. Isso não combina com a história do Santos, isso não combina com a cidade de Santos. A gente tem a tolerância zero”, começou o prefeito.
Ele ainda ressaltou que entrou em contato com o secretário de Segurança Pública do Estado de São Paulo, Guilherme Derrite, para pedir reforços no policiamento. “Ontem, quando vi as imagens, logo de madrugada, chegamos para São Paulo, conversamos com o Derrite, o secretário mandou dois batalhões de Choque, mandou a Rota, aqui imediatamente, mas, infelizmente, meia dúzia de pessoas insuflam uma multidão, e o resultado é isso”, reforçou.
Segundo Rogério Santos, contentores de lixo foram incendiados e jogados no canal, houve queda de energia elétrica em alguns pontos por incêndio na fiação, entre outros prejuízos. “Seis ônibus queimados, isso implica em custo na passagem, isso implica em não ter ônibus para o trabalhador, implica nessa via interditada em horário de grande fluxo, é um transtorno total”.
O prefeito destacou que foi solicitada a substituição dos ônibus municipais e que o pedido foi prontamente atendido pela empresa, que repôs os veículos. Agora, serão pedidas imagens de câmeras de segurança da cidade para que os responsáveis sejam punidos.
*Com a colaboração de Vanessa Ortiz