Série conta detalhes da vida e das polêmicas de Maradona
'Maradona: Conquista de um Sonho' terá novos episódios toda sexta na plataforma de streaming da Amazon, até 26 de novembro
Diego Armando Maradona viveu intensamente. Morto há pouco menos de um ano por conta de uma parada cardiorrespiratória, aos 60 anos, o argentino passou por grandes momentos: venceu uma Copa do Mundo, foi reverenciado como divindade na Argentina e ainda deixou sua marca em momentos históricos do futebol, como o gol 'la mano de Dios'. Sem falar da vida pessoal, cheia de altos e baixos. Agora, tudo isso ganha uma adaptação para a telinha com a série Maradona: Conquista de um Sonho, na Amazon Prime Video.
Com os primeiros cinco episódios já disponíveis desde a última sexta-feira, 29, e com novos capítulos chegando toda semana até 26 de novembro, a produção traz detalhes sobre a vida do astro argentino.
A série escalou quatro nomes para interpretar Maradona: Nazareno Casero (Crônica de uma Fuga), Juan Palomino (Magnífica 70), Nicolas Goldschmidt (Supermax) e o pequeno Juan Cruz como 'Pibe de Oro' - apelido do craque na infância. É um retrato completo, desde seu começo humilde até o papel fundamental para a vitória da Argentina na Copa do México, em 1986.
"Nunca nem ousei sonhar em viver um personagem como o Maradona, que teve uma vida digna de filme. Ou de série, neste caso", conta Nazareno em entrevista ao Estadão, via Zoom, compartilhando sua experiência de viver o jogador em uma fase mais madura.
Nicolas, que o fez na juventude, acrescenta que foi difícil interpretar esse Maradona bem mais inocente, ainda no começo de carreira, sem carregar todas as polêmicas e os momentos decisivos pelos quais ficou conhecido na vida depois dos gramados. "Foi um desafio como ator, um desafio muito grande, muito complicado. Mas a equipe de alta qualidade ajudou a nos aproximar dessa figura histórica", afirmou Nicolas.
Na tela, é possível notar que ele e Nazareno tiveram de se esforçar bastante em termos de treinamento e de preparo. Afinal, são várias as cenas em que aparecem com a bola no pé, realmente fazendo jogadas. Já Juan Palomino, que vive o astro na vida pós-gramados, impressiona pela semelhança física - para o papel, inclusive, precisou engordar cerca de 20 quilos. "Foi uma grande responsabilidade", diz o ator argentino. "Afinal, interpretar Maradona adulto foi uma oportunidade para mostrar e para entender como era a vida dele e como cada parte de sua vida foi resultado de um tempo social e cultural que ele estava vivendo."
Maradona: Conquista de um Sonho também se preocupa em abordar a vida de Claudia Villafañe, mulher do futebolista entre 1989 e 2004 - e com quem teve duas filhas, Dalma Nerea e Gianinna Dinorah. Na série, assim como as versões de Diego ao longo do tempo, Claudia ganhou dois diferentes retratos, com Julieta Cardinali (En Terapia; Valentin) e Laura Esquivel (Patito Feo). Felizmente, ao contrário de outras séries e filmes sobre jogadores de futebol, a mulher ganha espaço e, principalmente, mais profundidade.
"Foi uma grande experiência e um trabalho de colaboração, em conjunto. Foram muitos ensaios. Criamos três Claudias ao mesmo tempo: primeiro a adolescente, depois a jovem adulta e, por fim, a Claudia aos 40 anos", conta Julieta, atriz que interpreta a ex-mulher já na vida adulta.
"Trabalhamos muito juntas desde o primeiro momento para que fosse algo real. São diferentes Claudias ali. Claro, é a mesma pessoa, mas passando por diferentes etapas de sua vida. Uma depende da outra", revelou.
O ídolo nas telas
'Amando Maradona'
Filme que foge do óbvio e fala sobre a paixão de fãs por Maradona
'Maradona, a Mão de Deus'
Primeiro filme de ficção sobre o jogador argentino. Dividiu opiniões de crítica e público
'Maradona by Kusturica'
Retrato profundo e experimental sobre a vida de Diego
'Maradona'
Documentário definitivo e elogiado sobre o jogador, dirigido por Asif Kapadia
'Maradona no México'
Série documental sobre Diego como treinador no México
Análise: Uma vida repleta de emoções, dentro e fora dos gramados
Enquanto produções biográficas tentam escapar ao máximo de assuntos espinhosos, fica claro, já nos cinco primeiros episódios de Maradona: Conquista de um Sonho, que não há essa preocupação no seriado. Ao contrário de obras recentes, como Divino Baggio, da Netflix, a série da Amazon Prime Video abraça todas as facetas de Diego. Há, claro, momentos marcantes nos gramados, celebrando as conquistas do argentino. No entanto, Maradona: Conquista de um Sonho traz posicionamentos políticos e momentos controversos.
Não teria como, afinal, fazer uma série nos mesmos moldes do que a Netflix fez com Roberto Baggio, que foge de conflitos do jogador com o técnico, por exemplo, ou até com isenções políticas. Maradona é uma figura que nos faz lembrar automaticamente de sua vida repleta de emoção, de altos e baixos, até mesmo de momentos chocantes. Apesar de ser um personagem tão complexo, Dieguito ganha o retrato definitivo em formato de ficção. No elenco, Juan Palomino e Julieta Cardinali comandam as melhores cenas, com atuações que compreendem essa complexidade tão natural.
A narrativa, porém, abraça logo de cara o dramalhão, seguindo por um caminho demasiadamente linear - típico dessas cinebiografias que ficam em uma espécie de marasmo, sem se complicar demais. Pelo menos há boas inserções documentais, com jogadas e momentos reais de Diego, causando uma emoção natural para quem é fã não só da figura de Maradona, como também de seus feitos dentro dos gramados de futebol. É uma série comportada em termos narrativos, mas bem-feita.
Por fim, vale chamar a atenção para como Maradona: Conquista de um Sonho abraçou as polêmicas na história, mas fugiu de problemas nos bastidores. Afinal, o pontapé inicial da série foi em 2018 - quando o astro ainda estava vivo. Foi preciso driblar a morte de Maradona, dando um jeito de fazer a produção continuar atual.
Além disso, houve confusões entre os "personagens". Em 2019, a série passou por um momento tenso: Maradona mandou uma carta à direção da Amazon Prime Video. Ele listou 14 acusações contra a ex-mulher. Claudia conseguiu uma medida cautelar para proibir que a produção apresentasse qualquer cena que pudesse "insultar, caluniar ou violentar" a empresária. A produção tomou cuidado para não sofrer acusações, mas não se curvou aos terceiros, ganhando força por sua independência criativa. É, no final, o que a faz ser tão interessante.