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ATP

Brasileiro que perdeu todos os pontos relembra pior set da história

3 jul 2012 - 08h41
(atualizado às 13h34)
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Felipe de Queiroz
Henrique Moretti

A cazaque Yaroslava Shvedova entrou para a história do tênis ao vencer no último sábado a italiana Sara Errani por 6/0 4 6/4, pela terceira rodada de Wimbledon, ganhando todos os 24 pontos disputados no primeiro set. Segundo a Federação Internacional de Tênis (ITF), o "golden set" (ou "set de ouro"), como foi batizado o feito, só havia acontecido uma vez na história da Era Aberta (desde 1968), tendo como protagonista o brasileiro Marcos Hocevar.

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Marcos Rudolfo Hocevar, nascido na pequena cidade de Ijuí (de 79 mil habitantes), perdeu por 6/2 e 6/0 para o americano Bill Scanlon na estreia do torneio Gold Coast Classic, em Delray Beach, na Flórida, nos Estados Unidos, em 1983. Na segunda parcial, Marcos não venceu nenhum ponto, marca negativa igualada por Errani e que não havia chegado aos ouvidos do gaúcho até o contato telefônico da reportagem do Terra, nesta segunda-feira.

"Não fiquei sabendo, acabei de ficar quase um mês no hospital", diz. Atualmente treinador do Instituto Gaúcho de Tênis (IGT), Hocevar acompanhava três atletas em um torneio infanto-juvenil em Porto Alegre quando sofreu uma convulsão, caindo e quebrando uma vértebra.

Após duas cirurgias, ele usava colete ortopédico e admirava o sol em sua casa ao atender o telefonema do Terra. Hocevar nega ter algum tipo de problema em comentar a histórica derrota de 1983 e ressalta que na ocasião havia voltado de uma viagem à África do Sul com uma infecção intestinal. Mas frisa mais de uma vez que isso não é uma "desculpa".

"Fui jogar, mesmo porque se não jogasse não levava prêmio, e sem sombra de dúvida o Bill não errou uma bola", recorda. "Está certo que eu fazia dupla-falta e não chegava bem na bola, mas ele foi perfeito. Na verdade eu não queria desistir, eu queria enfrentar situação de dificuldade. Se entrou na quadra não interessa se faz só dois games. Ou entra ou não entra, penso assim".

"Preocupado com a doença", Hocevar diz que durante o jogo não se deu conta de que não havia vencido nenhum ponto no segundo set. "Lógico que é uma marca que eu não gostaria de ter, mas aconteceu, paciência, realmente o cara jogou bem. Tentei lutar, pelo menos não tomei 12", completa, citando a gíria do tênis para 6/0 e 6/0.

Aquele, aliás, não seria o único grande momento do americano naquela temporada. Scanlon, texano de 1,86 e então com 26 anos, iniciava a melhor fase da carreira e teria ainda em 1983 outros resultados expressivos, como a vitória sobre John McEnroe, número 1 do mundo, nas quartas de final do Aberto dos Estados Unidos, considerada uma das maiores zebras do tênis em todos os tempos. Em janeiro do ano seguinte, alcançou a nona colocação do ranking, a melhor da carreira

Hocevar, por sua vez, era o número 41 do ranking quando perdeu para Scanlon, o 71, na quadra dura de Delray Beach. Ainda naquele ano, o gaúcho conseguiria "superar o tropicão" e conseguir "bons resultados", conforme ressalta, alcançando a 30ª posição do ranking - até hoje, é o sexto brasileiro a chegar mais longe na lista mundial do tênis masculino.

Marcos, que tem como grande resultado na carreira a semifinal no Torneio de Barcelona de 1982, no saibro, foi vice-campeão também dos campeonatos de São Paulo e Kitzbuhel, sempre no mesmo ano e no mesmo piso. Porém, constantemente é lembrado pelo "golden set" sofrido. "Tem que serem registradas tanto as coisas boas quanto as ruins. Claro que feliz não fico se disser que eu perdi 24 pontos seguidos, uma coisa praticamente impossível e inédita, mas tem que passar por cima do que aconteceu; bom para ele, ruim para mim".

"Inédito" o feito negativo não é mais. Agora, o nome do brasileiro não está mais sozinho no Guiness Book (Livro dos Recordes), sendo acompanhado pela derrota de Errani em Wimbledon. Ele ri quando questionado sobre isso, afirmando que seu nome "pelo menos é lembrado", e cita que tenta usar aquele resultado como uma experiência a ser passada para seus alunos.

"Às vezes me perguntam: 'como é que tu conseguiste perder 24 pontos seguidos?'. Não tem como explicar, tenho que mostrar que não se pode desfocar, eu fui extremamente preocupado para a quadra e me desfoquei. No tênis se não estiver bem focado pode acontecer qualquer coisa", discursa.

Em recuperação da recente convulsão, Hocevar, 56 anos, projeta que na próxima semana tirará os pinos da cirurgia e estará de volta ao instituto, se não ainda para lançar bolas para jovens como Vivian Segnini, número 4 do Brasil no ranking feminino, pelo menos para acompanhar os treinamentos. Enquanto isso, ele curte bons momentos e o sucesso do clã Hocevar, que segue como uma das famílias mais tradicionais do tênis brasileiro.

Seu sobrinho, Ricardo, é atualmente o número 254º da Associação dos Tenistas Profissionais (ATP), e seu irmão, Alexandre, foi o 169º em 1990. A bola da vez agora pode ser o filho de Marcos, Gabriel, aluno do IGT e vice-líder do ranking sub-16 da Confederação Brasileira de Tênis (CBT). "Estou feliz aqui tomando sol, a vida é muito bonita. O patrão velho lá de cima me deu um susto, mas está tudo bem, sou 5.6 com seis volts, seis parafusos. Você sabe quem é o patrão velho, né?", diz, rindo, um dos pioneiros da família Hocevar.

Veja os melhores brasileiros no ranking mundial masculino de tênis em simples:

1: Gustavo Kuerten - primeiro colocado em 4 de dezembro de 2000
2: Thomaz Bellucci - 21º colocado em 26 de julho de 2010
3: Thomaz Kock - 24º colocado em 20 de dezembro de 1974
4: Fernando Meligeni - 25º colocado em 11 de outubro de 1999

5: Luiz Mattar - 29º colocado em 1º de maio de 1989
6: Marcos Hocevar - 30º colocado em 20 de junho de 1983
7: Jaime Oncins - 34º colocado em 3 de maio de 1983
8: Carlos Kirmayr - 36º colocado em 10 de agosto de 1981
9: Flávio Saretta - 44º colocado em 15 de setembro de 2003
10: Cássio Mota - 48º colocado em 8 de dezembro de 1986

Ex-tenista Marcos Hocevar (à dir.) ao lado do sobrinho, Ricardo Hocevar
Ex-tenista Marcos Hocevar (à dir.) ao lado do sobrinho, Ricardo Hocevar
Foto: Marcelo Ruschel/Poa Press / Divulgação
Fonte: Terra
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