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Tênis

Caso Biles e os efeitos colaterais do favoritismo na Olimpíada

Americana desistiu de disputar a final geral nesta quinta-feira

29 jul 2021 - 20h08
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Nestes Jogos Olímpicos de Tóquio, no Japão, estamos vendo alguns dos principais atletas dos mais favoritos não executarem grandes performances e falharem , fruto do alto favoritismo e os efeitos colaterais que impactam a mente e também a parte física dos atletas.

(Foto: Loic VENANCE / AFP)
(Foto: Loic VENANCE / AFP)
Foto: Lance!

O exemplo mais impactante foi o da ginasta Simone Biles, multicampeã Olímpica no Rio de Janeiro 2016 e que se retirou da competição individual geral realizada nesta quinta-feira onde a brasileira Rebeca Andrade foi medalhista de Prata. Biles admitiu sofrer com a saúde mental e sua equipe ainda cogita colocá-la para a disputa das finais por aparelhos.

Não somente Biles sofre com tal problema, bem como a japonesa Naomi Osaka revelou há poucos meses, durante Roland Garros, sofrer com depressão e com problemas de lidar com a imprensa e até desistiu do torneio por essa questão. A japonesa chegou como favorita para Tóquio, mas mesmo sendo franca favorita foi eliminada cedo nas oitavas de final. Nesta quinta, o número dois do mundo, o russo Daniil Medvedev caiu nas quartas de final e o terceiro favorito, Stefanos Tsitsipas se despediu nas oitavas no torneio de tênis.

Marcelo Abuchacra, um dos sócios do Projeto Único - PE Sports e Tênis & Psicologia - que cuida de tenistas e diversos tipos de atletas em consultório em São Paulo de forma presencial e atendimentos onlines, comentou o caso: "Primeiro que precisamos saber para um atleta de alto nível é que não basta estar treinado tecnicamente, fisicamente, nutricionalmente , mas também psicologicamente", conta: "Quando existem cenários de favoritismo , cenários que claramente o atleta é mais treinado tecnicamente, física e taticamente que os outros, é favorito para vencer uma competição, o lado psicológico tem um efeito colateral," segue Abuchacra contando a batalha interna que paira na cabeça dos atletas e atingem completamente a performance.

"Tudo conspira para você ser o vencedor. Se você se concentrar e fizer o melhor que precisa fazer, chegar ao seu nível máximo, ou seja, nadar na velocidade que você nada, acertar a bola que você acerta , conseguir fazer a coreografia que você se preparou para executar, você sabe que será o campeão, irá vencer. Vira uma batalha contra você mesmo".

Para Abuchacra, o caso de Simone Biles é clássico que as distrações causadas pelo favoritismo impactaram diretamente no corpo dela: "Ela se preparou muitos anos para esse momento , é uma atleta experiente, mas não suportou a pressão e o estresse psicológicos produzido por esse favoritismo. As reações fisiológicas começaram a governar todo o comportamento dela como atleta. Ela começou a ficar tensa, nervosa, ter desconfortos internos, diminuição e aumento de pressão, aceleração cardíaca, incômodos no estômago, dores de cabeça, visão turva, tremedeira. Todos esses sintomas são derivados do estresse e que impedem o atleta de fazer sua performance . Aquele favorito já não consegue fazer mais o seu melhor desempenho pois o corpo gasta energia que são contrários à performance. "

Aparício Meneses conta que no tênis, como o caso principalmente de Osaka e eliminações precoces durante os Jogos de Tóquio, os efeitos são sentidos nos pontos chave, fator bem corriqueiro no esporte: "Esse tipo de situação acontece muito no tênis nos pontos decisivos, onde você sabe que basta se concentrar para poder vencer , fazer o que está treinado para fazer, é o momento de tensão, de favoritismo. Se você consegue se concentrar para vencer aquele ponto você sabe que sua chance é alta para ganhar o jogo , só que se você sofre os efeitos colaterais daquele favoritismo, Se eu não conseguir , o que vão pensar de mim ? Por que estou tremendo ? Não consigo me concentrar ? Daí ocasionam as duplas-faltas, os erros bobos, a bola mais curta dando espaço para o adversário."

Abuchacra completa: "No caso da Simone Biles ela caiu de forma tão visível que os treinadores, comissão técnica falaram 'olha você não vai competir, não tem condições, seu corpo está tenso , sua musculatura está trêmula, está com o coração acelerado, sintomas expressivos de estresse e se colocarmos você para competir você vai falhar'. Para evitar um colapso, preferiram preservar a pessoa Simone Biles que vem antes da atleta. E ela concordou com a equipe e aceitou. Isso acontece em muitos esportes".

Aparício destaca que só a concentração e o isolamento dos fatores externos podem reverter: "Precisamos excluir as variáveis externas. Para competir bem você precisa ficar longe das críticas, opinião alheia , bem consciente do medo que você precisa enfrentar . Para um atleta entrar no que chamamos de flow feeling, precisa estar bem tranquilo , longe das mídias, redes sociais. É um grande desafio preparar um jogador de qualquer modalidade".

Lance!
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