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Tênis

Entenda o caso de Novak Djokovic, deportado e desclassificado do Aberto da Austrália

Polêmica envolvendo número 1 do mundo se encerrou neste domingo com a decisão da Justiça australiana de deportar o tenista sérvio após entrar no país sem tomar a vacina contra covid-19

14 jan 2022 - 12h27
(atualizado em 16/1/2022 às 15h56)
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Novak Djokovic, definitivamente, é o nome mais comentado no mundo esportivo neste início de ano. Não pelas vitórias em quadra, mas pela batalha com a justiça australiana que ele travou, desde o dia 4 de janeiro, para tentar disputar o Aberto da Austrália mesmo sem estar vacinado contra a covid-19.

A novela se estendeu até este domingo, 16, e terminou com o Tribunal do Circuito Federal de Melbourne decidindo, de forma unânime e definitiva, pela deportação do sérvio, número 1 do ranking da ATP. Com a decisão, o tenista está eliminado do Aberto da Austrália, primeiro Grand Slam da temporada. Ele deixou o país horas após a decisão da Corte, que não reverteu o cancelamento de seu visto. Em comunicado à impresa, ele disse que ficou "extremamente decepcionado com a decisão".

Polêmica antes de desembarcar na Austrália

A polêmica envolvendo a entrada do tenista na Austrália para disputar o Grand Slam do país começou logo nos primeiros dias do ano. A participação de Djokovic no Aberto da Austrália era vista com muita apreensão por fãs do tênis. O sérvio foi nove vezes campeão da competição e estava à procura do título que lhe permitiria se tornar o recordista em torneios de Grand Slam — está empatado com o suíço Roger Federer e com o espanhol Rafael Nadal, todos com 20 cada.

O sérvio, que no passado revelou por diversas vezes ser contra a vacinação, já tinha tomado, em novembro, a decisão de não se pronunciar mais sobre as suas decisões relacionadas com esta medida de prevenção. Para entrar na Austrália, o sérvio precisou de uma "permissão de isenção" do governo australiano para competir no prestigiado torneio, já que não quis se revelar se estava vacinado contra a covid-19, um requisito obrigatório para os passageiros que chegam ao país da Oceania.

Essa permissão só é atribuída após análise da situação por parte de uma equipe de médicos independente, sem o conhecimento da identidade do requerente. "Se essa evidência for insuficiente, ele não será tratado de forma diferente e estará no próximo avião para casa. Não deve haver nenhuma regra especial para Novak Djokovic. Absolutamente nenhuma", disse então o primeiro-ministro da Austrália, Scott Morrison.

Djokovic tem documentação com erro de preenchimento ao entrar na Austrália

Mas no dia 5, o tenista desembarcou em Melbourne e foi barrado no aeroporto porque teve problemas com o preenchimento de seu visto. O sérvio teria apresentado documentação errada logo após descer do avião. De acordo com a imprensa australiana, a equipe de Djokovic teria cometido um erro no preenchimento dos formulários do visto, sem acrescentar a importante informação de que ele havia obtido uma permissão médica especial para poder entrar no país sem a necessidade de comprovar a imunização contra a covid-19, requisito obrigatório para todos os que viajam à Austrália.

O diretor do Aberto da Austrália, Craig Tiley, disse a repórteres que os motivos para garantir a permissão especial podem incluir reações anteriores a vacinas, cirurgia recente, miocardite ou evidência de infecção por coronavírus nos seis meses anteriores. A mais especulada na imprensa australiana era que ele teria contraído o vírus nos últimos seis meses.

Autoridades australianas barraram a entrada do tenista sérvio porque ele não teria apresentado "padrões adequados de evidências" para entrar no país com a permissão médica especial que havia obtido na véspera. "O visto do Sr. Djokovic foi cancelado. Não há casos especiais, regras são regras, principalmente quando se trata das nossas fronteiras. Ninguém está acima destas regras. Nosso rígida política de fronteira foi essencial para a Austrália apresentar um dos menores índices de morte por covid-19 no mundo. Seguimos vigilantes", disse o primeiro-ministro da Austrália, Scott Morrison.

O tenista ficou retido no Park Hotel, um "hotel de quarentena" em Melbourne, enquanto seus advogados entraram com um pedido de liminar urgente para permitir que ele permanesse no país. Diversos fãs do tenista, com bandeiras da Sérvia, foram até o hotel onde Djokovic estava confinado para protestar e pediram que o número 1 do mundo fosse liberado para disputar o Aberto da Austrália, que começa no dia 17 de janeiro.

Polêmica alcança o âmbito político

Até o presidente da Sérvia se manifestou sobre o caso. "A Sérvia vai fazer tudo que puder para acabar imediatamente com este constrangimento causado a Novak Djokovic", declarou então Aleksandar Vucic. "O que não é jogo limpo é a perseguição política (contra Djokovic), da qual participam todos, incluindo o primeiro-ministro da Austrália, fingindo que as regras são válidas para todos", disse à imprensa.

A Ministra do Interior da Austrália, Karen Andrews, disse que o sérvio estaria livre para deixar o hotel na cidade de Melbourne e voltar ao seu país de origem. "O Sr. Djokovic não está prisioneiro na Austrália porque ele está livre para partir a qualquer momento que decidir fazê-lo e a Força de Fronteira certamente irá facilitar isso", disse em uma entrevista à emissora pública australiana ABC.

O sérvio enfim se manifestou publicamente pela primeira vez através de sua conta no Instagram e agradeceu o apoio dos fãs. "Obrigado às pessoas ao redor do mundo por seu apoio contínuo. Eu posso senti-lo e o agradeço enormemente", escreveu.

Briga na Justiça se arrasta

No dia 8, a defesa de Djokovic apresentou à Justiça australiana documentos para comprovar que o tenista teria testado positivo para covid-19 em 16 de dezembro de 2021. A contaminação há pouco menos de um mês deixaria o sérvio livre para entrar na Austrália. Segundo a agência de notícias Associated Press, os documentos apresentados pela defesa do tenista mostram que ele recebeu uma carta do médico oficial da Tennis Australia, órgão regulador do esporte no país, no dia 30 de dezembro. O texto registra "que ele (Djokovic) recebeu uma isenção médica de vacinação contra covid pois se recuperou recentemente da doença".

A primeira-ministra da Sérvia, Ana Brnabic, afirmou na quarta-feira que Djokovic seria investigado pelo governo sérvio por violar as regras de isolamento após testar positivo para a covid-19 em dezembro do ano passado. O tenista testou positivo em 16 de dezembro e no dia seguinte apareceu sem máscara no lançamento de um selo com sua imagem em um evento em Belgrado.

"Ninguém pode violar as regras de isolamento, pois coloca em risco a saúde de outras pessoas. Isso constitui uma 'violação grave'", disse Brnabic, em uma entrevista ao canal de TV britânico BBC. "As leis se aplicam igualmente a todos", completou.

A apelação de Djokovic à Justiça australiana após ter sido barrado na sua chegada em Melbourne deu certo. O sérvio ganhou, através de decisão do juiz federal Anthony Kelly, o direito de entrar no país. Horas após ser liberado por um juiz e ter sua entrada na Austrália permitida, o tenista sérvio já foi para a quadra treinar e contar que pretendia buscar seu 10° título no Aberto da Austrália.

"Estou satisfeito e grato que o juiz anulou o cancelamento do meu visto. Apesar de tudo o que aconteceu, quero ficar e tentar competir o Aberto da Austrália. Eu continuo focado nisso. Eu voei aqui para jogar em um dos eventos mais importantes que temos diante de fãs incríveis", disse antes de ser deportado.

O sérvio afirmou que esteve em evento quando ainda não sabia do seu teste positivo para covid-19, em dezembro, e disse que um membro de sua equipe cometeu "erro humano" ao preencher formulário de imigração. "Quero abordar a desinformação contínua sobre minhas atividades e participação em eventos em dezembro, antes do resultado positivo do meu teste PCR para covid", declarou. "Esta desinformação precisa ser corrigida, particularmente no interesse de aliviar a preocupação mais ampla da comunidade sobre minha presença na Austrália e abordar assuntos que são muito dolorosos e preocupantes para minha família."

Visto de Djokovic é cancelado

Na sexta-feira, as autoridades australianas decidiram adiar a deportação de Djokovic até um pronunciamento da Justiça após o tenista ter o visto cancelado pela segunda vez. O ministro da Imigração, Alex Hawke, usou poderes discricionários para cancelar novamente o visto de Djokovic, depois que um tribunal anulou uma revogação anterior e o liberou da detenção de imigração na segunda-feira. As autoridades australianas confirmaram na última sexta-feira, 14, que Djokovic seria detido após ter o visto cancelado pela segunda vez desde que chegou ao país e que o caso retornaria à Justiça.

Depois de ter o visto negado pela segunda vez, os advogados de Djokovic entraram com recurso, que foi remetido à Justiça Federal da Austrália para o julgamente deste domingo. Mas antes o sérvio teve um encontro com a imigração neste sábado, 15.

A organização do Aberto da Austrália indicou ainda que o torneio começaria pelo lado superior das chaves masculina e feminina, o que dificultaria ainda mais a vida de Djokovic. Porque, dessa forma, na condição de atual campeão, o sérvio teria de jogar logo na segunda-feira. Caso o julgamento não ocorresse e o tenista ainda tivesse que continuar detido, ele não conseguiria entrar em quadra pela primeira rodada do torneio.

Deportação

No sábado, 15, o sérvio voltou a ser detido e foi levado novamente para centro de detenção de imigrantes, onde permaneceu até o julgamento deste domingo. O caso ficou sob a responsabilidade de um tribunal federal depois que o juiz de Melbourne, a quem os advogados do tenista apelaram, se declarou incompetente. As autoridades do país oceânico, que solicitaram a expulsão do tenista, trabalharam sob o argumento de que a presença de Djokovic poderia ??estimular o sentimento antivacina e causar agitação social no país.

Neste domingo, em um julgamento que durou mais de nove hora (começou às 19h30 de sábado, no Brasil), a Corte Federal australiana decidiu, de forma unânime e definitiva, indeferir o pedido de reintegração do visto do sérvio. O Tribunal considerou 'Nole' um risco para a população australiana, e entendeu que ele violou diretrizes de isolamento e prestou falsas declarações às autoridades.

Os juízes determinaram ainda que o sérvio não pode entrar no país pelos próximos três anos, salvo em "circunstâncias convincentes que afetam os interesses da Austrália". O raciocício que levou à sentença do número 1 do mundo vai divulgado nos próximos dias.

Sem a possibilidade de entrar com novos recursos, não restou outra saída para o Djokovic senão ir embora da Austrália. Horas depois da decisão, o tenista pegou um avião com destino a Dubai. Mas, antes, ele se manifestou sobre o julgamento que o tirou do Aberto da Auatrália: "Estou extremamente decepcionado com a decisão da Corte em negar meu recurso. Respeito a decisão do Tribunal e vou cooperar com as autoridades para deixar o país. Me incomoda que o foco nas últimas semanas tenha sido em mim e espero que agora o foco seja no jogo e no torneio que mais amo. Desejo aos jogadores, ao torneio, ao staff, aos oficiais e aos fãs o melhor torneio", disse o tenista.

Estadão
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