Trintões, ex-top 15 e campeão em Paris miram volta ao topo
Além de já terem sido integrantes do grupo dos 15 melhores tenistas do mundo, o que mais há em comum entre Gastón Gaudio, Nicolás Massú, Nicolás Lapentti e Juan Ignacio Chela? Atualmente, todos esses sul-americanos já têm no mínimo 30 anos e estão fora do top 70 do ranking mundial, mas não desanimam: obrigados a recomeçar na carreira, têm disputado torneios challengers no intuito de voltar a ganhar terreno.
» Espanha poupa Verdasco e confia em Nadal para abrir decisão
» Ex-número 1 do mundo, Mauresmo anuncia aposentadoria
» Sharapova pretende lançar carreira como estilista
» Siga as principais notícias do Terra Esportes no Twitter
Graças a esses nomes, pelos menos na América do Sul na última temporada, os chamados torneios pequenos também tiveram dias de glória. Há pouco tempo, era difícil prever que, ao lado de Thomaz Bellucci, hoje o 36º melhor jogador do planeta, competiriam na Sociedade Harmonia de Tênis, em São Paulo, um campeão de Roland Garros e um campeão olímpico. E foi exatamente isso o que aconteceu não só na etapa paulista da Copa Petrobras, realizada de 25 a 31 de outubro.
Desde 20 de setembro, essa gira sul-americana de challengers passou por seis cidades e em três delas (Buenos Aires, Montevidéu e São Paulo) conseguiu reunir Gaudio, Massú, Lapentti e Chela - Bellucci, já efetivado na parte de cima do ranking de entradas, só jogou mesmo em seu estado natal. Com pelo menos 11 anos de experiência como profissionais, os veteranos ainda não pensam em aposentadoria e descartam problemas de motivação, embora estejam afastados momentaneamente do glamour do circuito.
"Venho aos challengers da mesma forma que vou a um Grand Slam, a um Masters 1000: para dar tudo, o máximo, para ganhar todos os jogos", garante, nesse contexto, Chela. Dono do 15º lugar da lista de entradas em agosto de 2004, o argentino despencou para o 205º em junho passado, muito em função de uma cirurgia de hérnia que o tirou das quadras por oito meses, até fevereiro deste ano.
Em casos assim, os tenistas têm direito ao chamado ranking protegido. O sistema assegura uma média de posicionamento, calculada em cima dos três primeiros meses do afastamento por contusão, que vale para garantir ingresso em até oito torneios na data de sua volta à ação. Graças a esse mecanismo, Chela pôde disputar quatro Masters 1000 no primeiro semestre, mas neles conseguiu apenas uma vitória.
"Eu tinha o ranking como 54º, mas os rivais são os melhores do mundo e é difícil ganhar ali, ainda mais quando se volta de uma lesão", relembra ele, que por ter somado poucos pontos se viu obrigado a descer um nível no circuito. "Tenho claro que o caminho é passar por estes challengers e já cumpri meu objetivo". Em novembro, o portenho triunfou em Medellín, na Colômbia, e encerrou a temporada como o número 73 do mundo. Assim, poderá disputar o Aberto da Austrália a partir de 18 de janeiro.
Ex-top 15, Chela nem foi o atleta mais renomado da Argentina a visitar São Paulo no fim de outubro. Campeão de Roland Garros em 2004 e quinto melhor do planeta em 2005, Gastón Gaudio também está competindo em challengers. Assim como o compatriota, ele tem 30 anos e conviveu recentemente com diversas contusões - na mais grave, rompeu dois dos três ligamentos externos do joelho direito em outubro de 2007. Desde a lesão, realizou apenas duas exibições durante toda a temporada passada e era dado como aposentado quando reencontrou motivação para encarar, mesmo sem ter pontos no ranking, a desgastante rotina de treinamentos e viagens do tênis profissional.
Respaldado pelo currículo, Gaudio conseguiu alguns convites e durante este ano atuou em quatro torneios da ATP e um Grand Slam, o de Paris. Com apenas uma vitória na elite, o tenista conseguiu avançar até o 168º lugar da lista somente através dos challengers, tendo sido campeão em Túnis, vice em Buenos Aires e semifinalista em Florianópolis e Montevidéu. "Seria bom retornar ao top 100 depois de estar um ano sem jogar", comenta ele, que só poderá alcançar a meta e assim assegurar de novo vaga nas competições mais prestigiadas a partir de 2010.
Ao lado do ganhador do Aberto da França, um antigo medalhista olímpico tem-se dedicado aos challengers: Nicolás Massú, ouro em duplas e simples nos Jogos de Atenas-2004. Desde 1997 na ativa, o chileno de 30 anos, embora sem grandes problemas físicos, vem oscilando há 22 meses entre as 143ª e 77ª colocações do ranking e, portanto, já está até mais acostumado que os colegas a disputar eventos de menor porte.
Entre as motivações que fizeram Gastón Gaudio retornar ao tênis profissional, destacou-se uma no mínimo peculiar: a possibilidade de fazer mais sexo, tema que o levou à capa do diário Olé de 11 de dezembro de 2008. Na ocasião, o tenista havia encerrado um período de sete meses sem pegar na raquete para ensaiar sua volta na Copa Argentina de tênis, um torneio exibição realizado ao final de cada temporada.
Quase 12 meses depois, será que nesse sentido a empreitada do argentino nas quadras deu resultado? Conforme o atual 168 do mundo disse, sim. "Tenho uma média entre 30 e 40 minas (sic) por dia...", brincou, em meio a risos, usando uma expressão brasileira.
Mais sério, na sequência, o atleta que está de olho no top 100 do ranking desmentiu o diário de Buenos Aires. "Não, isso eu não disse nunca. É mentira. Inventaram", garantiu. De qualquer forma, na etapa paulistana da Copa Petrobras, o campeão de Roland Garros desfilava acompanhado por uma bela loira nas alamedas da Sociedade Harmonia de Tênis.De qualquer forma, ele também segue animado. Acaba de ganhar um título em Cancún, no fim de novembro, e já está em 113º na lista, próximo do acesso ao nível ATP. "É uma etapa pela qual qualquer pessoa vai passar", assegura, citando inclusive o nome de um dos maiores da história para embasar sua opinião.
"Até (Andre) Agassi passou por isso: foi número um e depois também jogou challengers. Se ele fez isso, por que não posso eu?". Melhor do mundo em 1995, o norte-americano caiu para o 141º lugar em novembro de 1997, em um período no qual teve problemas pessoais e se envolveu com a droga metanfetamina, conforme admitiria em sua autobiografia publicada recentemente. Como consequência, viu-se obrigado a disputar dois challengers - ganhou um e foi vice do outro - antes de iniciar uma escalada que o recolocaria no topo do tênis masculino dois anos depois.
Dizendo-se prestes a participar de novo "dos torneios grandes", Massú também procura se aproximar de Agassi em outro quesito: a longevidade. O polêmico astro permaneceu entre os 40 principais tenistas do mundo até se aposentar os 36 anos, e o sul-americano assegura querer atuar "por uns cinco ou seis anos mais".
Enquanto tentava se reerguer por seu próprio trabalho, ele ainda encontrou motivação para seguir adiante dentro de uma equipe: o selecionado de seu país na Copa Davis, garantido no Grupo Mundial após superar a Áustria em casa em setembro. "A Davis é um objetivo", confirma Massú, que ao lado de seus colegas visitará Israel entre 5 e 7 de março com boas chances de chegar às quartas de final pela primeira vez desde 2006. Atual 11º do mundo, Fernando González é o melhor chileno no ranking mundial, mas se recusa a participar da competição enquanto os atuais dirigentes seguirem no comando da federacão de tênis local.
Outro veterano que utilizou a competição coletiva para juntar forças e continuar competindo foi Nicolás Lapentti, ex-número 6 do ranking da ATP e antigo parceiro de Gustavo Kuerten em jogos de duplas. Antes do confronto com o Brasil válido pela repescagem do torneio, há três meses, o equatoriano acenava com a aposentadoria aos 33 anos de idade. Entretanto, a vitória heróica em Porto Alegre recolocou o Equador na elite da Davis após oito temporadas de ausência e aclarou as ideias de seu principal representante, que decidiu prosseguir no circuito.
"Às vezes não é fácil encontrar motivação para jogar challengers, mas acho que Gaudio, Massú, Chela e eu estamos em uma situação na qual isso é necessário para pegar confiança, ganhar mais pontos e depois começar a jogar torneios maiores", comenta Lapentti. Nos dois últimos meses, o equatoriano foi vice no challenger de São Paulo e campeão em Guayaquil. Hoje no 94º posto do ranking de entradas, voltará a encontrar Roger Federer, Rafael Nadal e cia. ao menos no próximo Aberto da Austrália.