WTA cobra investigação da China em caso de denúncia de abuso sexual a tenista
Ex-número 1 do mundo, Shuai Peng não foi mais vista após ex-vice-primeiro-ministro da China de estupro
A Associação de Tênis Feminino (WTA, na sigla em inglês) cobrou publicamente as autoridades chinesas por uma investigação da denúncia de abuso sexual feita pela ex-tenista Shuai Peng, que está desaparecida. A ex-número 1 do mundo em duplas acusou o ex-vice-primeiro-ministro da China, Zhang Gaoli, de estupro.
"Estamos profundamente preocupados com os eventos recentes contra a tenista chinesa Shuai Peng. Como uma organização dedicada às mulheres, nos mantemos comprometidos com os nossos princípios, de igualdade, respeito e oportunidade. Peng e todas as tenistas precisam ser ouvidas, não censuradas", registrou a entidade, em comunicado.
"A acusação dela contra um ex-líder do governo merece ser tratada com total seriedade. Em todas as sociedades, o comportamento que ela alega precisa ser investigado e não condenado ou ignorado. Nós elogiamos a coragem e força de Peng por seguir adiante. As mulheres pelo mundo estão encontrando suas vozes e as injustiças precisam ser corrigidas."
A WTA não citou o desaparecimento, noticiado pelo jornal francês Le Monde na quinta-feira. O periódico cogitou a possibilidade de a ex-atleta ter buscado refúgio nos Estados Unidos. "Nossa prioridade absoluta e inabalável é a saúde e segurança de nossas jogadoras. Estamos nos manifestando para que a justiça seja feita", finalizou a entidade.
Peng desapareceu, segundo o jornal francês, alguns dias após fazer uma acusação de abuso sexual contra Zhang Gaoli nas redes sociais. O post foi feito na Weibo, rede social chinesa equivalente ao Facebook, fortemente fiscalizada pelo governo. Todos os seus posts foram derrubados cerca de 20 minutos depois. O termo "tênis" também foi censurado na plataforma, como meio de conter a polêmica. Tentar postar sobre Peng ou Zhang no Weibo também gera um erro.
A notícia da denúncia da atleta ocorreu no dia 3 deste mês e ela não foi mais vista desde então. A China já esteve envolvida em outros casos de abuso sexual antes, no entanto, este é o primeiro caso envolvendo uma personalidade pública tão importante.
No dia 3, durante coletiva de imprensa, um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores de Pequim se recusou a falar no assunto e disse que não ouviu falar sobre o caso e que não se trata de uma questão diplomática. Zhang era vice-primeiro-ministro na capital da China e foi um dos pilares do governo.
Na publicação apagada, Shuai Peng contou que ela e Zhang, que é casado, estiveram envolvidos em um caso extraconjugal em 2011, quando se conheceram em Tianjin. Ela detalhou a única relação que tiveram no decorrer daquele ano. Deixa a entender também que houve uma segunda relação pouco antes dele ser promovido e se ver obrigado a cortar relações com a atleta.
O político teria retomado o caso em 2018, quando deixou sua vida pública. Ele convidou a tenista para um jantar com sua esposa e foi onde a coagiu a fazer sexo. Peng contou que chorou e resistiu até finalmente acabar cedendo a Zhang. A partir de então, seguiu-se um novo caso de três anos, descrito pela jogadora como 'desagradável'. Na publicação, ela revelou não ter evidências pois o político a obrigou a manter máxima descrição na relação.