10 kg mais magra, Thaísa nega ser sex symbol e espera "aguentar tranco"
O conceito de "barriga negativa" foi forjado pela top model sul-africana Candice Swanepoel, uma das Angels da grife americana Victoria’s Secret. A forma física é tal que os ossos do quadril ficam mais saltados que o abdômen. A ideia ganhou repercussão no mundo todo e virou polêmica por conta do padrão de beleza - inegavelmente, é muito difícil alcançar essa condição, e muitas mulheres jamais conseguirão. A meio-de-rede Thaísa foi uma das que emagreceu a ponto de "negativar" a barriga, e isso fez um sucesso enorme. Nos últimos meses, ela se esforçou para perder 10 kg e conseguir aguentar o tranco - dentro e fora das quadras de vôlei.
"Eu me cuido. Eu preciso, porque vai chegar uma fase em que você treina tanto que um pouco de peso a mais já causa dor no joelho, na canela", explicou a Thaísa, em entrevista ao Terra. Mais leve, ela espera postergar a boa fase que vem desde o bicampeonato olímpico, em Londres 2012. E isso também causa benefícios estéticos pelos quais ela não esconde o interesse e os sacrifícios - a dedicação com a malhação, a Páscoa sem chocolate e as constantes medições na balança, tudo eventualmente documentado nas redes sociais.
Imagens do abdômen "seco" de Thaísa ganharam grande repercussão, uma característica que esculpiu ainda mais os 1,96 m de altura da jogadora. Ela nega o rótulo de sex symbol, por achar que seu corpo não corresponde ao padrão de beleza consagrado pela indústria do entretenimento, mas fez ensaios sensuais nos últimos meses e, mais uma vez, chamou atenção. Nesse aspecto de vida, esses 10 kg também vêm a calhar. É assim que ela deve "aguentar o tranco": mais leve dentro de quadra e também fora dela.
O sucesso na profissão não vem apenas pelas características físicas. Somado a isso surge a mulher forte e brava, uma das que deve liderar o elenco do Molico Osasco (que até a última temporada se chamava Sollys), enfraquecido após a saída de dois destaques: as ponteiras Jaqueline e Fê Garay.
Thaísa promete ajudar as companheiras e, se preciso, bater de frente da mesma forma como fez com a CBV depois de viajar ao Peru para a disputa do Sul-Americano, em setembro, apertada nas cadeiras da classe econômica do avião. Como campeã olímpica, ela tem direito a um lugar na classe executiva. Thaísa promete não fugir. "É assim que se forma uma atleta que vai aguentar o tranco na hora da dificuldade".
Veja a entrevista de Thaísa
Terra – Você é um dos grandes destaques do Molico Osasco e da Seleção Brasileira. Como atleta experiente, qual é o seu papel dentro do time hoje em dia?
Thaísa - É até estranho eu ouvir essa palavra "experiente", porque me considero muito jovem ainda (tem 26 anos). Talvez por jogar há muito tempo na Superliga e na Seleção, eu adquiri isso. Há muito as pessoas veem a minha carinha lá, então devem achar que eu sou velha. Eu tento, de alguma forma, tirar um pouco a pressão das meninas, porque a torcida aqui pressiona muito, fica em cima, e um grande patrocínio é óbvio que quer resultados. Eu e a Sheilla combinamos de nos doar 200% para suprir as dificuldades que elas venham a ter. Ainda não fomos colocadas a prova, mas estamos tentando amenizar isso. Só vamos saber na hora que acontecer, mas estamos bem preparadas para ajudar.
Terra – Suponho que essa preparação seja feita nos bastidores, fora de quadra. E durante as partidas? Acha que também é sua função chamar a atenção ou incentivar as meninas?
Thaísa - Eu tenho essa característica. Muita gente não gosta de mim por causa disso: sou muito brava, cobro sim, da mesma forma que, se precisarem brigar comigo, podem brigar. Tem gente que não briga, tem medo. Se eu cobro, tenho que aceitar cobrança da mesma forma. Sou muito assim. Xingo mesmo. O importante é ganhar, então fico nessa pegada. Vou cobrar mesmo sendo mais nova, porque quando tinha 16, 17 anos e jogava de titular, as pessoas me cobravam como adulta. As pessoas só crescem assim. Com 18 anos, não tinha um Bernardinho para passar a mão na minha cabeça. Pelo contrário: ele me xingava e cobrava igual. É assim que se forma uma atleta que vai aguentar o tranco na hora da dificuldade.
Terra - É por isso, por exemplo, que você criticou a CBV no episódio para a viagem para o Peru. O que aconteceu depois daquelas críticas? Como se resolveu o assunto?
Thaísa - Estão para marcar uma reunião para resolver a situação, porque até então não era só para voos intercontinentais. Em 2011 fomos para o Peru de executiva. A gente não cobrou uma coisa que não tinha direito. Foi colocado para a gente: se vocês conquistarem a Olimpíada, terão direito à executiva. Nem precisava ganhar para ter, porque uma mulher de 2 m de altura viajar em um lugar em que uma pessoa de 1,80 m fica apertada... não vou chegar na minha melhor condição para jogar. Se eles colocaram isso, o mínimo é cumprir. A gente cumpriu nosso papel: foi lá e ganhou.
Terra - Não acha que essa sua postura pode, de alguma forma, acabar prejudicando sua imagem dentro e fora de quadra?
Thaísa - Pelo contrário: mostra que a gente tem mais voz. Antes, tudo o que faziam a gente aceitava e não falava nada. Agora estamos buscando os nossos direitos. É a mesma coisa que um trabalhador ir questionar um salário que não recebeu ou um benefício a que tem direito, mas não recebeu. Se a gente pode e é nosso direito, então vamos reivindicar. Não estamos erradas, não faltamos com o respeito nem falamos mal de ninguém
Terra – Recentemente você tem alcançado muito destaque por causa da beleza. Acha que essa postura de líder, de mulher forte, contribui para que as pessoas te enxerguem como um "sex symbol"?
Thaísa -
Mas eu não acho nada disso, nada de símbolo sexual. Juro. Não acho mesmo. Não me acho uma mulher feia; me acho bonita, meu namorado me acha bonita, o que é o mais importante - se ele me achar linda está ótimo. Não é aquela falsa modéstia de chegar uma mulher lindíssima e ela falar "não me acho bonita". Não. Eu realmente não me acho. Sei que tenho valor, mas não me acho um símbolo sexual. Não sou nenhum padrão de beleza. Mas também não sou de se jogar fora (risos).
Terra - A gente tem essa imagem porque você tem um cuidado muito grande com o corpo, principalmente nas redes socais. Você está sempre postando fotos com uma roupa diferente ou mostrando o físico...
Thaísa -
As pessoas costumam me ver muito dentro de quadra com camisa de jogo, sempre uniformizada. Quando eu coloco uma roupa diferente, solto o cabelo e uso maquiagem, elas veem uma pessoa diferente e falam "nossa, que legal". É mais por isso. O fã é assim: curte muito mais uma foto minha com máscara de lama na cara do que uma em que apareço atacando, porque é uma novidade, eles querem saber o que faço e como é a minha vida, por não terem muito acesso. Por isso repercute tanto. E também porque perdi 10 kg - agora engordei um pouco porque jogamos no Japão e foi mais difícil controlar a alimentação. Muita gente percebeu. Perdi 10 kg da Olimpíada para cá.
Terra – Isso aconteceu por uma preocupação específica com a estética?
Thaísa -
10 kg, para uma pessoa que já é magra, é muita diferença. Falsa magra, eu era. Mas chamou muita atenção. Eu preciso, porque vai chegar uma fase em que você treina tanto que um pouco de peso a mais te causa dor no joelho, na canela. Tanto pela estética, pela beleza, como pelo treino, para se sentir mais leve para saltar.
Terra - Você já sentia essas dores? Foi por isso então a decisão de emagrecer?
Thaísa -
Principalmente. Primeiro porque eu vi uma foto minha em Londres e falei: "caramba, olha o tamanho do meu quadril e da minha coxa". Eu estava forte, estava dando na bola, mas eu sentia muita dor, então diminuir um pouco ia me ajudar mais. Eu ia me sentir mais à vontade para correr, treinar, não ia me cansar tanto. E também porque eu vi e falei: "nossa senhora, preciso emagrecer" (risos). Até pela beleza.
Terra – Parece que é a situação perfeita quando seu esporte te ajuda a ficar com o físico bom, o que te ajuda a competir, que por sua vez te deixa mais bonita. Isso é bom para você. Mesmo assim, te incomoda ser considerada um "sex symbol"?
Thaísa -
Por não achar isso, eu nem fico prestando muita atenção nessas coisas. Acho que olhar, todo mundo já olha mesmo. É comum por eu ser alta, ser totalmente diferente do padrão normal. Eu ando na rua e as pessoas falam: "caramba, que mulher alta". Não acho que mudou muita coisa. Tem comentários a mais, mas a grande maioria já era muito comum desde que eu sou novinha, porque sempre fui muito grande. Tento nem focar muito nisso.
Terra – Com isso, o que dá para prever para a temporada, principalmente porque o Molico teve grande destaque nos últimos anos e está sempre na briga pelos títulos.
Thaísa -
Não dá para prever muito. Os times se reforçaram bastante, então a gente tem que estudar muito. Alguns deles a gente não jogou contra ainda. Mas temos um patrocínio forte, que vem com atletas jovens, motivadas, e isso vai ser bom. O caminho vai ser até mais duro porque saíram duas grandes atletas, que são a Jaque (grávida) e a Fernanda (Garay, que foi jogar no Fenerbahce, da Turquia). São duas grandes ponteiras. E agora vieram outras duas grandes ponteiras (Sanja Malagurski e Caterina Bosetti), mas são novas (23 e 19 anos, respectivamente). Eu acho que a gente vai ter que correr mas que o ano passado, porque o time já estava fechado. Mas está bacana, faz parte. Estamos bem motivadas.