Fama mostra menos intimidade e mais talento
Domingo, 12 de maio de 2002, 17h31
Em vez de "romances sob o edredom" e disputas por leite condensado, aulas de canto, dança e interpretação. Há três semanas no ar, os cantores participantes de Fama vêm exibindo mais o talento - e menos a intimidade - do que seus colegas, de vocação indefinida, do "reality show" Big Brother. Mas para a equipe técnica da Globo - que, através de câmaras indiscretas, monitora diariamente a rotina da academia -, o trabalho não é tão diferente assim. Da gravação à edição final - exibida durante a semana em forma de boletim, às 17h20 -, existe uma preocupação permanente com a qualidade do áudio e a cobertura equilibrada dos candidatos à fama. "Naturalmente, aqueles votados para deixar a academia ganham mais destaque na semana de avaliação. Mas não há favorecimentos. Todos têm o mesmo espaço", garante Luiz Gleiser, diretor do programa. A academia de Fama foi construída no parque aquático Rio Water Planet, no Rio de Janeiro, na casa que serviu de cenário para o "resort" jardim do Éden, da novela As Filhas da Mãe. Instaladas sobre trilhos, 16 câmaras circulam dentro de um túnel estreito para registrar a intensa rotina dos jovens cantores. A maratona pelo estrelato começa às 9h, com ginástica e um café da manhã reforçado. Durante o dia, a turma se reveza entre aulas de canto, dança, interpretação e expressão corporal. Além disso, cada candidato tem acompanhamento fonoaudiológico e psicoterápico. Toda semana, eles se preparam para um show diferente, transmitido ao vivo nas tardes de sábado da Globo. Aos domingos, é feita uma avaliação da performance de cada um e apresentado o repertório do próximo espetáculo. Assim como no Big Brother, as câmaras acompanham tudo discretamente, através de janelas de espelhos de dupla face. A diferença é que, na academia de Fama, elas são desligadas por volta das 20h, quando terminam as atividades, e sequer registram o segundo andar da casa, onde ficam os dormitórios. Além disso, os participantes dispõem de alguns "privilégios" como, por exemplo, assistir ao Jornal Nacional e à novela O Clone, falar com a família por telefone, receber visitas e, na etapa final do programa, até viajar para suas cidades de origem. "Eles estão no olho do furacão. A idéia é conduzi-los, gradualmente, do anonimato total para a exposição total. Não é fácil virar celebridade de uma hora para a outra", explica Gleiser. A preocupação do diretor é uma resposta antecipada a uma crítica comum: a de que "reality-shows" só geram famosos de ocasião, sem mérito ou estrutura para manterem-se em evidência. No caso de Fama, a diferença partiria da seleção dos candidatos, feita entre 780 inscritos no país. "São todos cantores jovens, mas de um talento impressionante e anos de estrada musical", defende Angélica, que divide com o músico Toni Garrido a apresentação do programa. Além da votação popular, o processo de seleção - que, ao final de nove semanas, culminará num único vencedor - considera os votos de um júri especializado e dos alunos e professores da academia. "Esse é um projeto do bem. Para mim, é fundamental saber que não tem maracutaia na escolha de quem fica ou vai embora. Que existe respeito pelos meus colegas de profissão", discursa o vocalista do Cidade Negra, Toni Garrido. A disciplina rígida que marca a rotina na academia, o figurino "street wear" dos participantes e os ensaios com repertório internacional já levantaram comentários sobre a "estética americana" do programa - e as semelhanças com o filme Fama, de Alan Parker. Luiz Gleiser destaca, contudo, que o programa tem músicos de diferentes regiões do país e, portanto, uma matéria-prima genuinamente brasileira. "Quando a gente faz uma coisa séria, as pessoas tomam como americanizada. A academia é um lugar sério, com bons professores, alunos talentosos de diferentes sotaques. Mas todos falam português", ironiza Gleiser - para quem o repertório internacional, com músicas em inglês e espanhol, é apenas mais uma exigência da profissão.
Roberta Brasil TV Press
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