Sandy diz que está preparada para receber críticas
Foto: Luiza Dantas/Carta Z Notícias

Sábado, 10 de março de 2001, 14h15

Até o ano passado, a cantora Sandy colecionava bichinhos de pelúcia, anjos de porcelana e papéis de carta que ganhava dos fãs. Hoje, coleciona compromissos. De fato, a agenda da moça está abarrotada deles. Além de fazer shows, gravar discos e estrelar o seriado de tevê Sandy & Júnior, Sandy ainda arranjou tempo para protagonizar Estrela Guia, a nova novela das seis. Na trama de Ana Maria Moretzsohn, ela interpreta Cristal, uma jovem hippie que sonha em se tornar uma cantora de sucesso. "Sei que estou sujeita às críticas, mas não me importo. Tenho mais é de enfrentar o que vier pela frente. Quero levar esse sonho adiante", garante.

O convite para trabalhar em Estrela Guia é a realização de um antigo sonho. Quando criança, Sandy não desgrudava os olhos da tevê sempre que alguns de seus atores favoritos, como Antônio Fagundes ou Glória Pires, apareciam no vídeo. De lá para cá, as duas únicas experiências como atriz foram no filme O Noviço Rebelde, estrelado por Renato Aragão e dirigido por Tizuka Yamasaki, e no seriado Sandy & Júnior, no qual ela interpreta a si mesma. Para compor uma autêntica "riponga", Sandy aprendeu a entoar mantras com o músico Tomaz Lima e a praticar meditação com o astrólogo Pedro Tornaghi. "Até que a Cristal combina comigo. A única diferença é que ela tem tempo de sobra para fazer o quiser...", suspira.

Aos 18 anos, Sandy já está na estrada há 11. A carreira profissional conferiu maturidade precoce à bela filha do cantor sertanejo Xororó. Por isso mesmo, ela não encara a profissão como um fardo pesado ou algo parecido. Ela apenas administra a carreira como gente grande. Para evitar o fantasma da superexposição, por exemplo, fez questão de incluir no contrato que assinou com a Globo a cláusula de que só gravaria Estrela Guia até o dia 31 de maio. Depois disso, começaria a se dedicar integralmente à gravação de um CD voltado para o mercado internacional. "Só consigo levar a vida numa boa porque gosto do que faço. Aprendi com meus pais que tem de haver tempo para tudo", explica.


Você sempre gostou do "Sandy & Júnior" porque interpretava a si mesma. Está sendo difícil fazer a Cristal?
No início, não estava preocupada em virar atriz. Por isso, era fácil interpretar a mim mesma. Hoje, já penso diferente. Estava me realizando no seriado, mas sentia que faltava algo mais. E esse "algo mais" é justamente interpretar um personagem diferente do que sou. A personalidade da Cristal é diferente da minha. Em comum, temos apenas o fato de sermos meigas, puras e determinadas. Isso me encanta muito. Aliás, foi o perfil da Cristal que me encorajou a aceitar o convite. Torço muito para a novela dar certo e as pessoas gostarem.

Mas você não se assusta em estrear justamente como a protagonista de Estrela Guia?
Não estava nos meus planos fazer novela tão cedo. Mas sempre alimentei o sonho de ser atriz. Não necessariamente a protagonista de uma novela das seis. Mas sempre sonhei em ser atriz. Quando recebi o convite, olhei para meu pai e disse: "Pai, quero fazer a novela só para realizar meu sonho. Nem que seja só uma". Às vezes, quando vejo o que está acontecendo, me pergunto se não estou sonhando. Mas estou ciente das dificuldades que vou ter pela frente. A começar pelo fato de nunca ter feito novela. Não quero que esperem muito de mim.

Qual a maior dificuldade que você sentiu para compor a personagem?
A Cristal leva uma vida completamente diferente da minha. Somos parecidas em alguns aspectos. Mas diferentes em outros. Para ela, sobra tempo para tudo. Comigo, a coisa é bem diferente. Por isso, tive de diminuir o ritmo da minha fala. Falo muito rápido e a Cristal, completamente devagar. Mudei também o ritmo da minha respiração. Ela está acostumada a respirar ar puro. Fora isso, aprendi a cantar mantras. Nunca tinha cantado, mas posso dizer que estou adorando a experiência.

A Cristal é uma jovem hippie que entoa mantras e faz meditação. Você se identifica com este universo esotérico?
Sempre fui muito ligada neste tipo de coisa. Por isso mesmo, adorei o fato de ter começado a gravar Estrela Guia pela cidade de Pirenópolis, em Goiás. A cidade possui uma energia diferente. O clima do lugar é esotérico e a cidade exala uma energia mística muito grande. Deu logo para entrar no clima da novela e fazer um laboratório ainda maior para a Cristal. Essa atmosfera mística contribuiu para me deixar no clima de "paz e amor". Fiquei emocionada também quando consegui meditar pela primeira vez. É uma experiência indescritível. Pretendo fazer mais vezes. Vivo num mundo tão "high-tech" e agitado que sinto falta de um pouco de meditação de vez em quando...

Não chega uma hora que você se cansa de toda essa correria e sonha em ser uma pessoa igual às outras?
Na verdade, poderia parar se quisesse. Mas não quero. Sou feliz fazendo o que faço. De vez em quando, dá vontade de viajar sozinha para a Europa e espairecer. Procuro ser o mais normal que posso. Se tenho uma folga, gosto de ir ao cinema com minhas amigas ou meus pais. No colégio, fazia questão de ir como qualquer aluno. Usava calça jeans, camiseta do uniforme e cabelo preso. Mas tenho de me privar de certas coisas. Nada dá para ter tudo, não é mesmo? Gostaria de poder sair à rua sem ter ninguém atrás de mim. Infelizmente, não posso ir à praia aqui no Brasil. O único lugar que encontro sossego é na fazenda. Mesmo assim, sempre junta gente na porteira...

Você já pensou em fazer terapia?
R - Já. Não que eu tenha algum grande problema para resolver, mas quero ser uma pessoa mais tranqüila e exigir menos de mim. Tento me controlar, mas não tem jeito. Sou ansiosa por natureza. Não é à toa que tenho gastrite e preciso comer a cada duas horas. Minha mãe sempre fala: "Filha, você não tem de ser perfeita em tudo que faz...". Mas esse é o problema: assumi um compromisso comigo mesma de ser perfeita em tudo que faço. É por essas e outras que penso em fazer Psicologia. Eu me interesso demais pelo assunto. Sou cheia de vontade para entender o ser humano e a mim mesma.

Você ficou satisfeita com a escalação do Guilherme Fontes para interpretar o Tony?
Fiquei. Bem no comecinho, a diretora Denise Saraceni pediu que eu desse sugestões de atores com mais ou menos 35 anos. Sugeri alguns, como o Marcelo Antony. Eu o acho bonito e muito bom ator. Infelizmente, ele já estava escalado para Um Anjo Caiu do Céu. Mas gostei da indicação do Guilherme Fontes. Nós já conversamos e eu o achei um sujeito bacana. Ele é experiente e vai me ensinar muitas coisas.

É verdade que você pretende recorrer a dublês nas cenas de beijo?
Eu não sabia que ia ter dublê na novela. Precisei dela na cena em que a Cristal é quase atropelada pelo Carlos Charles, personagem do Rodrigo Santoro. Em outra cena, tive de contracenar com uma onça. Perguntaram se eu queria dublê, respondi que não. Estou tranqüila em relação à isso. Só vou recorrer a dublê em ocasiões especiais. As cenas de cachoeira, por exemplo, eu mesma fiz. Não tinha por que utilizá-la. Eu estava de roupa. Chegaram a especular que eu pedi dublê para as cenas de beijo... Mas que bobagem. Se tiver de beijar na novela, vou beijar sem o menor problema. Já dei alguns beijos no seriado. Tenho experiência no assunto.

O que pensa dos rumores de que o restante do elenco estaria indignado com certas regalias que você desfruta na Globo?
Fiquei muito aborrecida com essa história. Tudo começou por causa de uma reportagem muito chata que li. O pessoal não tinha o que falar a meu respeito e inventou um monte de mentiras. O elenco ficou revoltado com essa história de ciúme. Não rola ciúme coisa nenhuma... A gente se dá bem. O clima nas gravações não poderia ser melhor. Visitamos cachoeiras, brincamos no karaokê, etc. Isso é falta de assunto. Disseram também que tenho regalias dentro da emissora. Mas que regalias são essas? Esperei para gravar como todo mundo. Não pulei a frente de ninguém. Comi a mesma comida que eles. Dormi no mesmíssimo hotel. Na hora de marcar a cena, sou eu mesmo que marco. Não preciso de dublê para esse tipo de coisa. A única diferença é que, às vezes, utilizo um jatinho nas gravações. Mas quem paga sou eu. Não sai um centavo do bolso da Globo. Fico revoltada com esse tipo de especulação...

Qual é o pior revés da fama?
Reconheço que é difícil não se deslumbrar com a fama. Mas tenho uma família bem pé-no-chão. Quando nasci, meu pai já vendia 2 milhões de cópias com Fio de Cabelo. Conheço a fama desde cedo. Já estou acostumada a ela. Às vezes, é um pouco puxado, mas consigo levar numa boa pois faço o que gosto. Procuro me divertir também. De vez em quando, pego um filminho na locadora e o assisto debaixo das cobertas. Não posso deixar a vida passar em branco. Mas, se tem uma parte chata no meu trabalho é a invasão de privacidade. Não gosto quando as pessoas distorcem o que falo. Quero que o público saiba a verdade sobre mim. Mas a invasão de privacidade é só um detalhe entre tanta coisa boa...

Dupla dinâmica

A estréia de Sandy e Júnior na tevê foi a mais casual possível. Em 1989, a dupla Chitãozinho e Xororó foi convidada para participar do programa Som Brasil, apresentado por Lima Duarte. Durval de Lima, vulgo Xororó, resolveu levar os pimpolhos juntos. Apesar da relutância do pai, Sandy e Júnior acabaram cantando a moda Maria Chiquinha. Não demorou para a dupla ser logo convidada para gravar um álbum. Mais uma vez, o pai deu contra. Mesmo assim, a vontade dos filhos prevaleceu e Xororó passou a dar o maior incentivo. Para Júnior, o segredo do sucesso da dupla é a determinação da irmã. "Adoro o jeito firme da Sandy. Quando ela quer algo, corre atrás e conquista", elogia Júnior.

O primeiro álbum da dupla, Aniversário do Tatu, foi lançado em 1991 e vendeu 210 mil cópias. Em dez anos de carreira, os dois já venderam 10 milhões de CDs. Em 2000, eles lançaram Quatro Estações - O Show, que já vendeu 1,8 milhão de cópias. Não por acaso, a dupla renovou com a gravadora Universal por R$ 12 milhões, o triplo do valor do contrato assinado por Chitãozinho e Xororó. Ainda este ano, eles começam a gravar um CD em inglês. Até a sede da Universal em Londres, Inglaterra, está envolvida no lançamento da dupla no exterior. "Só vou começar a pensar neste CD quando terminar a novela. Por enquanto, só estou escolhendo o repertório", avisa.

O fenômeno, porém, não ficou restrito à música. Em 1997, eles voltaram a trabalhar na tevê, mais precisamente no programa Sandy & Júnior Show, um "game show" para lá de despretensioso exibido pela extinta Manchete. O programa não durou mais que seis meses. Na Globo, Sandy e Júnior protagonizaram um especial de fim de ano em dezembro de 1998. A audiência de 32 pontos encorajou o diretor geral de criação da emissora, Carlos Manga, a tornar o programa fixo na grade. Desde então, o seriado dominical registra média de 17 pontos, quase o dobro da conquistada pelo SBT. "Um programa que só ensina fica chato. O legal é quando passamos mensagens interessantes através de uma história", elogia.

A dona da voz

O ano 2000 foi inesquecível na carreira de Sandy Leah de Lima. Aos 17 anos, ela ganhou o prêmio Multishow de melhor cantora, disputado com Marisa Monte, Cássia Eller e Ivete Sangalo. No mesmo ano, foi convidada por Gilberto Gil e Milton Nascimento a participar do álbum da dupla, "Gil e Milton", ao lado do irmão Júnior. Como se não bastasse, Sandy ainda mereceu elogios rasgados do cantor Caetano Veloso, que disse em seu "site" na Internet que "Sandy é perfeita do ponto de vista técnico". "O ano 2000 foi o melhor da minha vida. Graças a Deus, deu tudo muito certo", vibra.

No penúltimo álbum, as músicas infantis foram trocadas por baladas românticas. Duas delas - Olha o que o Amor Me Faz e As Quatro Estações - compostas pela própria Sandy. No último CD, ela repetiu a dose em Na Boa Sem Chorar. A longo prazo, Sandy planeja cantar Atrás da Porta, música de Chico Buarque que fez sucesso na voz de Elis Regina. A eterna "Pimentinha", aliás, é uma das referências musicais de Sandy. Tanto que gravou Fascinação, também do repertório de Elis, em As Quatro Estações - O Show. "Sou fã de Elis, mas tenho de crescer mais para cantar 'Atrás da Porta'. Ela é muito densa", avalia.

Sandy já perdeu a conta das vezes em que respondeu à pergunta: "Quando você vai fazer carreira solo?". A resposta é invariavelmente a mesma: "Nunca!". Por conta disso, sempre incentivou o irmão a estudar música e a tocar outros instrumentos, como violão, percussão e teclado. No último álbum, Júnior arriscou o primeiro número solo - Aprender a Amar - por sugestão da irmã. Nos próximos meses, ele vai se inteirar da gravação do CD internacional da dupla, enquanto Sandy estiver às voltas com as gravações de "Estrela Guia". "Nunca pensamos em nos separar ou fazer carreira solo. Nossa carreira vai ser longa e duradoura", avisa.

Leia mais:

  • Especial sobre Estrela Guia

    André Bernardo
    TV Press

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