O antropólogo Hermano Vianna, irmão do músico Herbert Vianna, enviou hoje à imprensa um e-mail lamentando não poder agendar entrevistas. Na carta, ele respondeu as perguntas que os jornalistas mais fazem.De acordo com Hermano, o líder do Paralamas ainda tem problemas de memória. Isso seria causado por um problema orgânico, e não um bloqueio emocional. O antropólogo afirma ainda que seu irmão está longe de poder andar sozinho, apesar de o Fantástico ter exibido imagens do cantor em uma barra paralela.
Hermano contou ainda que Herbert compôs uma música há alguns meses, mas não sabe dizer quando o novo disco do Paralamas vai sair.
Confira a íntegra da nota:
"Desde que as imagens da passagem do Herbert pelo hospital de Brasília da Rede Sarah foram divulgadas no Fantástico, muitos jornalistas me procuraram para solicitar entrevistas e outros tipos de matéria. Peço desculpas por não ter respondido às solicitações individualmente. Teria que parar a minha vida e me dedicar exclusivamente ao assunto. Como muitas das perguntas se repetem nas mensagens de todos os jornalistas, resolvi preparar esta resposta coletiva.
Achava que tinha falado o que era necessário falar nos trechos da minha entrevista divulgados no Fantástico. O ponto mais importante das minhas declarações, e a razão principal da divulgação das imagens do tratamento do meu irmão, além de dar notícias para seus fãs e todas as pessoas que torceram por ele, era fazer a defesa e o elogio da saúde pública no Brasil.
Mas entendo que a mídia queira publicar mais detalhes específicos do caso do Herbert. Tenho sempre receio de entrar nesses detalhes, pois dizem respeito à privacidade do meu irmão. Contudo, reconheço que algumas informações, as que estão mais ligadas às nossas opções de tratamento médico, podem ajudar outras pessoas que passam pela mesma situação.
Vou usar algumas perguntas dos jornalistas como guia para meus esclarecimentos. Mandei as minhas respostas para o doutor Luiz Alexandre Catanhede, que cuida da reabilitação do Herbert no Rio, e para a doutora Lúcia Willadino Braga, da Rede Sarah, para que eles as complementem com as informações que acharem necessárias. Espero que esses esclarecimentos sejam úteis para quem tem a infelicidade de passar por situações tão dolorosas como a que estamos passando, nas quais muitas vezes o mais difícil é saber onde obter a informação necessária ou ter certeza de que estamos fazendo tudo o que há para ser feito para que o tratamento das nossas pessoas queridas tenha os melhores resultados possíveis:
A recuperação está sendo mais rápida do que se esperava? Qual era a expectativa no início da terapia?
Chegou-se a falar em um ano para voltar a andar, cantar. Em casos de lesão medular e sobretudo em casos de lesão cerebral não há padrão para se dizer que uma recuperação é rápida ou lenta. Cada caso é diferente do outro. Nunca nenhum médico fez prognósticos sobre o tempo que levaria a recuperação, e ainda não sabemos quanto tempo ela vai levar nem o que vai ser recuperado. Todo mundo que já passou por isso sabe: é preciso mais do que tudo paciência. O processo é sempre longo. As novidades, boas ou ruins, podem ser diárias. Repito: paciência é a palavra-chave. A ansiedade extrema que acompanha os primeiros dias depois do acidente gera dúvidas atrozes, para as quais pensamos confusamente que devemos ter respostas imediatas. Nenhuma família e nenhum amigo, por mais esclarecidos que sejam, estão preparados para receber uma notícias dessas e agir calma e racionalmente. Mas hoje também sei que não é preciso afligir-se demasiadamente, tentando acertar tudo. Podemos até tomar decisões erradas, que podem ser corrigidas um pouco depois. O importante é ter contato imediato, através de instituições como o CVI (Centro de Vida Independente), com pessoas que passaram por situações semelhantes, para pedir conselhos e refletir sobre as várias experiências, os vários erros e acertos que todos cometem. Por exemplo: não é preciso comprar a melhor cadeira de rodas do mundo (para quem tem dinheiro para comprá-la), por que ela pode não ser a melhor para todo mundo. Eu me lembro das noites de sono que perdi para decidir se comprava uma almofada Roho ou Jay, seguindo a recomendação de grupos diferentes de pessoas. Antes eu não sabia nem que cadeiras de rodas tinha que ter almofada, mas naquele momento, para mim, aquela decisão parecia decidir todo o futuro do Herbert. Achava que se não comprasse a almofada certa ele iria morrer cheio de escaras e absurdos semelhantes. Hoje vejo como podia ter adiado a escolha, esperando um tempo melhor para tomar a decisão.
Também achava que devia reformar a casa inteira para facilitar a independência do Herbert. Realmente, algumas reformas são cruciais, até porque existe - não sei se apenas no Brasil - um absurdo costume de se construir as portas dos banheiros com uma largura menor que as das outras, impedindo a passagem de cadeira de rodas (aliás, hoje sei que construimos nossas casas como se nunca fossêmos ter um problema desses, ou como se nunca nenhum de nossos amigos fosse ter que andar de cadeiras de rodas não estou falando de pouca gente: segundo o dado que me foi apresentado pelo doutor Campos da Paz há 16 milhões de pessoas no Brasil com problemas sérios de locomoção e se não vemos mais essas pessoas nas ruas ou nas nossas casas, é porque esses lugares não estão preparados para recebê-las).
Tudo pode esperar um pouco. Eu me lembro do encontro decisivo que tive, duas semanas depois do acidente, com a fisioterapeuta Sheila Salgado, no CVI. Tinha levado um caderno de cheio de perguntas, sobre todos os detalhes que me desesperavam, de adaptações para o chuveiro à necessidade de se tomar sygen ou outro remédio. Sheila, com a doçura que lhe é peculiar, pediu para que eu esquecesse aquelas tarefas e naquele momento cuidasse de me adaptar, emocionalmente, à nova situação, esperando ocasiões melhores para tomar as decisões. Naquela hora era o que eu precisava ouvir e fazer. Pois não tinha a menor idéia de quanto tempo teria pela frente para pensar melhor em tudo. Achava que o Herbert "acordaria" do coma como num filme, perguntando por tudo, precisando de tudo. Achava que se a sua primeira cadeira não fosse a melhor cadeira, nunca se adaptaria a nenhuma delas. Não foi bem assim. E oito meses depois do acidente, sabemos que ainda temos uma longa e difícil batalha pela frente.
O Herbert tem apresentado melhoras na sua memória recente. São vitórias pequenas ainda: algumas lembranças, mas cada vez um número maior delas, se tornam permanentes. Porém, como todas as pessoas que passam por lesões cerebrais graves, ele não se lembra do acidente. Não é uma "defesa" ou um "bloqueio", que pode ser rompido por um tratamento psicológico qualquer: é um problema orgânico, causado pela lesão violenta. Algumas memórias são perdidas para sempre. É possível que no futuro não se lembre de nada do que está acontecendo agora, e que também se esqueça de muita coisa que aconteceu em anos anteriores ao acidente. Não é possível prever o quê.
Acho que esse é um ponto importante para deixar claro, que pode ajudar outras pessoas que tiveram lesões cerebrais. É comum que amigos e familiares interpretem o esquecimento como bloqueio, defesa ou um artifício inconsciente para evitar o sofrimento. Muitas vezes o acidentado passa a ser quase torturado para que se lembre de fatos importantes ou do acidente. Aprendi que essa não é a maneira correta para lidar com o problema. As memórias não voltam à força. Várias lembranças serão apagadas e o melhor é aprender a viver sem elas, compensando os esquecimentos com outros recursos.
Mas voltando ao caso do Herbert: como já disse, apesar das melhoras, ele continua a ter dificuldades para se lembrar de acontecimentos recentes. Por isso ainda é muito cedo para entrevistas. No momento, ele não vai poder dar respostas precisas para a maioria das perguntas que as pessoas querem que responda. Por exemplo: ele ensaia sim com os Paralamas, e sua performance nos ensaios melhora sempre (consideramos que os ensaios são atividades terapêuticas). Mas se um jornalista lhe fizer uma pergunta sobre essas atividades ele pode responder que nunca ensaiou desde o acidente, não porque queira esconder a informação, mas porque pode ser que naquele momento não tenha nenhuma lembrança dos ensaios.
Não acho conveniente expor essas dificuldades, tão privadas, pela imprensa. Cito esse exemplo apenas para pedir compreensão e também paciência aos jornalistas. Quando o Herbert se sentir seguro para dar entrevistas, coisa que sempre gostou de fazer, e desejar conversar com a imprensa, será uma grande alegria poder comunicar esse seu desejo a todos.
Quanto à lesão medular, também é cedo para prognósticos definitivos. Herbert apresenta algumas ligeiras contrações em alguns músculos da coxa, mas nenhum desses movimentos é funcional, isto é, nenhum deles tem forças para produzir os movimentos necessários para a marcha sem aparelhos. As imagens vistas no Fantástico, de Herbert dando passos em barras paralelas ou com ajuda de um andador, não significam que ele está mais próximo de andar. São exercícios terapêuticos importantes para a manutenção dos movimentos que vão aparecendo, para evitar o enfraquecimento dos ossos e problemas de circulação. Não há tratamentos milagrosos para a lesão medular (que pode causar a paraplegia e a tetraplegia). No atual estado do conhecimento médico que evoluiu bastante na última década mas que ainda está longe de uma cura, e os tratamentos experimentais mais promissores ainda foram testados apenas em ratos temos que nos conformar com a seguinte constatação: nenhuma terapia produz melhoras substanciais que não aconteceriam naturalmente, com a própria evolução do quadro da lesão. Não estou dizendo que fazer fisioterapia não seja importante. É importantíssimo. Mas não devemos acreditar em ninguém que nos afirme que a fisioterapia ou qualquer outro tratamento, realizado em qualquer lugar do mundo, vai fazer as pessoas andarem novamente se suas lesões não permitirem. O tratamento pode potencializar os movimentos que vão aparecendo espontâneamente, pode mantê-los e fortalecê-los, fazendo que o paciente possa usar o que aparece para beneficiar sua vida cotidiana, tornando-se mais independente.
Eu tive a paciência de organizar um grande banco de dados com informações sobre todos os tratamentos experimentais que estão sendo pesquisados no mundo. Há de tudo, e muita coisa é promissora, de transplantes de células-tronco até implantação de eletrodos para estimular movimentos com corrente elétrica (uma excelente documentário introdutório sobre esses avanços foi reprisado várias vezes este ano no canal National Geographic). Mas repito: a cura ainda não existe, e acredito que ainda temos muitos anos pela frente até que algo convincente apareça. Por enquanto, é mais urgente aplicar com rigor as leis que protegem e facilitam a livre circulação das pessoas que se locomovem com cadeiras de rodas.
Acho importante as famílias e os amigos das pessoas que tiveram lesões cerebrais e medulares manterem seus "pés no chão", pois a tentação de se deixar levar por promessas de curas e outras ilusões é muito forte. Não há tratamento fácil, nem rápido. Muitos tratamentos, que demoram anos, e que têm como resultado apenas uma leve melhora podem parecer desanimadores. Mas é preciso não desistir. Qualquer melhora é bem-vinda. E quase sempre a melhora exige muito trabalho e muito sacrifício.
É possível dimensionar quanto da capacidade neurológica e de movimentação já foi recuperada? A recuperação pode ser de 100%?
Números não são significativos nesses casos.
A que se deve a recuperação já apresentada: ao tratamento oferecido pela Rede Sarah, a outros tratamentos, à força de vontade do cantor, ao bom condicionamento físico de Herbert?
Acredito que a tudo isso, mais a fisioterapia que faz diariamente no Rio, mais os cuidados pós-operatórios (que continuam até hoje) do doutor Paulo Niemeyer e sua equipe, e muitos outros fatores (carinho, amizade, torcida...), contribuem para a recuperação.
Como é a rotina de Herbert?
TERAPIA: o doutor Luiz Alexandre Catanhede, fisiatra que coordena a reabilitação do Herbert no Rio, responde: "Herbert realiza pela manhã tratamento diário de reabilitação com sessões de fisioterapia motora, que tem como objetivos a manutenção de arco de movimento, alongamentos, fortalecimento dos membros superiores e do tronco, treinamento de marcha nas paralelas e com o andador, treino de equilíbrio estático e dinâmico. Além das técnicas tradicionais, a fisioterapeuta Ana Maria Carvalho utiliza ainda técnicas de facilitação neuromuscular proprioceptiva com objetivos específicos de estímulo e fortalecimento muscular. Herbert realiza ainda sessões de hidroterapia com a fisioterapeuta Anna Christina B. Rosa com objetivos de alongamento e fortalecimento global (a hidroterapia permite trabalhar músculos ainda sem força suficiente para realizar um movimento completo). Por fim, a terapeuta ocupacional Norma Vaz realiza sessões que têm como objetivo o equilíbrio, a coordenação fina, o ortostatismo para auxiliar nas transferências (passagem da cadeira de rodas para cama, para o carro etc) e nas atividades da vida diária e da vida profissional. Em resumo: todos esses tratamentos têm como objetivo principal a independência de Herbert, ou seja, que ele dependa o menos possível da ajuda de terceiros para cuidar da sua vida."
O RESTO DO DIA: as tardes são usadas basicamente para a música, que é a atividade que mais interessa Herbert no momento, com ensaios ou mesmo treinamento no violão. Além disso, brinca o tempo todo com os filhos, sobretudo tocando para eles. Durante todo o tempo, Herbert ainda conta com os cuidados de três enfermeiros, Célio, Demétrio e Robson, do home-care da MED-LAR, que fazem seu revezamento a cada 24 horas. A MED-LAR cuida de exames laboratoriais, dos remédios e tudo mais que diz respeito ao lado prático de seu tratamento.
Como o Herbert está reagindo à recuperação? Ele pareceu bem entusiasmado no Fantástico, mas gostaria de saber como ele reage em casa, na companhia da família e dos médicos.
Herbert fica contente, é claro, quando percebe alguma melhora no seu estado de saúde. Mas é óbvio que os momentos de entusiasmo convivem com momentos de profunda tristeza. Recentemente ele passou a sentir uma dor avassaladora, conhecida como dor neuropática, conseqüência de sua lesão medular. Essa dor impede que faça muita coisa que gostaria de fazer, e que já tem condições para fazer, como sair mais e voltar mais rapidamente para o trabalho. Não há tratamentos certos para isso. Herbert fez vários exames, e está testando uma medicação que apresenta resultados lentos.
Quando serão feitos novos exames?
Novos exames estão previstos para daqui a três meses. Mas essa data não é certa ainda. Depende da sua evolução neste período.
A idéia de fazer uma pequena apresentação para os enfermos do Sarah foi uma iniciativa de Herbert ou um pedido dos médicos? Em que dia exatamente ocorreu a apresentação?
Herbert ficou duas semanas internado no Sarah, uma semana em julho e uma semana em outubro. Desde a primeira vez manifestou o desejo de agradecer o bom tratamento tocando para o pessoal que trabalha no hospital e para os outros pacientes. Como não queríamos um acontecimento que atrapalhasse a rotina do hospital, escolhemos (com a participação do Herbert) uma apresentação surpresa para as crianças que estavam internadas no fim de semana, na manhã do sábado, dia 06 de outubro.
Mesmo sabendo que é muito cedo ele já manifestou interesse de fazer outras apresentações? Ele fala sobre essa vontade de voltar a cantar em shows?
Sim, ele sempre diz que é músico porque gosta de compor e tocar ao vivo, para alegrar o público. Na apresentação para as crianças no Sarah ele disse que mesmo se não mais tocasse, ele arrumaria uma outra maneira de estar ali para alegrá-las. O Herbert já me disse que poderia se apresentar no palco com cadeira de rodas. Só não gostaria que esse fato se tornasse uma atração à parte.
Existe alguma previsão para a volta dos Paralamas?
Os Paralamas ensaiam semanalmente. A freqüência dos ensaios vai aumentar, como parte do tratamento do Herbert. Antes do acidente, a banda se preparava para gravar um novo disco. Muitas novas composições já estavam sendo ensaiadas. Os ensaios atuais dão prosseguimento ao trabalho, de onde foi interrompido. A atenção está concentrada na criação dos arranjos para essas músicas inéditas. Herbert pode até não se lembrar que se lembra dessas músicas (sei que é difícil entender como isso pode acontecer...), mas na hora do ensaio, quando Bi e Barone começam a tocar, ele as canta e toca como se não tivesse problemas de memória. De qualquer maneira, ainda é cedo para dizer quando a gravação do disco terá início.
Ele está recebendo algum tratamento psicológico?
Herbert recebe tratamento neuropsicológico, que é adequado para pessoas que sofreram lesões cerebrais. Segundo as conclusões de uma pesquisa da doutora Lúcia Willadino Braga, o processo de reabilitação tem melhores resultados com ajuda de familiares e amigos. Quando vamos ao Sarah, ela faz as avaliações e depois nos sugere exercícios e outros procedimentos para serem aplicados em casa, diariamente. A idéia é fortalecer os mecanismos que o cérebro do Herbert já está encontrando espontâneamente para contornar as dificuldades criadas pela lesão. O tratamento é necessariamente diferente para cada pessoa.
Ele já compôs músicas novas?
Sim, compôs uma canção - letra e música - há alguns meses. Fez outras melodias. E anotou várias idéias que podem ser aproveitadas em novas composições. Esse sempre foi seu método de trabalho: versos e trechos de melodias ficavam anotados por muito tempo, até que fossem transformados em novas músicas. Mas essa não é sua prioridade no momento. Antes do acidente já tinha um número de canções suficientes para um novo disco. O maior trabalho agora, que é um excelente meio para exercitar várias funções cerebrais, tem sido criar os arranjos em conjunto com os outros Paralamas.
Herbert fala muito em Deus durante a entrevista. Houve alguma mudança nele a respeito disso? Há uma aproximação com a religião, que possa ter efeitos na música?
Herbert sempre foi uma pessoa muito religiosa, com um interesse especial, como já declarou publicamente várias vezes, pelo espiritismo e pelo taoísmo. Essa característica também já estava presente em várias de suas composições (o exemplo que me aparece agora: "Os Grãos" têm muitas canções profundamente influenciadas por sentimentos religiosos, no sentido mais amplo que a religiosidade possa ter). Acho que qualquer pessoa que passa por um sofrimento extremo como o que Herbert está passando deve enfrentar algum tipo de questionamento religioso, sobretudo tentando descobrir um sentido para tanto sofrimento. Quando lhe mostrei o Tao Te King, no dia em que voltou para casa do hospital, ele disse em inglês (a língua em que conseguia se comunicar melhor naquele momento): "this is my medicine". Ele reza o tempo todo. Mas ainda é cedo para dizer que tipo de conseqüência esses acontecimentos vão ter no seu trabalho futuro. Uma coisa muito comum de acontecer com pessoas que sofreram lesões cerebrais é uma mudança radical em vários traços importantes de suas personalidades. Isso não parece ter acontecido ou estar acontecendo com o Herbert.
Quais serão as próximas etapas do tratamento no Rio ou outro local; chegou a ser noticiado por que o governo cubano teria oferecido tratamento para o músico (isso foi verdade?). Se for, a família recusou; por quê?
Pretendemos manter os tratamentos já iniciados. Estamos satisfeitos com os resultados. Achamos que no Brasil temos todos os recursos para um bom tratamento. Agradecemos aqui mais uma vez a oferta do governo cubano. Não recusamos esse e outros convites. Apenas achamos que no momento não é conveniente uma viagem internacional e estadias longas em hospitais.
Herbert, e - acredito - a maioria das pessoas que passam pela mesma situação, responde melhor ao tratamento perto de seus filhos e amigos, tentando reestabelecer o seu cotidiano.
Como é esse processo de reorganização do cérebro que foi mencionado na reportagem? Como é feito o acompanhamento disso?
Resposta dada pela doutora Lúcia Willadino Braga: "Após uma lesão cerebral ocorre um processo conhecido como "plasticidade neuronal". Isto significa que o cérebro se reorganiza para que outras áreas do cérebro assumam as funções das áreas comprometidas pelo acidente. Através de uma avaliação neuropsicológica mais completa, ou seja, da análise de como estão as funções de planejamento, memória, leitura, escrita, fala, compreensão, cognição, percepção visual, resolução de problemas, criatividade, flexibilidade mental etc, pode-se analisar se a pessoa já está utilizando novas estratégias para resolver problemas relacionados com as áreas do cérebro que foram lesadas. Caso a pessoa já esteja buscando novos caminhos a família e a equipe de profissionais vão procurar reforçar a utilização destas novas estratégias, caso ainda não esteja vamos ajudá-la a encontrá-los.
Um exame chamado de ressonância magnética funcional permite que se avalie o cérebro em funcionamento. Enquanto a pessoa está dentro da máquina ela pode fazer diversas atividades (falar, calcular, tentar se lembrar de fatos ou nomes, planejar etc) e após o exame podemos observar as redes neuronais os caminhos no cérebro) que utilizou para realizar cada tarefa. Com a ressonância funcional descobrimos as áreas cerebrais que estão sendo utilizadas para substituir as áreas lesadas e a família, os amigos e os profissionais podem ajudar para que no cotidiano a pessoa exercite bastante estas áreas visando uma recuperação mais rápida e efetiva.
A combinação destes exames (avaliação neuropsicológica e ressonância funcional) e a participação da família permitem um trabalho de reabilitação baseado em dados reais, mais precisos e cientificamente fundamentados. Isto direciona mais adequadamente o processo de reabilitação, o que permite uma re-inserção social mais rápida."
Hermano Vianna