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Domingo, 02 de junho de 2002, 01h05
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Divulgação
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A colombiana Betty, a Feia, que a Rede TV! começou a exibir na segunda-feira, dia 27, é bastante diferente das novelas mexicanas que o telespectador brasileiro está acostumado a assistir. Não só pelas características da personagem central, que tem aparência horrenda e não lembra em nada as mocinhas tradicionais, mas também pelo tom da obra. Em lugar dos vales de lágrimas provocados pelas novelas mexicanas, a trama colombiana promete algumas risadas. Talvez resida aí o segredo do sucesso que a novela alcançou nos mais de 20 países nos quais foi exibida. A veia cômica fica clara logo na primeira cena do primeiro capítulo, quando uma câmera percorre o ambiente da empresa de confecção Eco Moda como se fosse o olhar de Betty, que chega para uma entrevista para o cargo de secretária. De forma curiosa e criativa, a câmera evolui pela empresa registrando as reações assustadas e nada sutis dos funcionários diante da aparência de Betty. Ela chega à sala de Gutiérrez, responsável pela seleção das candidatas, junto com a bela Patricia Fernandez, que disputa com ela o cargo. O jogo da câmera continua enquanto as duas discursam sobre sua formação e experiência. O vasto currículo de Betty contrasta com a falta de experiência de Patrícia, cujo maior feito é ter cursado seis semestres de um curso de finanças. A câmera só registra Betty em resposta à maldosa pergunta de Gutiérrez: "Por que não colocou sua foto no currículo?", à qual a feiosa dá uma desculpa qualquer. Na verdade, a resposta está na cara. Na cara pavorosa da economista. Betty, interpretada por Ana María Orozco, não difere das mocinhas das tramas convencionais apenas pela aparência desconcertante, pelos figurinos absurdos e por adereços como óculos fundo de garrafa e aparelho nos dentes. Ao contrário de suas colegas sofredoras, ela se diverte bastante, inclusive com piadinhas sobre sua estética desprivilegiada. As conversas com o amigo Nicolás - Mario Duarte -, tão sinistro quanto ela, são verdadeiras lições de como ter senso de humor diante das próprias limitações. O ambiente no qual Betty passa a trabalhar é marcado pelo conflito entre Armando Mendonza, o típico galã gomalinado, vivido por Jorge Enrique Abello, e Daniel Valencia - Luis Mesa -, o vilão de plantão, que faz de tudo para roubar o cargo do mocinho. Daniel é irmão de Marcela Valencia, a bela e ciumentíssima noiva de Armando, que faz marcação cerrada de seus galanteios às belas modelos que circulam pela empresa. A princípio, Marcela comemora a escolha de Betty para o cargo de secretária do noivo. Mas a tranqüilidade logo vai embora quando a competência da moça feiosa começa a atrair a admiração de Armando. Não é preciso ser um telespectador dos mais atentos para perceber que a história vai terminar em romance. E também não é difícil imaginar que o patinho feio vai fazer as vezes de heroína ao defender seu amado das garras do maldoso Daniel. Ana María Orozco convence como a feia e divertida Betty, enquanto Mario Duarte constrói um ridículo Nicolás, que faz lembrar uma versão estragada do boneco Ken, companheiro da Barbie. Há uma certa artificialidade no Armando de Jorge Enrique Abello, e o vilão de Luis Mesa é extremamente forçado. A dublagem tem nível bastante superior ao que normalmente se vê no SBT, escapando da recorrente falta de sintonia entre voz e expressão labial, embora alguns personagens, como Nicolás e Daniel, reproduzam a tradicional fala cantada. O cuidado da Rede TV! com a novela transparece também na abertura, para a qual foi feita uma versão da música original. O capítulo de estréia rendeu à emissora picos de 5,5 e média de 4 pontos no Ibope, deixando-a em quarto lugar na briga pela audiência. Além de algumas interpretações vários níveis acima do natural e passagens bastante previsíveis no enredo, certos detalhes não deixam o telespectador esquecer que está diante de uma trama enlatada. Os cenários da Eco Moda, por exemplo, são muito artificiais, não conseguindo reproduzir com veracidade um ambiente de trabalho. Por outro lado, para acentuar a importância da beleza no ambiente que cerca Betty, a novela abusa de clichês como homens galanteando mulheres bonitas nas ruas, nos escritórios ou seja lá onde for. De qualquer forma, pelo que se viu nos primeiros capítulos, pode ser que Betty, a Feia não faça feio.
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Renata Petrocelli
TV Press
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