Sábado, 15 de junho de 2002, 00h29
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Luiza Dantas/CZN
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Reynaldo Gianecchini sabe muito bem o que o espera. Para viver o protagonista de Esperança, nova novela das oito da Globo que estréia nessa segunda, dia 17 de junho, vai ter de ter saúde para gravar dezenas de cenas por dia durante oito meses, conviver com o aumento do assédio dos fãs e ter sangue frio para ouvir as críticas quanto a sua performance na produção assinada por Benedito Ruy Barbosa. O ator de 29 anos, com duas novelas no currículo, garante estar totalmente preparado, tanto psíquica quanto fisicamente, para interpretar o pianista e escultor Toni, um italiano que resolve tentar a sorte no distante Brasil do início dos anos 30. "Eu senti o peso de viver um protagonista das oito na minha estréia em Laços de Família. Hoje tenho noção da minha responsabilidade", avalia Reynaldo. Com um jeito introvertido - fala baixo e se movimenta cadenciadamente -, o ator paulista de Birigui deixa transparecer um momentâneo fascínio pelo diretor de Esperança. Para Reynaldo, que nem imaginava fazer esta novela após As Filhas da Mãe, Luiz Fernando Carvalho é dono de uma inteligência brutal, além de extremamente sedutor. "E também é excepcional na hora de gravar", derrama-se o ex-modelo internacional. Empolgado com o seu primeiro personagem de época, Reynaldo ouviu os conselhos do diretor e promete cantar e tocar, de verdade, em Esperança. "Estou estudando para valer, pois vou tocar Chopin. Aliás, já estou tocando", garante, do alto dos seus 1,86 m e 80 kg. E Reynaldo pode até dizer que está "dando o sangue" pela novela. Nas gravações na Itália, uma passagem marcou literalmente o ator. Ao dar seqüência às cenas em que seu personagem cai durante uma corrida de asnos, logo no primeiro capítulo da trama, Reynaldo foi pisoteado por um animal. Resultado: parte de seu braço sofreu vários arranhões chegando a ficar em carne viva. "Acho que vou ficar marcado para sempre", brinca o ator, abrindo a camisa para exibir o ferimento. por Rodrigo Teixeira TV Press Você se sente preparado para encarar novamente um protagonista? Nesta novela meu personagem realmente é o condutor da história. Mas nunca acho que é o protagonista absoluto. Porque em novela nunca se sabe se o personagem vai continuar em alta ou se diluir para o desenvolvimento de outros. Claro que é uma responsabilidade protagonizar uma novela das oito. Senti o peso e a cobrança em Laços de Família. Foi terrível. Muito difícil. Hoje tenho noção da responsabilidade. O Toni é um personagem difícil, que tem uma carga dramática enorme. Sei da dificuldade, mas não dá para ficar preocupado com a crítica. O artista não tem de ficar pensando nisso. Estou preparado, até quanto à carga de trabalho. Este é o seu primeiro personagem de época na tevê. É mais fácil do que interpretar um papel contemporâneo? Por um lado é mais difícil, porque tem de se prestar atenção na maneira de falar. Não usar o coloquial. Mas para falar a verdade estou achando mais interessante de fazer, porque dá mais elementos para o ator. Também, pela primeira vez, estou compondo um personagem que não sou eu. Isso ajuda na interpretação. Fazer sempre um cara parecido com você é difícil. Até inibe. Quando é um personagem diferente de você, vira uma máscara. Tudo que você fizer cabe, porque não é ninguém parecido com você. Dá para brincar mais. Chega a ser um alívio, então, viver um personagem que tem pouco a ver com você? É um fato muito importante. Na verdade, nem pensava em fazer esta novela. Lembro que o Raul Cortez em As Filhas da Mãe já falava que iria fazer. Eu nem estava cogitado. Fui para os EUA depois do final de As Filhas e recebi um telefonema do Luiz me chamando. Fiquei surpreso. Ele disse que iria me esperar para conversar. Pensei: "Fazer novela. De novo!?!". Mas no momento que sentei com o Luiz Fernando, já sabia que iria fazer esta novela. Porque ele é extremamente sedutor no convite. Foi irrecusável. Confesso que tive de largar o projeto de uma peça e um filme. Não pensava em outra novela tão cedo. Mas o personagem é apaixonante. Você fala que aceitei porque era diferente. Claro que não queria fazer mais uma novela com um personagem parecido comigo. Isso é um fator. Mas este personagem é tão bonito que foi impossível recusar. Onde você busca inspiração para compor o Toni? Tem detalhes que me trazem o personagem. Estudo italiano com uma professora e também piano. A música é importante porque o Toni é sensível, filho de um pianista. Toquei na adolescência, mas agora tenho que tocar Nocturne pesado para aprender e tocar de verdade nas cenas. Faço aula de canto também. O Toni sempre canta Parlame D'amore Mariu para a amada. Tem tudo isso, mas a composição não pára por aí... Como assim? Foi importante ter ido à Itália para entender como que o personagem viveria numa cidade daquelas, que tem uma aparência quase medieval. Foi ótimo conviver com a população do local por um mês. Me trouxe muita coisa. Não conhecia aquela região e deu para entender o jeito dos italianos. Mas o mais importante na composição foram as conversas com o Luiz Fernando. É comovente ouvir ele contar como é o Toni e a associação que faz com o herói Ulisses. Com isso, ele me oferece muitos dados. Na direção ele é excepcional. O Luiz Fernando tem uma inteligência que é brutal. Isso ajuda muito. Como você compara a maneira de dirigir do Luiz Fernando com a dos outros diretores com que você já trabalhou? São diferentes. O Ricardo Waddington foi meu primeiro diretor e bastante severo comigo em "Laços de Família". Às vezes ele é de gritar com você e sempre está à beira do estresse. Minha estréia foi meio estressante mesmo. Mas adoro o Ricardo, gosto do trabalho dele. Ele foi um bom diretor para mim. Depois veio o Jorginho Fernando em As Filhas. Por ser da comédia, ele é mais relaxado. O Jorginho é muito mais dinâmico em cena, faz várias marcações e diálogos rápidos, sem muita pausa. Foi ótimo estar naquele núcleo de comédia, com um ritmo que não tinha feito ainda. Agora o Luiz Fernando aprofunda mais. Ele só fica contente e pára a cena se ver a alma do personagem por trás do olho do ator. Então não é só a direção de texto. É uma direção que envolve você entrar no estado de espírito do personagem naquela cena. Me considero um cara de sorte por estar sendo dirigido por ele. O "italianês" do personagem dificulta a interpretação? Muitos italianos ficam indignados com a maneira que se fala na novela. Mas as pessoas precisam saber que o problema é que, por mais que os personagens sejam italianos, a gente não pode falar italiano. Seria preciso legenda e o público não quer ver legenda. A Globo faz a obra para o Brasil inteiro, que atinge todos os tipos de classes e tem gente que não tem paciência para ler legenda. Então, a gente fala uma licença, uma língua criada. Um português com sotaque italiano para o público entender melhor. E este "italianês" não me dificulta. Tem uma hora que incorpora e fica natural, pois o Benedito já escreve italianado. Então já se estuda com aquela música italiana na cabeça. Então, você não está sentindo dificuldades para interpretar o Toni? Nenhuma. O que tenho de ter é cuidado para conduzir o papel. Conseguir mostrar o mundo interior dele e a esperança, principalmente. O sonho dele vir ao Brasil ficar rico. Então, a esperança não está nos diálogos, mas na alma dele. Este é o maior objetivo em todas as cenas. Passar a esperança de construir uma vida em uma terra nova e o que vai vir a partir de então. Sem dúvida que o fato de reviver através do Toni o que centenas de emigrantes fizeram naquela mesma época, dá um peso maior ao meu personagem e me enche de responsabilidade como ator. Analisando hoje em dia, você arriscaria dizer que foi meio que uma loucura pegar um personagem tão grande em Laços de Família, já que era sua estréia na televisão? Claro que foi. Mas sem loucura a gente não vive. É bom de vez em quando. Foi uma loucura de todos. Minha, do autor Manoel Carlos, do diretor Ricardo Waddington... Apostar num cara que não tinha experiência... Claro que tinha feito teatro. Não saí da passarela e fui diretamente para a televisão. Mas era realmente verde. Na verdade, me acho ainda inexperiente. O Antônio Fagundes fala que a pessoa leva pelo menos 10 anos para se tornar um ator. Ainda faltam sete para mim. Veja também: » Gianecchini busca inspiração para Toni em seus antepassados » Confira o especial
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Rodrigo Teixeira TV Press
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