Houve tempo que Tarcísio Meira só fazia papel de galã. Seus personagens, invariavelmente, era sempre heróicos, românticos, impolutos... Hoje, aos 63 anos, ele já se dá ao luxo de interpretar tipos asquerosos, como o Dom Jerônimo de A Muralha, um fanático religioso que morreu na fogueira da Inquisição, ou simplesmente cômicos, como João Medeiros, um fotógrafo "bon vivant" que trazia "piercings" na orelha.Mas Tarcísio Meira nunca foi tão longe. Em O Beijo do Vampiro, ele interpreta uma autêntica criatura das trevas, que se alimenta de sangue humano. "Num certo momento da carreira, tive o maior cuidado em não desapontar o público. Ele esperava de mim uma postura de super-herói. Hoje, ele já espera qualquer coisa de mim", brinca.
Nos últimos anos, os tipos heróicos, como João Coragem, de Irmãos Coragem, e Capitão Rodrigo, de O Tempo e o Vento, cederam lugar a outros mais odiosos, como Renato Villar, de De Corpo e Alma, e Raul Pellegrini, de Pátria Minha.
Mesmo sem se importar em manter a imagem de "homem-dos-sonhos-das-donas-de-casa", Tarcísio pediu ao autor Antônio Calmon que o protagonista da próxima novela da novela das sete fosse um "vampiro comedido", desses que não machucam nem crianças nem velhinhos. "Não é o fato de ser ou não mau-caráter que torna o personagem bom. Ele é bom quando você acredita nele e, principalmente, quando o público acredita no que estou fazendo", teoriza.
Mas como acreditar - ou fazer o público acreditar - em vampiros? O próprio Tarcísio não sabe responder. Limita-se a abrir o sorriso largo, uma de suas marcas registradas. "Como é um vampiro? Sei lá! Nunca vi um...", diverte-se. Mesmo assim, admite que o figurino e a maquiagem ajudaram e muito na assustadora composição do personagem. Quando Boris deixa de ser um homem de negócios e vira criatura das trevas, Tarcísio recorre a lentes de contato e a próteses dentárias. "Quando me olhei no espelho, tive medo de mim mesmo. Cheguei a ter pesadelos à noite. Você já viu um negócio desses?", indaga, brincalhão.
Astro por acaso
Se não tivesse sido reprovado no exame de português para o Instituto Rio Branco, o paulistano Tarcísio Magalhães Sobrinho teria seguido a carreira diplomática. Dois anos depois, recebeu um convite do ator e diretor Sérgio Cardoso para interpretar um japonês na peça O Soldado Tanaka, em 1959.
A estréia na tevê aconteceu no ano seguinte, quando fez uma ponta no episódio Noites Brancas, dirigido por Geraldo Vietri para o Grande Teatro Tupi. Para dar sorte, Tarcísio adotou um nome artístico que contabilizava 13 letras. A superstição, porém, não deu o menor resultado. "Minha estréia foi um desastre. No dia seguinte, pensei em desistir da carreira", admite.
Na tevê, Tarcísio Meira protagonizou algumas cenas memoráveis. Uma das preferidas do ator é quando João Coragem, de Irmãos Coragem, descobre um veio de diamantes. Ele se emociona também ao falar da cena em que Renato Villar, de Roda de Fogo, ouve do médico que tinha pouco tempo de vida. "Aquela novela foi audaciosa. De cara, você já ficava sabendo que o protagonista ia morrer. Isso criou um certo incômodo", recorda.
Mais recentemente, elogia a seqüência em que Geremias Berdinazzi, de O Rei do Gado, compreende que o filho morreu na guerra e que, em seu lugar, veio uma medalha. "Apesar de ser uma participação curta, levei emoção às pessoas", garante.
No cinema, Tarcísio nunca conseguiu repetir a bem-sucedida carreira da tevê. Sua estréia aconteceu no simplório Casinha Pequenina, de 1962, onde contracenou com Amácio Mazzaropi. Segundo ele, os papéis mais marcantes foram vividos em Beijo no Asfalto, de Bruno Barreto, e Eu, de Walter Hugo Khouri. No primeiro, o ator interpreta o bancário que tem a vida transtornada depois de atender à última vontade de um acidentado, de receber um beijo na boca. Já no segundo, Tarcísio vive um magnata obcecado por sexo, sempre às voltas com lindas mulheres. "Os papéis que fiz foram quase todos bons. Fiz algumas bobagens, mas prefiro guardá-las para mim", disfarça.
Cumplicidade familiar
O nome de Tarcísio Meira está intimamente associado ao da mulher, a atriz Glória Menezes. Até hoje, o casal já contracenou em 15 novelas e se transformou num dos mais populares da tevê brasileira.
Os dois estão juntos desde 62, quando se conheceram num teste da radionovela Um Pires Amargo, na Rádio Tupi. A primeira vez que trabalharam juntos foi em 2-5499 Ocupado, na TV Excelsior, um ano depois, a primeira novela diária da tevê brasileira. "O texto era muito chato e mal-escrito, mas teve uma audiência inesperada", avalia o ator. Mesmo assim, a empatia do casal funcionou de imediato. A parceria cênica rendeu até um seriado quinzenal Tarcísio & Glória, exibido pela Globo em 1988.
Muito antes disso, em 69, a Globo bem que tentou desvincular a imagem do casal e escalou Tarcísio em A Gata de Vison e Glória em Passos dos Ventos. O público não aprovou muito. "Somos indispensáveis um ao outro", brinca Tarcísio.
A parceria do casal também rendeu algumas boas gargalhadas. Algumas involuntárias. Em Sangue e Areia, a personagem de Glória chega a arrancar os olhos como prova de amor ao de Tarcísio. Já em Almas de Pedra, ela se faz passar por homem, mas acabou se apaixonando pelo eterno galã. Embora já tenha feito par com Vera Fischer, Dina Sfat e Bruna Lombardi, elege a mulher como a parceira ideal.
Em O Beijo do Vampiro, Tarcísio e Glória não chegam a contracenar. Pelo menos no início. Na trama de Antônio Calmon, a atriz interpreta Zoroastra, uma vidente muito atrapalhada. "Ela é uma espécie de bruxinha e tem lá os seus poderes", antecipa Tarcísio.
O trabalho em família, no entanto, não fica restrito ao casal. No ano passado, Tarcísio contracenou com seu filho em Um Anjo Caiu do Céu, do mesmo Calmon. Na trama, Tarcísio Filho era um dos muitos herdeiros de João Medeiros. "Foi uma experiência agradável e divertida. Não sei se terei outra oportunidade de contracenar com meu filho. Essas chances são raras", emociona-se.
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