Quarta, 12 de março de 2003, 09h53
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Cruise, Crow, Spielberg e Penn dizem de que lado estão
AP/Reuters
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» Veja galeria de fotos dos astros que são contra ou a favor da guerraHá uma onda de protestos nos EUA contra a possível e iminente guerra do país, capitaneada pelo presidente George W. Bush, contra o Iraque de Saddam Hussein. Uma tarefa fácil é encontrar votos pela paz no meio artístico. No entanto, alguns nomes importantes do showbizz como Steven Spielberg e Tom Cruise vão no caminho inverso e apóiam uma investida militar do outro lado do Atlântico. Contra a guerra? Sean Penn, Susan Sarandon e seu marido Tim Robbins, Madonna, George Clooney, Coldplay, Blur, Massive Attack, George Michael, David Byrne, Lou Reed, R.E.M., Dave Matthews e a lista segue quase interminável. Os quatro últimos nomes (Byrne, Reed, a banda R.E.M e Dave Matthews) fazem parte da Músicos Unidos Pela Vitória Sem a Guerra, uma reunião de artistas do meio musical que acreditam que a administração Bush está se apressando demais ao partir para um ataque preventivo contra o Iraque. Como outros, eles não se dizem fãs de Saddam Hussein, mas acreditam que a guerra possa alimentar um sentimento antiamericano e servir a propósitos da organização terrorista Al Qaeda, responsável pelos ataques de 11 de Setembro. Nesta terça-feira, dia 11, a atriz Jessica Lange e os atores Ethan Hawke e Steve Buscemi, entre outros em um pequeno grupo, entregaram uma primeira leva de assinaturas em prol da paz à missão americana nas Nações Unidas, em Nova York. Foram mais de um milhão de assinaturas, sendo somente 600 mil de americanos. Lange, que trabalhou em Cabo do Medo, resumiu bem o sentimento pacifista: "Os americanos são pessoas com moral e isso requer que não deixemos nosso governo mentir sobre a necessidade dessa causa. Essa guerra não vai servir à bondade básica do povo americano e esse não deve ser o caminho que devemos seguir", explicou a atriz. Os que acreditam em Bush Mas o que pregam Spielberg e Cruise, nomes fortes da indústria do entretenimento que recentemente colaboraram no filme Minority Report – A Nova Lei? Pregam exatamente o contrário, apoiando o governo em suas crenças e informações sobre o perigo representado por Saddam. "Se Bush tem informações seguras de que Saddam Hussein está fabricando armas de destruição em massa, não posso fazer outra coisa senão apoiar as políticas do governo dos Estados Unidos", disse o diretor de A Lista de Schindler. Cruise vai pelo mesmo canal: "Não tenho todas as informações que Bush tem, mas acredito que Saddam cometeu muitos crimes contra a humanidade e contra seu próprio povo". Desde que deram essas declarações, os dois sumiram das frentes pró-guerra. Essas duas vertentes, a favor e contra a guerra, começaram discretamente uma batalha na semana que passou, quando executivos da indústria do entretenimento - e provavelmente lobistas pró-guerra - sugeriram que a avalanche de protestos seria simplesmente uma ignorância dos fatos por parte dos artistas. Um segundo setor quer evitar o assunto em eventos não políticos, como o Oscar, que já garantiu que vai ser transmitido ao vivo no dia 23 de março, com guerra ou sem guerra, segundo o organizador da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, Gil Cates. Um exemplo do citado patrulhamento direitista - que se assemelha muito aos tempos da "lista negra" de Hollywood nos anos 50, em que artistas eram acusados de comunistas e excomungados pela América - é a declaração de Daniel Day-Lewis, concorrente ao Oscar deste ano por Gangues de Nova York, em entrevista esta semana: "O que querem que eu diga? Se expressamos nossas idéias políticas, a imprensa nos critica depois". Aparentemente, a organização do Oscar pediu para que os indicados e futuros ganhadores evitem falar no tema guerra. Cãozinho de estimação do governo Aliás, esse foi um pedido que o Grammy fez com um pouco mais de veemência aos seus convidados, apesar de negar. A cantora Sheryl Crow, que compareceu em alguns eventos usando uma camiseta com a inscrição "A Guerra Não É a Solução" (The War is Not the Answer), teria recebido um pedido para que não politizasse sua participação na cerimônia "neutra" do Grammy, no dia 23 de fevereiro. Acabou usando uma correia de violão com “Não a Guerra” no lugar. Fred Durst, do Limp Bizkit, quer que a sombra da guerra vá embora o quanto antes. Sharon Stone, pacifista, diz: "Eu, assim como o resto dos americanos, estou rezando para que nosso país não chegue à guerra". Susan Sarandon, uma espécie de Jane Fonda do novo século, tem o seguinte discurso: "Amo a América, por isso quero meu país em segurança e em paz. Tenho filhos. Sei que haverá milhares de pessoas mortas e feridas numa guerra. E algo assim não temos de aceitar sem um debate. Temos de discutir e discutir rigorosamente". O marido vai além e crítica a imprensa: "Desde 11 de setembro de 2001 tem o papel de cãozinho de estimação do governo, não ousa fazer críticas, teme ser acusada de falta de patriotismo". Dentre os criticados está um ex-casal, Sean Penn e Madonna. Ele viajou até o Iraque e recebeu duras investidas. Madonna baseou todo seu novo álbum, ainda não lançado, em uma visão dura em relação ao american way of life. "Não sou anti-Bush nem pró-Iraque, sou pró-paz", diz ela. "Fiz uma música e um vídeo que expressam meus sentimentos sobre a cultura e os valores, além das ilusões sobre o que as pessoas acreditam ser o sonho americano, a vida perfeita". Pelo andamento das negociações e pressões, uma possível guerra contra o Iraque pode significar uma crise existencial nas crenças americanas sobre seu papel no mundo.
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Ricardo Ivanov/Redação Terra
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