» Veja especial sobre o OscarA onda de publicidade positiva para o diretor Roman Polanski parece ter morrido na praia. Depois das indicações ao Oscar com o filme O Pianista, o diretor parecia estar a caminho de resolver seus problemas com a Justiça americana. Ele é fugitivo desde 1978, quando escapou para a França depois de assumir a culpa por ter relações sexuais com uma menina de 13 anos.
Hollywood já tinha começado a pensar no final feliz com sua volta à terra do cinema, até porque a menina é hoje uma mulher de 39 anos que não vê mal nenhum no retorno do diretor e no arquivamento do caso. Sua pedra no sapato foi a divulgação esta semana, pelo site The Smoking Gun, do depoimento dela à Justiça em 1977, com descrições gráficas do que aconteceu entre os dois.
No interrogatório, Samantha Gailey (que agora tem o sobrenome Geimer) contou que ela e Polanski tiveram relações sexuais com penetração, que houve sodomização e que ele fez sexo oral nela. O diretor também deu à menina champanhe e tranqülizantes (Quaaludes).
O pior de tudo é que a menina diz claramente no depoimento que pediu para ele parar, o que caracterizou a situação como estupro. Segundo a menina, ele também perguntou se ela tomava a pílula. O estupro ocorreu na casa – em Hollywood Hills, na famosa Mulholland Drive – do ator Jack Nicholson, que não estava presente.
De acordo com o depoimento, o diretor parou apenas quando uma mulher – não-identificada no documento – bateu na porta do quarto. Reportagens da época afirmavam que a testemunha seria a namorada de Nicholson na ocasião, a atriz Anjelica Huston. Polanski teria levado a garota até lá com a desculpa de fotografá-la para a revista Vogue francesa. Já tinha ocorrido uma sessão fotográfica anterior.
Sua defesa na época também alegou que a menina já tinha tido relações sexuais duas vezes antes, com outros homens. O diretor fugiu dos Estados Unidos antes da divulgação de sua sentença (depois de ter passado 40 dias na prisão) e mora na França desde aquela época. Se voltar à América, vai ser preso.
Havia uma luz no fim do túnel para seu caso nos últimos meses. Geimer, que há muito tempo já tinha dito que ele deveria ser perdoado, fez novamente o circuito de programas de TV (Larry King Live, da CNN) e deu uma entrevista para o jornal Los Angeles Times. "Não há dúvidas de que o que ele fez foi horrível", disse ela na época. "Não tenho raiva dele, nem simpatia."
"Acho que o sr. Polanski e seu filme deveriam ser avaliados apenas pela qualidade do trabalho. Não acho que seja justo levar em consideração acontecimentos do passado. Quem não fugiria se soubesse que iria pegar uma sentença de 50 anos de um juiz que estava mais interessado na própria reputação do que em um julgamento justo?". Ela mora atualmente no Havaí e tem três filhos.
Polanski, por sua vez, concorre ao Oscar de melhor diretor por um filme que mostra o próprio sofrimento: sua história pessoal, como no filme, também é a de um judeu polonês que escapa do Holocausto. Sua mãe morreu em um campo de concentração. Para completar, o filme ganhou vários prêmios dos Brits e dos Césars, as principais premiações européias. Filmes sobre o Holocausto também são bem-vindos pelos eleitores da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, dos quais muitos são judeus.
Em 1969, ele esteve envolvido em outra tragédia. Sua mulher, a atriz Sharon Tate, que estava grávida, foi assassinada de maneira cruel pelos seguidores do maníaco Charles Manson. O diretor estava no exterior na época.
Polanski, que está com 69 anos, já concorreu a Oscars por Chinatown, Tess e O Bebê de Rosemary. O Pianista, que disputa sete estatuetas, também ganhou a Palma de Ouro do Festival Internacional de Cinema de Cannes, na França, em maio do ano passado.
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