Os primeiros capítulos de Pedro, O Escamoso têm apenas quinze minutos cada, mas já servem para mostrar que a nova trama colombiana da Rede TV! não é a versão masculina de Betty, A Feia. Muito diferente da tímida Betty, Pedro Coral é um rapaz mulherengo, que não pode encontrar um "rabo de saia" pelo caminho. Embora também seja uma mistura de romance com comédia, Pedro dosa estes estilos de uma forma que encontra mais paralelos com as novelas criadas por Carlos Lombardi. Inclusive porque o personagem-título se encaixaria como uma "luva" em qualquer uma das criações do autor, marcadas por um humor irreverente e um romantismo que passa longe da ingenuidade. Mas, como a referência imediata é a conterrânea Betty, A Feia, é possível encontrar analogias entre as duas tramas. Em Betty, a graça fica concentrada em elementos da estrutura da novela, como figurinos e cenários com um aspecto brega, beirando o ridículo. Mas, em nenhum momento, o texto rende frutos neste sentido. Já o drama da mulher sem qualquer atrativo físico que se apaixona pelo chefe "bonitão" é tratado com o devido ar de inocência que caracterizam as produções de língua espanhola.
Pedro, O Escamoso aponta para um caminho distinto. Na história do rapaz, que foge de uma pequena cidade do interior da Colômbia por um "problema de saias", o humor é mais sarcástico e é possível sentir a importância do texto neste ponto. Toda vez que se depara com uma mulher minimamente atraente, Pedro Coral perde-se em pensamentos libidinosos. A interpretação do ator Miguel Varoni é pitoresca e divertida. Um exemplo disso fica por conta do momento em que conhece Dona Nídia Pacheco, uma "ousada" mulher de meia-idade e que lhe dá abrigo ao chegar na capital colombiana, Bogotá. "Nossa! Que carnão!", pensa Pedro, com uma expressão de desejo no olhar, assim que vê Nídia se aproximar. Aliás, é preciso que os tradutores e dubladores tomem cuidado com alguns termos usados pelos personagens, uma vez que podem perder o sentido por aqui.
As tiradas irreverentes do protagonista da novela fazem até lembrar alguns tipos conquistadores criados por Carlos Lombardi, autor de Kubanacan. O Escamoso poderia muito bem ser interpretado por atores brasileiros como Humberto Martins, Marcelo Novaes e, principalmente, Marcos Pasquim. Desde que as primeiras imagens de Miguel Varoni, o intérprete do próprio Pedro, foram veiculadas, começaram as comparações com o Esteban de Kubanacan, por causa da pele morena, os cabelos cacheados e o físico musculoso.
No que diz respeito ao romance entre Pedro e a bela Paula Dávila - o fio da meada da novela -, tudo ainda está muito no começo. Além disso, o encurtamento dos primeiros capítulos - para manter as duas produções simultaneamente no ar - causou um prejuízo na apresentação da trama. De qualquer modo, o tratamento dado à história de amor central da novela dá sinais claros de que Pedro, O Escamoso segue por um caminho diferente do "conto de fada" de Betty, A Feia e aposta mais no lado "canastrão" do protagonista.
O visual de Pedro Coral é um dos destaques da produção colombiana. Se, em Betty, a ambientação e os figurinos são cafonas ao extremo, aqui toda a extravagância concentra-se no vestuário de Pedro. Roupas como "shorts" minúsculos, camisetas apertadas e blusas floridas recebem o reforço de um cabelo no melhor estilo "Sidney Magal". Tudo para compor um estereótipo de rapaz do interior. Tanto que sua primeira providência, ao ser contratado como motorista de uma empresa, é renovar o guarda-roupa.
No emprego, uma coincidência o coloca como motorista privativo de Paula Dávila, vice-presidente da firma - cargo que alcança devido ao desejo do chefe em seduzi-la. Curiosamente, Pedro não sabe dirigir - mas trata logo de aprender. É com essas pequenas mentiras que Pedro começa a mostrar suas "escamas" - uma vez que o termo que acompanha o personagem é uma expressão colombiana para definir pessoas que tentam parecer o que, de fato, não são.