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Sábado, 21 de junho de 2003, 20h51

Pedro Paulo Figueiredo/CZN

Durante muito tempo, Marcos Wainberg trabalhou na Globo sem contrato. Conhecido por interpretar o diretor histérico que contracenava com Paulo Silvino no extinto quadro Severino do Zorra Total, ele só ganhava cachê. O ator até queria resolver sua situação, mas faltava oportunidade. Um acidente durante um espetáculo no Recife, porém, obrigou Marcos a se afastar do humorístico. Impossibilitado de gravar, ele também deixou de ganhar. Foi então que tomou coragem e telefonou para um antigo amigo David Grimberg, atual diretor de teledramaturgia do SBT. "Faltou um pouquinho de boa vontade por parte da Globo. Afinal, qualquer diretor de televisão pode quebrar a perna e usar muletas, não é mesmo?", indaga.

Aos 54 anos, Marcos Wainberg não quer saber de reclamar da vida. De muletas mesmo, gravou Jamais Te Esquecerei, do SBT, como Victor, um autêntico vilão de dramalhão mexicano. Obcecado por Beatriz, personagem de Ana Paula Tabalipa, ele chega a matar Álvaro, interpretado por Felipe Folgosi, sem saber que se trata do próprio filho. Por isso mesmo, Marcos deixou de ouvir o bordão "Cara, crachá! Cara, crachá!" para ouvir impropérios, como "velho babão" e "sem-vergonha". Satisfeito com a repercussão do personagem, Marcos retoma o espetáculo Diálogos do Pênis, enquanto aguarda convites para voltar à tevê. "Na minha profissão, mais do que em qualquer outra, a experiência é o que conta", acredita.

Como foi fazer um típico dramalhão mexicano depois de tanto tempo dedicado ao humor?

Foi difícil para caramba. No humor, você faz sempre a mesma coisa. Só muda o mote da piada. Já na novela, cheguei a decorar 40 cenas por dia. Ralava o dia inteiro e ainda gravava noturnas. À noitinha, quando chegava no hotel, decorava os capítulos do dia seguinte. Foram quatro meses de muita ralação. Mas, cada dia que passava, era uma vitória diferente que eu conquistava. Estou muito feliz com o resultado.

Como o público está reagindo às "mau-caratices" do Victor?
O público já consegue separar ator de personagem. Felizmente, ainda não apanhei na rua. Mesmo assim, eles mexem muito comigo. Acham um absurdo o Victor estar correndo atrás da Beatriz, que é quase uma menininha perto dele. Hoje em dia, o público aceita melhor o envolvimento de mulheres mais velhas com garotões do que vice-versa. Alguns me chamam até de "velho babão". Mas acho que o Victor teve o fim que merece porque ele morre no final da novela... Chega de impunidade, não é mesmo?

Você não ficou constrangido por ter de ligar para o SBT e pedir um emprego?
Não. Conheço o David Grimberg desde 1975, quando nós fizemos a novela Xeque-mate, na Tupi. Depois, voltamos a trabalhar juntos na Manchete. Ano passado, quebrei a perna no Recife. Caí do palco no meio de um espetáculo. Quando voltei ao batente, a Globo começou a cancelar as gravações do Zorra e não me dava qualquer satisfação. Foi aí que liguei para o David. No mesmo dia, ele mandou eu ir lá. "Mas eu estou de perna quebrada...", frisei. "Paciência, grava a novela de muletas...", respondeu ele.

Mas você guarda mágoas da Globo?
Eu já estava com vontade de resolver a minha situação mesmo. Não dava para continuar gravando sem contrato. Minha história na Globo é longa. Sempre fui um ótimo "escada" para comediantes. E sempre tive contrato na casa. Os cachês são invenção da Marluce. O Chico Anysio tem razão: "A Globo cresceu esbanjando e vai quebrar economizando..."

O SBT já terminou de gravar Jamais Te Esquecerei. Você não fica inseguro por não saber qual vai ser seu próximo trabalho?
Inseguro, não... ansioso. De trabalho, não tenho do que reclamar. Porque, melhor do que o teatro, sinceramente, não há. Até em termos econômicos, ele dá um retorno muito bom. Se eu estiver bem de saúde, vou ter sempre bons trabalhos. E trabalhos cada vez melhores. Porque eu também, felizmente, estou cada vez melhor...

André Bernardo
TV Press
            


 
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