O último dia de desfiles prêt-à-porter do São Paulo Fashion Week, na segunda-feira, confirmou que o verão 2001/2002 terá um pé no Havaí e outro na tradicional sensualidade brasileira -- ou seja, nada de androginia por aqui. Com a volta das saias compridas, drapeados, babados, rendas e bufantes, pode-se arriscar também sem medo em scarpins, botinhas de bico fino, botons, paletós de um único botão, bermudas surfista, camisas havaianas e adereços punk.
Com tudo isso, não há como ficar por fora da tendência que já começou a aparecer nos corredores da Bienal e deverá estar logo mais nas ruas do país.
GEOMETRIA, HEAVY METAL, KING KONG E MUITO JEANS
Alexandre Herchcovitch mostrou na segunda-feira uma mulher que não se importa em ser sexy, mas sim autêntica.
Com perucas que escondiam quase todo o rosto (como no desfile masculino), as top models apareceram com calças de cintura baixa e suspensório, vestidos longos com laços nas laterais que formavam sutis drapeados, macacões superlargos com gola em V e fendas nas pernas, além de vestidos tipo anos 20, de corte reto, acinturados e na altura dos joelhos. No final do desfile, as estampas geométricas marcaram os looks, revisitando os anos 70.
Houve uma certa inspiração na cultura chinesa, destacada sobretudo por rosas de metal que estamparam as roupas. Outra estampa que também lembrou o tom oriental foram as rosas desenhadas em saias, calças, blusas e vestidos como se fossem rabiscos despretensiosos.
O paraense André Lima não conseguiu esconder sua paixão pelo heavy metal, mas apesar de ter peças muito bem acabadas e de corte interessante, a singularidade do trabalho perdeu-se em meio a uma exagerada produção.
Ele fez vestido de noite com estampa de pôster do Iron Maiden e chamou os integrantes de um grupo cover do Kiss para assistir ao desfile da primeira fila -- vestidos a caráter.
Sua coleção, porém, foi muito além da paixão roqueira. Trouxe um verdadeiro caleidoscópio de referências e cores para a passarela. Eram espanholas, ciganas, dançarinas de tango, revelando uma mulher superproduzida por bijuterias, braceletes, brincos, cintos de moedas, turbantes, chapéus de toureiro e esquisitas máscaras de caveiras.
A Cavalera atacou de cupido e acendeu a paixão entre o King Kong e a Monga que, apaixonados, resolvem passar férias no Havaí.
O streetwear da marca abusou de t-shirts, camisas, bermudas surfista, vestidos, saias, jaquetas e moletons, todos estampados com o personagem que aterrorizou nos anos 30 e sua "namorada". No desfile, as modelos saíram de dentro de um King Kong inflável -- daqueles que se vê em postos de gasolina de beira de estrada.
Bananas e corações também apareceram por todo o lado. Em botons de acrílico, bolsas, estampas e bordados. Uma peça que chamou atenção foi um macacão dênim masculino com uma enorme banana siliconada nas costas.
Os vestidos tinham saias bufantes, drapeadas ou em tiras que lembravam as ráfias havaianas. Corpetes de couro com corações, além de um shortinho com pequenos corações estampados tinham graça e jovialidade.
A Zoomp mostrou que é realmente competente ao fazer jeans de qualidade que são cada vez mais desejados pelos modernos no exterior. Apareceram calças com estampas de motivos praianos, mas sempre muito discretas, com lavagens claras.
Macacões, calças corsário e minivestidos vieram seguindo os cânones das próximas coleções de verão: tinturas em evidência e um certo ar dos anos 80.
As modelos tiveram a raiz dos cabelos escurecida, em uma clara referência à musa do grupo Blondie, Deborah Harrey, uma das musas da New Wave. A derrapada ficou mesmo para os sapatos salto agulha que fizeram várias modelos novatas saírem descalças da passarela. Só mesmo as tops Fernanda Tavares e Mariana Weickert para segurar o rebolado com um salto finíssimo curvado em direção à sola dos pés.