Quinta, 11 de julho de 2002, 11h
Drica Lopes critica alguns aspectos da televisão
brasileira, comenta o início de sua carreira conta
os planos para sua vida pessoal e profissional. Confira
logo abaixo a entrevista completa:
TRABALHO
Como foi o início de sua carreira?
Eu fazia teatro amador em Belo Horizonte (MG) e tinha
acabado de passar num concurso para fazer o filme O
Grande Mentecapto (1989), quando soube que o Jô
Soares ia apresentar um show de humor na cidade. Eu
sempre fui louca para trabalhar com o Jô, então
descobri o hotel em que ele estava hospedado, mandei
flores e uma carta, dizendo que era sua fã e
que gostaria de fazer um teste para trabalhar com ele.
Comprei o ingresso para ir no espetáculo naquela
mesma noite e, quando estava em casa me arrumando, minha
mãe me chamou, dizendo que tinha "uma tal
de Jô" no telefone. Eu fui atender e nem
acreditei quando vi que era o Jô. Ele disse para
eu dar algum sinal quando ele entrasse no palco para
saber quem eu era, mas não tive coragem: ele
entrou com uma das flores que eu havia mandado para
ele, contando que tinha recebido de uma mineira muito
simpática, e ficou procurando por mim na platéia,
mas eu morri de vergonha. Só fui procurá-lo
no camarim após o show. Ele disse que falaria
para a produção dele me procurar quando
começassem os testes e meses depois me ligaram
do Rio de Janeiro, pedindo para que eu fosse lá.
Fiz o teste, passei e comecei a ir toda semana gravar
o programa humorístico dele na Globo, até
que mudei definitivamente para o Rio. Eu estudava Relações
Públicas em BH, daí quando fui para o
Rio transferi para Jornalismo, e acabei concluindo em
São Paulo.
E o que veio depois do trabalho com o Jô?
O Jô foi para o SBT e eu continuei com ele.
Fiquei na emissora seis anos e também fiz os
seriados O Grande Pai, Alô Doçura,
a Escolinha do Golias e A Praça é
Nossa. Paralelamente, fazia peças do Walcyr
Carrasco nos teatros em São Paulo.
Como era trabalhar com humor?
Foi um trabalho muito enriquecedor, embora eu sentisse
que existia um certo preconceito com quem fazia esse
tipo de programa. As pessoas com quem trabalhei são
de uma generosidade incrível, você vê
que eles fazem isso por amor, não para aparecer.
Ronald Golias, Paulo Silvino, Lúcio Mauro, Consuelo
Leandro, Carlos Alberto de Nóbrega são
pessoas maravilhosas, que infelizmente não têm
o reconhecimento que merecem.
Quando começou o seu trabalho jornalístico?
Eu estava fazendo A Praça é Nossa
e recebi um convite para apresentar o Circuito Night
and Day na CNT/Gazeta.Tinha acabado de me formar
e estava a fim de exercer esse lado informativo. Pedi
para o Carlos Alberto me liberar e ele disse que não
teria problema conciliar os dois trabalhos, pois eram
bastante diferentes. Era muito legal fazer esse programa,
pois dávamos dicas culturais e procurávamos
encontrar sempre coisas interessantes.
Como você deixou definitivamente o humor?
Depois do Night and Day eu recebi um convite
para apresentar o Gazeta Esportiva. Deixei o
SBT e pedi três meses para me aprofundar no assunto,
pois o que eu conhecia de futebol era o que todo brasileiro
sabe. Comecei a almoçar com o Orlando Duarte
e ler tudo o que eu podia para aprender mais. Quando
eu já me sentia segura, comecei a opinar no programa,
pois eu tinha essa liberdade. As pessoas ficavam alucinadas
quando eu discordava do Chico Lang no ar!
E daí você deu uma nova guinada na
carreira?
Sim, eu comecei a trabalhar com público jovem.
A Gazeta tinha um projeto de um programa de auditório
ao vivo nas sextas-feiras chamado Mulheres Especial.
Eram duas horas e meia de programa e eu entrei de cabeça,
sem fazer piloto nem nada. Toda semana eu sentia que
emagrecia quase 1 quilo de tanta ansiedade. Era muito
bom, sempre gostei de contato com o público e
da adrenalina do programa ao vivo. Depois disso veio
o Clipper e agora o Mundo Clipper.
Qual
é o seu grande sonho profissional?
Eu queria ter um programa ao vivo na avenida Paulista,
ali mesmo na frente do prédio da Gazeta. Minha
platéia seriam as pessoas que passam por ali
diariamente. Eu já dei essa sugestão,
mas a estrutura para isso é um pouco complicada.
TELEVISÃO
Como você avalia o trabalho com o público
jovem?
Acho mais difícil, porque com eles não
tem meio-termo. Ou eles gostam ou não gostam.
Também não dá para ficar tentando
se passar por adolescente. Você tem que ser mesmo
meio tia, meio irmã mais velha, não adianta
tentar agir como eles.
Você já passou por alguma saia-justa
na televisão?
Uma vez no Night And Day eu entrevistei o Zezé
di Camargo e Luciano quando eles estavam em início
de carreira. Eu falei "guardem o nome dessa dupla,
que ainda vai fazer muito sucesso: Zezé di Camargo
e Marciano". Até hoje nós rimos disso!
Que críticas você faz a televisão
brasileira de um modo geral?
Eu acho que a televisão precisa se profissionalizar
mais. Atrás das câmeras melhorou muito
o nível técnico, mas a linha editorial
está perdendo, o nível está muito
baixo. Não acho que a tevê tem a obrigação
de informar, isso quem faz é a família,
a escola e o governo, mas temos um compromisso com a
informação. A tevê precisa informar
para que o povo possa formar opinião. Não
acho que as pessoas gostam de baixaria, senão
a Globo não estaria onde está.
O que você acha da explosão de novas
"celebridades"?
Isso só desvaloriza o trabalho da gente. Hoje
todo mundo quer trabalhar na tevê, mas existe
um trabalho árduo por trás das câmeras,
não é só colocar a cara e aparecer.
Você tem que ter um compromisso com a informação.
É preciso embasamento, senão você
perde a credibilidade. Para aparecer, qualquer um faz
qualquer coisa, porque quem é profissional de
verdade não vai fazer. O erro é dos donos
das emissoras, que permitem isso. Espero que essa moda
seja passageira.
E a cobrança pela audiência? Você
é pressionada para dar Ibope?
A audiência não tem que ser uma obrigação
do apresentador. O meu compromisso é o de fazer
um trabalho da melhor maneira possível. Não
me venham cobrar Ibope, pois não aceito isso.
O fato de você ser casada com o Willem van
Weerelt (diretor do Programa do Jô na Globo)
atrapalha ou ajuda na vida profissional?
Desde o início do nosso relacionamento nós
combinamos de separar bem as coisas. Não vou
ficar pentelhando o meu marido para me arrumar um programa
na Globo, mesmo porque não tenho esse deslumbramento.
Quando o conheci nós dois trabalhávamos
lá. Meu interesse é fazer um programa
bem feito, não interessa a emissora, pode ser
até na tevê comunitária. Ele também
não interfere no meu trabalho. A nossa postura
é essa, temos essa ética profissional
que acaba ajudando a não desgastar o relacionamento.
O que você gosta de assistir na televisão?
Telejornais, boas minisséries, o Programa
do Jô, a Marília Gabriela e o Altas
Horas. Gosto muito do Serginho Groisman, ele é
o pai desse tipo de programa para adolescentes. Considero
o meu programa filho do Programa Livre. Entre
meus atores preferidos, estão Glória Pires
e a Lídia Brondi, sempre foram uma inspiração
para mim. Também curto o Pedro Cardoso.
CORPO E MENTE
Quais são seus cuidados com o corpo e a saúde?
Eu faço academia todos os dias, musculação
e esteira. Sou "falsa magra", preciso perder
uns quilinhos. Em casa evito comer carne, mas se aparecer
um churrasco ou feijoada, como sem problemas. Também
é raro tomar refrigerante. Durmo de oito a dez
horas por dia e não sou muito de beber, no máximo
champanhe ou vinho tinto de vez em quando, depende muito
do meu estado de espírito. Infelizmente eu fumo,
mas estou tentando parar. Uso protetor solar sempre,
até dentro do estúdio e parei de comprar
cremes importados famosos. Prefiro ir ao dermatologista
e usar uma fórmula feita especialmente para mim.
Você é religiosa?
Sou católica e rezo sempre. Vou à igreja
pelo menos duas vezes por mês, mas se eu estiver
parada no trânsito e tiver uma igreja por perto,
sou capaz de parar e entrar. Estou sempre agradecendo
a Deus, acho que mais agradeço do que peço.
Sempre faço o sinal da cruz antes de entrar no
programa e quando entro no meu carro seguro um terço
que ganhei de uma amiga.
Você é supersticiosa?
Não, eu sou muito intuitiva. Quando eu sonho
ou pressinto algo ruim, acaba acontecendo, não
exatamente igual, mas às vezes é impressionante.
Uma vez sonhei que o Willem tinha sido assaltado. Não
consegui contar para ele logo de manhã, e quando
finalmente liguei para ele, tinham acabado de roubar
o relógio dele na rua, foi horrível.
CASAMENTO E FAMÍLIA
Como é a relação com a sua família?
Tenho duas irmãs e um irmão e aprendemos
com meus pais que a união é a coisa mais
importante. Também achamos que humildade é
fundamental, meus pais sempre nos passaram muitos valores,
e o principal foi não diferenciar as pessoas
pelo o que elas têm. A relação com
a família do Willem também é muito
boa, eu costumo dizer que casei com a família
dele!
Como vocês começaram o relacionamento?
O Willem já trabalhava com o Jô na época
em que fui para o Rio. Ele ainda namorava com a Isadora
Ribeiro, que era minha amiga. Depois que eles terminaram
eu ainda relutei um pouco em ficar com ele, pois não
queria misturar as coisas. No fim ele saiu da casa dos
pais e foi morar comigo.
Por que vocês só resolveram oficializar
a união no ano passado, após 13 anos juntos?
Foi mais para facilitar as coisas quando tivermos
filhos. Nunca tive esse sonho de casar de branco na
igreja. Logo que a gente se conheceu ele queria casar,
mas eu achei melhor a gente se estabilizar primeiro,
depois fui eu quem quis e ele não, daí
finalmente entramos num acordo e eu comecei a correr
atrás de tudo para o casamento. Na verdade, acho
que o casamento foi mais uma oportunidade para reunir
nossas famílias e os amigos, foi uma confraternização.
E como vão os planos de aumentar a família?
Pois é, acho que agora estou num momento legal
para isso. Já estamos tentando. Quero ter pelo
menos três filhos, acho um número bom.
Chega uma hora que a vida parece perder um pouco o sentido
sem filhos. Nós sentimos falta de mais gente
em casa!
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Daniela Salú
Redação Terra
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