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Entrevista - Gêmeos Flávio e Gustavo
"A beleza incomoda as pessoas", afirmam gêmeos

Sexta-feira, 13 de dezembro de 2002, 10h

Foto: Rogério Lorenzoni / TerraOs gêmeos Flávio e Gustavo chegaram à televisão graças ao sucesso que faziam pela beleza. Altos, fortes e iguais, chamavam a atenção por onde passavam, até que um amigo resolveu apostar na dupla e lançar os irmãos no mundo artístico. Bem-sucedidos e assediados pelas mulheres, eles reclamam da discriminação que sofrem pela aparência: "Acham que o bonito não pode ser inteligente". Leia a seguir a entrevista completa:


BELEZA E SAÚDE

Quais os cuidados que vocês têm com o corpo e a saúde?
Gustavo - Nós freqüentamos academia desde os 15 anos. Estamos malhando há dois com o Renato Ventura aqui na Companhia Athletica (as namoradas dos gêmeos, Solange Frazão e Syang, também freqüentam a academia). Todo dia fazemos uma hora de musculação e mais uma hora de alguma atividade aeróbica, como boxe, bicicleta ou corrida. Não comemos frituras nem doces e passamos longe de cigarro, bebidas e drogas. De resto, é só escovar os dentes e tomar banho que está ótimo.

Como vocês vêem as drogas e o álcool?
Gustavo - Eu não gosto de artistas que vendem saúde na tevê e você encontra na noite com um baseado na mão. Não dá para respeitar isso, porque o consumo de drogas envolve um ciclo, que acaba causando a morte de um monte de gente. Não que o meu estilo de vida seja o melhor, mas não curtimos drogas nem bebidas. Acho que o artista tem o compromisso de passar bons valores, afinal ele é um formador de opinião.

Vocês acham que a beleza atrapalha?
Gustavo - Você incomoda as pessoas. Já deixamos de participar de vários programas - não vou citar quais - por causa de diretor com ciúme da mulher, e olha que nunca nos sentimos bonitos. Hoje em dia parece que os padrões estão invertidos. Você vê atores da novela das oito dizendo que não são mais um "rostinho bonito", parece até que eles querem ficar feios, deixam umas barbas, uns cabelos estranhos. As pessoas perdem a sinceridade. O cara joga bem na Copa, engorda a conta bancária e já dizem que ele é lindo. Outro dia eu peguei uma Mercedes para dar uma volta e as pessoas no trânsito ficavam agressivas comigo. O cara que tá num Golzinho olha e pensa "o cara quer passar na minha frente só porque tá com um carro bacana", quando na verdade eu estava dirigindo como qualquer um.

Vocês fazem sucesso principalmente pela beleza. Como imaginam que será a vida depois que não puderem mais contar com ela, como planejam o futuro?
Gustavo - Eu nunca me senti bonito e acho besteira esse papo de pensar no futuro. Eu não penso no futuro, estou vivendo o presente, não vou perder minha vida agora.

Foto: Rogério Lorenzoni / Terra CARREIRA

Como está a vida profissional de vocês?
Flávio - Além de fazer vários eventos pelo país, estamos apresentando o Detonando na rádio Transamérica junto com a Syang, mas ele será reformulado. Há um projeto para o ano que vem de estrear o nosso programa, o Gêmeos.com. Será um semanal com dicas de internet, mas não sabemos se a Syang vai continuar com a gente. O nosso grande sonho mesmo é um programa de meia hora na televisão sobre entretenimento. Está tudo pronto, só falta o patrocínio. O Mário Velloso está com a gente nessa, vamos comprar espaço em alguma emissora e mostrar dicas de viagem e lazer no Brasil, e se possível, no exterior.

A concorrência na tevê não assusta?
Flávio - O Ibope acabou um pouco com a tevê, pois a qualidade acabou ficando meio de lado. Faltam programas educativos. Eu vejo esses programas policias e fico com medo de sair de casa por causa da violência. Nosso programa iria ao ar aos sábados, às 15h, mas a concorrência não assusta. A princípio não estamos preocupados com audiência.

Como vocês encaram as críticas ao trabalho de vocês?
Flávio - Quando começamos a fazer reportagens para o Superpositivo recebemos muitas críticas, mas eu não ligava. Comecei a trabalhar cedo com minha família, fazia faculdade e malhava, não precisava provar nada para ninguém.

O que vocês faziam antes da fama?
Gustavo - Eu entrei na faculdade de Ciências Contábeis, enquanto o Flávio fez Economia e depois mudou para Administração. Trabalhávamos na empresa da minha mãe. Ela tem uma confecção de cama, mesa e banho em Cataguazes (MG). Eu trabalhava como representante e o Flávio como gerente administrativo.

Como foi o início da carreira?
Gustavo - Nós nunca pensamos em trabalhar na tevê. Um irmão de um amigo nosso, o Rodrigo (Palhares, empresário da dupla) vivia insistindo que tínhamos que ir para São Paulo tentar algo nessa área, pois a gente chamava muita atenção por onde passávamos, pois éramos grandes e gêmeos, não era muito comum. Acabamos vindo morar em Moema em um apartamento emprestado e fomos nas agências. As pessoas diziam que não conseguiríamos trabalho porque éramos muito fortes. Depois começamos a tentar espaço na televisão. Tudo era mágico, me sentia muito especial ao ver aqueles apresentadores falando de nós.

Flávio - O Fantástico tinha feito uma matéria sobre gêmeos onde nós aparecemos, daí começamos a receber telefonemas de gente interessada e aparecemos também no Faustão e na Adriane Galisteu. Daí surgiu o convite da Band para o Superpositivo. O Otaviano foi maravilhoso com a gente. Primeiro começamos fazendo uma brincadeira com a Feiticeira e a platéia, depois começamos a fazer reportagens também.

Vocês se decepcionaram com o meio artístico?
Flávio - Não é que eu tenha me decepcionado, mas vejo as coisas de uma maneira mais comercial. Hoje sou mais "empresário" do que "artista". Achava que as pessoas me chamavam para participar dos programas apenas porque gostavam de mim, sem considerar que eu ajudava a subir o Ibope e isso era comercialmente interessante para a emissora.

Como é a relação das fãs com vocês?
Flávio - No começo foi muito legal, porque os fãs dão um gás para você, elas são o termômetro do seu trabalho. Agora, principalmente depois da Casa dos Artistas, diminuiu o fanatismo, elas respeitam mais. Viram que somos pessoas comuns.

Vocês se consideram ricos?
Flávio - Não me considero rico e nunca fui materialista. Valorizo mais a amizade e um amor verdadeiro.

Gustavo - Eu sou rico de saúde. Materialmente eu tenho coisas que nem sonhei. Eu dou muito valor ao dinheiro, pois sei quanto custa ganhá-lo. Não consigo ver uma razão para se pagar R$ 3 mil em uma calça, por exemplo. As pessoas pensam que artista não tem conta para pagar. Pra gente é até mais difícil, pois não temos um salário no final do mês, nem posso dar cheque pré, afinal não sei quando terei dinheiro. Tenho que matar um leão por dia.

Valeu a pena participar da Casa dos Artistas?
Flávio - Claro que sim. Além do cachê que foi show de bola
, deu para repensar a vida. Eu não tinha tempo para nada, lembrei de amigos de infância que senti saudades, revi conceitos e acabei encontrando alguém muito legal (a personal Solange Frazão).

Como é a sua relação com a mídia?
Flávio - Eu acho que você tem que saber a hora de parar, senão daqui a pouco você está com 45 anos passando receita de bolo em programas da tarde. É um absurdo o cara chamar a imprensa para cobrir o aniversário do filho dele. Imagina a gente indo trocar de carro e chamando repórteres para ir cobrir.

Gustavo - Não podemos ficar vivendo em função da mídia, é ridículo. As pessoas se incomodam com a nossa beleza, dói nas pessoas maldosas. Por que o bonito é burro? Por que a loira é burra? Não vou falar que amo o Carlos Drummond de Andrade se eu não amo, não sou hipócrita. Você pega esses moleques de Malhação dizendo que se inspiram na Fernanda Montenegro. Por que eles não citam a Luana Piovani, que é da geração deles? Sem querer desmerecer os grades atores, mas é que todo mundo sempre fala a mesma coisa, parece que eles têm vergonha de ser o que são. Eu gosto de academia, de mulher, de viver, não vou ficar fingindo ser o que não sou.

Foto: Rogério Lorenzoni / Terra

FAMÍLIA E RELACIONAMENTOS

Como foi a infância de vocês?
Flávio - Nós nascemos em Belo Horizonte, depois mudamos para Recife e Cataguazes, onde passamos a adolescência. Era muito gostoso e tranqüilo, eram outros valores, tínhamos liberdade, não havia grandes diferenças sociais. Em uma cidade grande tudo é mais individualista. Nos separamos pela primeira vez aos 15 anos, quando fizemos um intercâmbio nos Estados Unidos de um ano. Eu fui pra Kansas e o Gustavo para Washington, foi muito sofrido ficar separados.

Vocês são bastante ligados à família. Como é a relação com a sua filha?
Gustavo - Eu tive essa filha (Georgia) quando tinha 17 anos, mas nos vemos pouco por causa do trabalho (ela mora em Belo Horizonte com a mãe). Me considerava mais maduro que a média dos garotos da minha idade, trabalhava em uma loja de shopping, mas não estava preparado para ser pai. Estava há um mês com essa pessoa (a pedagoga Raquel Starling, então com 21 anos) e primeira coisa que fiz foi perguntar o que ela queria fazer, pois sei que para a mulher ter um filho é uma coisa muito especial. A mulher só pode ter um filho por ano, já o homem pode ter quantos quiser. Eu poderia engravidar 50 mulheres hoje, era só fazer uma fila e começar a transar, já a mulher não. Ela disse que queria ter o filho e eu apoiei, assim como apoiaria qualquer decisão que ela tomasse. Tentei ver a gravidez com a razão e a emoção. Sabia que teria uma pessoa que dependeria de mim, que a criança não tinha culpa e que, independente de quem fosse a mãe, eu teria que cumprir o meu papel, mas também não senti nada de fantástico por ser pai. Até ganhei um charuto no dia, mas nem saiba o que aquilo representava no contexto.

O que fez você se interessar pela Solange?
Flávio - Eu sempre namorei mulheres mais velhas, mas não tanto quanto a Solange. Eu queria alguém que me agregasse valores, que me colocasse para cima, que tivesse caráter. Eu tive sorte pois minhas namoradas sempre me acrescentaram muito. Eu não estou preocupado se ela tem três filhos e é mais velha porque eu vivo o hoje. As pessoas já querem casar a gente ou esperam terminar o relacionamento para dizer "eu não falei que não ia dar certo?". Para mim já deu certo, nada precisa durar para sempre para dar certo.

O fato de vocês serem pessoas famosas dificulta a relação?
Flávio - Eu sou uma pessoa que adoro tocar, curto abraçar, pegar no braço e beijar as pessoas que gosto. E tenho várias amigas. Então, sempre que me viam com alguma amiga, vinham perguntar se estávamos juntos, fazer fofoca, mas eu não ligo para essa mídia. Eu gosto da mídia de entretenimento, não de fofoca. A Solange ligava muito para isso, mas agora parou. Eu não me importo.

Gustavo - A Syang e eu não ligamos para o que falam da gente.

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Daniela Salú
Redação Terra

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