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Entrevista Maurício Manieri
"Não me incomodo com especulações: fico na minha"

Terça, 11 de junho de 2002, 23h00

Foto: Alexandre Tahira/Terra Quando você começou a se interessar por música?
Quando tinha uns 6 anos, minha mãe comprou um piano para mim. Meus irmãos mais velhos já estudavam música, então eu me interessava muito. Me apaixonei quando comecei a tocar as primeiras notas... aos 7 anos já entrei em uma escola de música. Foi aí que fiz minhas primeiras apresentações e me apaixonei pelo palco.

E quando você decidiu que iria viver de música?
Na realidade eu queria desde pequeno, tinha sonho de ser maestro ou pianista clássico. Na infância participava muito de concursos, ganhava sempre. Mas a decisão efetiva aconteceu aos 19 anos. Estava cursando faculdade de engenharia, fazia estágio numa empresa e larguei tudo para trabalhar com música.

Qual foi a reação da sua família?
Meus pais não gostaram, rolou a maior treta, tive de sair de casa. Daí me mudei para São Bernardo do Campo e virei professor de música.

Como foi essa época em que você dava aulas? O que você tirou de proveito dela?
Dei aula durante uns 8 anos. Foi muito legal... neste período vivia ao lado do piano, tinha contato com música o dia inteiro, pude compor muita coisas. Ao mesmo tempo, ia conhecendo artistas, gravava jingles. Eu também dava aulas de canto, elas me deram um bom "upgrade" para meu desenvolvimento como cantor. Porque até então eu era conhecido no meio apenas como pianista. Toquei com a Patrícia Marx, Thaíde e DJ Hum, Déborah Blando, e participei dos shows no Brasil de bandas gringas, como o Double You.

E quais as maiores dificuldades que você enfrentou quando começou a investir mais na carreira de cantor?
Para ser sincero, não tive muita dificuldade... já conhecia o produtor Dudu Marote, ele foi o grande canal. Quando fechei minha fita demo ele levou direto para as gravadoras, e pouco tempo depois fui contratado.

Mas no início da sua carreira não aconteceu nada que tenha te chateado?
Ah, várias coisas! Lembro que uma vez fui com uns amigos para a boate onde um DJ amigo meu dava o som. Levei o meu primeiro single, Minha Menina, e como a casa estava bem vazia, pedi para ele tocar. Seria a primeira vez que eu ouviria minha música na pista! Eu e meus amigos ficamos a noite inteira naquela expectativa, e o cara não tocou. Daí pensei: poxa, se nem amigo meu toca a música, imagina quando isso vai tocar em algum lugar! Foi um momento bem delicado, fiquei muito chateado. Aconteceu muita coisa ruim no começo, como acontece com qualquer um. Mas mesmo diante disso, nunca deixei de persistir.

Como foi sua reação quando o público começou a te reconhecer? Quando você percebeu que estava famoso?
Não foi tão chocante assim. Tudo aconteceu aos poucos, fui me acostumando a isso. No fim das contas, estava preparado. Mas percebi mesmo o assédio quando ia aos shoppings do ABC e as pessoas começavam a me cercar.

Você tem um relacionamento bem estreito com suas fãs. Como é isso?
Preservo muito esta relação, tanto que conheço várias fãs pelo nome. Nos shows, em programa de TV, elas sempre são prioridade. Uma vez por ano faço um mega-encontro com os fã-clubes, que chega a reunir umas 500 pessoas. E de vez em quando marco eventos com as chefes dos clubes. É engraçado, porque eu mais faço carinho nelas do que elas em mim! Acho lindo este amor, essa dedicação incondicional. Também acho legal tirar a imagem de mito, fazer com que elas conheçam o Maurício artista e o Maurício pessoa comum.

E quais são os seus ídolos?
Tenho vários... Cassiano, Tim Maia, Marvin Gaye, Steve Wonder, R. Kelly, Racionais Mc's...

Seu novo disco, Apartamento 82, é bem pessoal, desde o título - que é o número do apartamento onde você morou no início da carreira. O que mais você imprimiu da sua vida neste trabalho?
Muitas coisas do cotidiano, minha história, minhas paixões, relacionamentos. Em Na Moral, por exemplo, conto como é a minha vida hoje, na estrada. Deixa Rolar fala do início da minha carreira, minha relação com meus amigos. Todas as canções têm pelo menos uma coisa a ver com minha vida.

E para a Shirley, sua namorada, você já compôs?
Claro, várias músicas! No primeiro disco, fiz Pensando em Você. Neste último, compus Se Quer Saber, que é o carro-chefe do álbum.

Apesar de vocês namorarem há um bom tempo, é muito difícil vê-los juntos na mídia. Ela não gosta de aparecer?
Não gosta mesmo. Para fazer o ensaio para esta revista, tive de insistir bastante. Porque ela não queria.

Você costuma manter sua vida pessoal bem preservada, mas as pessoas perguntam e cogitam muito porque você é um artista de massa. Isso te incomoda?
Não dá para evitar... depende da postura do artista, se o cara sabe se preservar. Tem pessoas que estão do teu lado que não são artistas, não querem aparecer na revista, ter sua vida vasculhada. Tomo cuidado para que minha exposição não atrapalhe a vida destas outras pessoas. Não me incomodo com as especulações, fico na minha, a fama tem dessas coisas. Se alguém especular coisas ruins sobre você, não há como se defender. As pessoas podem usar tua imagem sem responsabilidade, e isso é o que mais me preocupa. Mas não dá para evitar mesmo.

Você já disse que jamais participaria de um reality show. Por quê?
Não participaria de um programa como a Casa dos Artistas porque não quero que ninguém me veja acordando, tomando banho. Só quero tocar. Claro que se eu tiver atitudes legais que possam fazer as pessoas refletirem, como o Bono Vox, seria uma boa forma de divulgá-las. Mas acho que uma Casa dos Artistas não me acrescentaria nada, pelo contrário. Não condeno, mas quero tocar as pessoas com minha música. Já tem muita gente preocupada com a fama de 15 minutos, efêmera. Tento fazer minha música, seguir minha carreira com pertinência.

Mas alguns cantores utilizaram deste recurso para divulgar sua música. Isso não é válido?
Num espaço curto de tempo, sim. É uma forma de abrir as portas, mas isso não garante que o cara terá uma carreira sólida como artista. Tenho amigos que participaram deste programa, como o Xis, a Patrícia Coelho. São pessoas que têm talento, e isso tornou-as populares.

Quando você começou a trabalhar em seu novo álbum, decidiu dar um tempo na televisão. Até que ponto você acha que a exposição na mídia ajuda na carreira do artista e quando começa a atrapalhar?
A cultura do País faz com que as pessoas só se interessem por quem está na mídia. Claro que a exposição favorece para vender o show, os discos. Mas tudo o que aparece demais enjoa. Esse é nosso grande dilema: administrar a exposição. Meu maior ídolo de postura artística é a Marisa Monte. É uma cantora reconhecida que atinge o público popular, mas nunca aparece na televisão.

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Andréia Fernandes
Redação Terra

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