Análise: Gran Turismo 7 honra passado da série de corrida
Game acerta em cheio ao resgatar modalidades favoritas dos fãs
O primeiro Gran Turismo do PlayStation 5 (e provavelmente o último do PS4) é tudo o que os fãs da série de automobilismo da Polyphony Digital gostariam: um jogo bonito, com muitos carros para colecionar e um robusto modo 'single player', bem aos moldes dos jogos que fizeram a fama da franquia no passado.
É um jogo para fãs de carros, mais do que para apreciadores de disputas em alta velocidade: GT7 já chega com 400 veículos para colecionar e deve receber mais no futuro. A maior parte da frota é japonesa, mas há uma boa oferta de carros de outras nacionalidades e principalmente, de muitas categorias, desde aqueles que você pode ter na garagem de casa até super máquinas que a maioria das pessoas só poderia pilotar em sonhos ou, bem, em um videogame.
O jogo até oferece alguns modos de jogo diferentes, como o novo Rally Musical, que nada mais é do que uma corrida "arcade" em que o jogador percorre a pista ao som de uma música que serve como contagem regressiva. Passar por checkpoints recupera o tempo e o objetivo é ir o mais longe possível antes que a música acabe. Lembra muito aqueles arcades de corrida clássicos, como Out Run.
Há também corridas multiplayer, bem divididas entre provas casuais contra outros pilotos 'domingueiros' e o modo GT Sport, que é onde os profissionais do volante se enfrentam em disputas acirradas e ranqueadas. O competitivo de Gran Turismo é um dos cenários melhor organizados dos esports, mas é bom que a competição não seja o foco do game - nem todo mundo tem a paciência, disciplina e vontade para se tornar um jogador profissional, mas todo jogador quer se divertir.
Pausa para o café
O centro de Gran Turismo 7 é o mapa mundi, onde o jogador encontra as lojas de carros (novos e usados), uma oficina de tuning, um estúdio para fotografia e outras paradas, com destaque para o Café.
É nessa simpática cafeteria frequentada por amantes do automobilismo que você recebe missões para progredir na campanha solo, o modo GT Simulation. Essas missões vêm em cardápios e pedem que o jogador vença certas provas ou, mais frequentemente, adquira coleções temáticas de carros, como "veículos japoneses FR" ou "esportivos europeus", por exemplo.
Elas servem para direcionar suas atividades na pista: você é bem recompensado por cumprir as missões e elas não envolvem repetições tediosas. A progressão é lenta, mas orientada para que você aprenda e domine as técnicas de pilotagem, tornando-se cada vez melhor e mais confiante... e também dão aquela sensação de complecionismo que estimula a continuar jogando.
Comparado com os jogos da concorrência, não disponíveis para PlayStation, como Forza Motorsport, GT7 trabalha melhor esses elementos de progressão e de coleção. O jogador tem bastante liberdade para competir onde e como quiser, aprimorar seus carros e tirar novas licenças conforme sentir a necessidade.
O formato da campanha remete aos melhores jogos da série e tinha sido deixado de lado nos games mais recentes. Seu retorno foi muito bem vindo e deu ao jogo um senso de descoberta e uma organização que ao mesmo tempo em que aponta direções para a campanha, dá uma certa liberdade ao jogador: você pode adquirir novos carros nas lojas ou modificar alguns dos que já tem na garagem, brincar com as peças para deixar o bólido compatível com os desafios que vão surgindo, escolher onde e como vai correr.
Visual impecável
Gran Turismo 7 é muito bonito de se ver, ainda mais no PlayStation 5. Os gráficos super realistas reproduzem pistas, paisagens e veículos com uma fidelidade incrível - muitas vezes parece se estar olhando para filmes ou fotografias em uma revista de automobilismo e não para um game de corrida.
Na pista, o jogo ganha bastante com o uso do controle DualSense. Os gatilhos tem uma ótima sensibilidade e o feedback háptico passa a sensação do que está rolando por baixo do capô. Você sente no dedo a hora de trocar as marchas - não joguei com um volante e pedais, mas o controle do PS5 me passou uma nova sensação de pilotagem virtual.
Os fãs dos jogos anteriores vão gostar de saber que é possível selecionar diferentes configurações de controle: você pode guiar só com o direcional digital ou com as alavancas, por exemplo.
É um simulador?
Um ponto bastante debatido por quem conhece a série da Polyphony Digital é a questão do "realismo" na direção. Gran Turismo 7 segue fiel ao estilo da franquia e não chega a ser um simulador, mesmo passando longe da direção descompromissada de um Grid ou Need for Speed.
A jogabilidade de GT fica no meio termo entre simulação e arcade. A física é realista o bastante para fazer com que o piloto fique mais atento na hora de fazer curvas e tente evitar colisões, mais pelo prejuízo no tempo do que por qualquer outro motivo. Parece meio "falta de educação" sair pilotando de forma irresponsável.
Algo que incomoda muito é a falta de um sistema de danos estéticos nos carros: mesmo que você bata em todo mundo ou detone o carro num guard rail, o veículo continua intocado, sem nem sequer um arranhão na pintura ou lanterna quebrada. Para um jogo tão preocupado com a fidelidade visual, essa ausência é sempre muito estranha.
Os pilotos controlados pela IA, mesmo aqueles que levam os nomes de jogadores profissionais da GT Academy, como o brasileiro Igor Fraga, também não são lá muito convincentes: eles correm quase sempre em fila indiana, como se pilotassem sobre trilhos. Ainda não foi dessa vez que a IA de Gran Turismo ganhou vida própria.
Considerações
Gran Turismo 7 é uma ótima volta às raízes para a principal franquia de automobilismo do PlayStation, um jogo feito por e para quem é apaixonado por carros, com um modo carreira robusto e que apresenta uma verdadeira aula de história do automóvel.
É um jogo elegante e cheio de detalhes, generoso em conteúdo, com muito o que fazer dentro e fora das pistas, que honra o passado da série e aponta para um futuro promissor - mesmo que ainda tenha espaço para melhorar.
Gran Turismo 7 está disponível para PS4 e PS5.
*Esta análise foi feita no PlayStation 5 com uma cópia do jogo gentilmente cedida pela Sony.