Análise: Humankind é "Civilization" modernizado
Jogo da Amplitude não reinventa a roda, mas mostra que gênero pode evoluir
É impossível falar de Humankind, novo game do estúdio Amplitude publicado pela Sega, sem compará-lo ao clássico Civilization, da Firaxis. Por muito tempo, o game criado por Sid Meier reinou no gênero de estratégia por turnos e construção de sociedades, com foco no controle de territórios e evolução de cidades e impérios, estabelecendo as regras do nicho.
Recém-lançado para PC, Humankind chega para desafiar a franquia de Sid Meier pelo trono, e suas armas incluem uma interface moderna e mecânicas que dão mais flexibilidade e celeridade ao jogo.
Mudanças culturais
Assim como em Civilization, em Humankind o jogador gerencia a evolução de um império através das eras da História, indo da pré-história até o mundo atual. Ao todo são sete períodos: Neolíticio, Antiguidade, Clássico, Moderno, Industrial e Contemporâneo.
Porém, em Humankind o jogador não fica limitado a uma única civilização durante todos estes séculos: cada era oferece 10 culturas distintas, todas relevantes naquele período histórico. Cada uma tem suas características, bônus e preferências, o que dificulta aquelas situações típicas de Civilization, em que Gandhi se torna um conquistador militar, por exemplo.
O jogador até pode permanecer sempre com a mesma cultura escolhida lá no começo, mas o ideal é selecionar uma nova cultura ao entrar em um novo período histórico, e no final, ter um caldeirão cultural de pessoas, tecnologias e ideias em sua sociedade. Mesmo que você troque de cultura regularmente, elas têm características, distritos e unidades que seguem adiante no jogo.
Por exemplo, ao sair do Neolítico, você pode decidir jogar com a Babilônia para ganhar bônus em pesquisa científica na era Antiga. Mas ao chegar na era Clássica, escolher jogar com os Celtas e aproveitar seu bônus para ganhar mais Comida para expandir sua população.
Essa flexibilidade ajuda no crescimento do seu império e também a reagir aos outros povos que lutam pelo domínio mundial, dando mais variedade ao jogo: você não fica preso a uma única estratégia durante toda a partida. Também é um reflexo mais adequado do mundo real: civilizações e sociedades mudam ao longo do tempo.
Domínio territorial
Ao estabelecer uma nova cidade em Humankind, o jogador passa a controlar toda uma região e não só a área ao redor daquele assentamento. Cidades maiores e com mais influência podem absorver assentamentos menores. Escolher bem onde vai construir suas cidades é essencial: os mapas são divididos em hexágonos e cada um deles rende diferentes recursos.
É preciso aproveitar bem o espaço não só para extrair recursos naturais, mas para erguer distritos especializados em pesquisa, ensino, comércio e assim por diante. Também é necessário manter a região estável politicamente, ou lidar com inssurreições - que podem descambar para revoltas populares!
Boa parte do "mid-game", quando sua civilização está bem estabelecida e resta pouco território sem mapear, envolve proteger suas fronteiras e/ou expandir a influência do seu império, formando alianças militares ou comerciais, travando guerras e conquistando cidades dos oponentes.
Ritmo acelerado
As partidas de Humankind são longas, como é até esperado do gênero, mas tem um ritmo mais acelerado do que Civilization, por exemplo. Em alguns momentos, parece que o jogo está correndo através das eras - tanto o jogador quanto adversários controlados pelo computador precisam ser rápidos para alcançar os próximos períodos históricos.
Isso se deve tanto ao microgerenciamento mais enxuto, por ter menos cidades no tabuleiro, quanto pelo desejo de escolher primeiro para onde sua socidade vai na próxima era da História: quando uma nova cultura é selecionada por algúem, ela fica indisponível para os outros. Se você quer jogar com os Nórdicos na era medieval ou o Brasil na era contemporânea, corra para chegar lá primeiro.
Apesar do ritmo mais rápido, há momentos em que o jogo fica arrastado, com pouco para fazer além de esperar os turnos passarem até que as construções e unidades em produção fiquem prontas em suas cidades.
É um problema comum do gênero, que Humankind tenta resolver ao dar menos cidades para o jogador gerenciar, mas ainda assim, está lá e nas fases avançadas, quando as coisas demoram muitos turnos para serem produzidas, pode ser meio chato. Mas é como dizem, Roma não foi construída em um dia.
Decisões morais
Um elemento bastante interessante são as escolhas morais/filosóficas que o jogador faz como líder de sua sociedade: temas ligados a economia, industrialização, ecologia, imigração, religião... Humankind faz o jogador refletir sobre que socieade está construindo e mostra as consequências de suas escolhas.
Com tudo bem traduzido para o português, é um jogo de fácil compreensão, ainda que dominar suas minúcias possa levar um tempo para governantes de primeira viagem. Como os melhores em seu gênero, o game da Amplitude um jogo educativo, divertido e viciante.
Considerações
Humankind não reinventa a roda estabelecida por Civilization, mas mostra que o gênero tem sim espaço para novas mecânicas e aprimoramento.
Agora é esperar pelas muito prováveis expansões: a Amplitude é um estúdio conhecido pelo suporte continuado aos seus jogos, como Endless Legend, que conta com oito expansões. Humankind deve seguir esta mesma trilha.
A análise foi feita no PC, com uma cópia gentilmente cedida pela Sega.