Análise: Língua traz aventura otimista com bons puzzles
Jogo tem trilha e puzzles excelentes, mas o combate acaba sendo um pouco travado
Ao procurar por seu bode Gaiato, Beto encontra Fulô, criatura protetora dos animais e que precisa de ajuda para recuperar a língua do espírito Bumbá. Fulô é o contrário do protagonista, Fulô é debochada e falastrona, conduzindo toda a história como a Na'vi do nosso herói mudo, porém altruísta e corajoso ("é perigoso ir sozinho, tome esse estilingue").
As duas principais mecânicas de Língua são o estilingue espiritual, que serve tanto para atirar e libertar o espírito dos animais em sofrimento, quanto acionar boa parte dos quebra-cabeças do jogo, e o peão, bloqueando projéteis inimigos e sendo capaz de virar peças dos puzzles.
O combate em bullet hell envolve três tipos de inimigos: pássaros, lagartos e tatus, além do chefe que junta tudo em um só lugar. Os pássaros atiram um projétil e te seguem, enquanto os lagartos atiram três projéteis, mas são imóveis e os tatus atiram e são super ágeis, perseguindo e dando muito dano.
O jogo tem excelentes quebra-cabeças envolvendo salas inteiras de interruptores e pedras para você empurrar e a progressão de dificuldade e complexidade desses puzzles é bem satisfatória, não chegando a apresentar enigmas extremamente difíceis mesmo para mim, que não sou o maior solucionador de quebra-cabeças.
Para mim, o que mais me empacou foram as salas que misturaram o combate com os quebra-cabeças. Impaciente que sou, fui vítima da execução um pouco travada dos tiros de estilingue, precisando refazer muitas vezes alguns momentos de combate. Também não ajuda muito o fato de eu não ser muuito bom em bullet hell, culpa de muita ansiedade e pouca paciência.
Além das partes de resolução de puzzles e batalhas, o jogo conta com progressão gostosinha entre cavernas encantadas, planícies áridas e cidades interioranas. Um dos momentos mais divertidos e despretensiosos do jogo acontece nessa pequena cidade, quando precisamos realizar algumas tarefas interligadas para ajudar os moradores da Vila e conseguir a informação que precisamos. Nesse ponto lidamos com minigames de precisão e velocidade, catando frutas e eventualmente presenciando um término de relacionamento novelesco, além de precisar zanzar pelas ruas conversando com todos os npcs.
Mas o principal são a trilha e as mensagens de Língua. Enquanto o baião e forró retrôs embalam o tema da Fulô e do jogo, as músicas das dungeons têm aquele ar clássico de RPGs antigos. E também podermos ouvir um sambinha e um arrocha durante as aventuras na cidade. A trilha é completinha e pode ser ouvida no spotify, inclusive.
Enquanto mensagem, Língua transita entre a amizade, o otimismo e o perdão. Fala sobre a relação da humanidade com a natureza e os animais e como a sequencial destruição afeta o elo mais fraco dessa equação. Também pontua a importância da amizade entre Beto e Fulô e na superação dos traumas desse menino, que consegue encontrar seus verdadeiros propósitos durante a aventura, principalmente enquanto ajuda os outros.
Língua é um jogo extremamente fofo e cuidadoso, com uma pixel art lindinha e fases bem desenhadas. A trilha é o ponto mais alto, com as salas de quebra-cabeças logo atrás e equilibrando a frustração pelo combate um pouco lento. Definitivamente é uma ótima aventura e uma excelente estreia para Guilherme e o restante dos desenvolvedores. Fico curioso e ansioso para próximos projetos, acreditando no potencial da equipe de criar bons cenários e quebra-cabeças.