Análise: Metroid Dread é o melhor jogo do Switch em 2021
Nova aventura 2D de Samus Aram é clássico instantâneo
Entre as principais séries da Nintendo, Metroid é a que tem a trajetória mais irregular, marcada por altos, baixos e ausências, retornos às vezes triunfais, às vezes fracassados. Só por isso, o lançamento de Metroid Dread já é algo para os fãs celebrarem.
Metroid Dread fecha vários ciclos: fecha o arco dos games 2D da série, que começou no NES em 1986, e cujo último título, cronologicamente falando, foi Metroid Fusion, lançado para Game Boy Advance há 19 anos, em 2002. Fecha também longa ausência em consoles de mesa da Nintendo, cujo último jogo foi Metroid Other M, lançado para Wii em 2010.
Considerando os dados iniciais de vendas, Metroid Dread também apresenta potencial para se tornar mais conhecida do público geral, quebrando a escrita de ser uma "franquia" menos popular que gigantes como Super Mario e The Legend of Zelda.
Metroid Dread também já se estabelece como o jogo do ano para o Switch. Ainda que o console tenha tido um bom 2021 com alguns títulos de peso (Monster Hunter Rise, por exemplo), faltava "aquele jogo", e Metroid Dread ocupa esse posto.
Para além do console híbrido da Nintendo, Dread também tem os predicados para figurar nas listas de jogo do ano, considerando-se todas as plataformas atuais, e se o sub-gênero conhecido por "Metroidvania" tem ganhado popularidade entre os gamers, com ótimos jogos como Hollow Knight, Ori e Monster Boy in the Cursed Kingdom, Metroid Dread chega para relembrar quem de fato é a referência nesse tipo de jogo.
Rápido e preciso
Metroid Dread é um jogo à imagem de sua protagonista: rápido e preciso. O jogo não perde tempo em contextualizar o passado e contar a nova trama. O jogador assume o controle e já percebe como Samus é ágil, precisa, e tem o peso "certo", isto é, responde aos controles e reage às plataformas e paredes sem ser leve ou pesada demais. Os controles de Dread são tão precisos e na medida certa, que o jogador estranha quando retorna a um game anterior da série, ou a outros metroidvanias.
Essa fluidez também se faz presente no desenrolar do jogo. Ao contrário de Metroid Fusion, que frustrou com seu gameplay guiado, que restringia o progresso do jogador, Metroid Dread rola na medida certa. O computador Adam, retorna em Dread, mas dessa vez se limita a narrar as evoluções e descobertas que Samus faz durante sua jornada, no máximo sugerindo onde o jogador deve ir para prosseguir na aventura.
O game/level design de Metroid Dread brilha. Não há tediosas idas e vindas, as soluções nunca estão longe do jogador nem são lineares a ponto de serem óbvias ou estarem ao alcance imediato. É possível se perder em algum momento, e Dread pode enfurecer jogadores mais novos acostumados com gameplays guiados e explicativos, o jogo exige atenção constante e vontade real em explorar, pois blocos e paredes escondidas pululam nos vários setores presentes.
Game over, de novo e de novo
Metroid Dread faz os jogadores revisitarem uma tela cada vez menos presente hoje: o game over. Se Samus é ágil e começa tendo saltos e deslizadas como opções de esquiva, já os primeiros inimigos causam um certo dano e são agressivos. Dominar o contra-golpe de Samus (herdado de Metroid II: Samus Returns, de 3DS), se mostra essencial.
Os chefões são desafiadores, contando com várias fases de ataque e padrões que exigirão reflexo rápido. Alguns não são difíceis de serem lidos, mas em outros, o jogador levará uma surra inesquecível, para em seguida perceber que a luta poderia ter sido mais simples se um detalhe tivesse sido percebido antes.
Fonte de game overs, os EMMIS, perseguem Samus assim que ela entra em suas zonas de patrulha. É necessário driblar e fugir deles, pois caso seja alcançado, a tela de game over será o final típico. Esses encontros levam o jogador ao limite entre fugir desesperadamente e manter o foco no caminho a seguir.
Metroid Dread foi o último título a seguir a atual tendência de adicionar um perseguidor invencível no encalço do jogador, como nos games Resident Evil, com personagens como Mr.X, Nemesis e Lady Dimitrescu.
Clássico renovado
Desenvolvido pela Mercury Steam e supervisionado pela Nintendo, Metroid Dread é um game bem balanceado entre a presença de itens tradicionais, como a Morph ball e a Varia suit, e novidades como a camuflagem, escalada sobre plataformas magnéticas e a deslizada.
A experiência com Castlevania ajudou a Mercury Steam a adicionar um pouco mais de combate corpo-a-corpo, além mostrar Samus finalizando as lutas de forma mais acrobática que o de costume. Volta a caçadora de recompensas durona, longe da bobagem melodramática de Metroid Other M.
Tecnicamente falando
Ciente que o gameplay de Metroid exige muita precisão e fluidez, a equipe da Mercury Steam teve de fazer concessões para chegar ao melhor resultado. A escolha por "2.5D" foi acertada, pois a ausência de planos com profundidade e longas distâncias de desenho permitiu à Mercury Steam atingir performance de 60 quadros por segundo constante.
Conclusão
Metroid Dread passou rapidamente de surpresa à clássico do ano para o Switch, e hoje se torna o grande título que alivia os fãs temerosos que a série pudesse retornar à geladeira. A parceria entre Nintendo e Mercury Steam funcionou, indicando que a série ainda tem futuro pela frente.
Os fãs têm uma obra-prima em mãos que exige muitas horas para desvendar todos os segredos e itens escondidos, além de chefes e inimigos casca-grossa. Para os masoquistas de plantão, um modo hard é habilitado assim que a campanha normal é terminada.
Em resumo, "metroidvania" tem vários por aí, mas Metroid Dread nos lembra que Metroid é um só. A rainha voltou.