Análise: Neon White é um dos melhores games de 2022
Game da Annapurna brilha com ação rápida e fórmula viciante
Com uma pequena legião de fãs espalhados pelo mundo, o speedrun é a arte de finalizar jogos o mais rápido possível, independente de como. É nesse simples conceito que a Annapurna Interactive se inspirou para tornar Neon White, inesperadamente, um dos melhores lançamentos do ano.
Criado por Ben Esposito, da Angel Matrix e um dos responsáveis por What Remains of Edith Finch, o jogo incentiva o jogador a sempre buscar os melhores tempos, as melhores rotas e o momento ideal. Neon White é uma busca constante pela perfeição.
O jogador assume o papel de White - brilhantemente dublado por Steve Blum, responsável pela voz de Spike Spiegel, protagonista do cultuado Cowboy Bebop -, um assassino escolhido por Deus que acorda sem memória e tem uma chance única de viver de forma permanente no paraíso. Para isso, ele precisa superar outros assassinos, velhos conhecidos de outra vida, em uma competição para eliminar demônios que infestaram os céus.
Aparentemente simples em seu início, a narrativa pouco a pouco mostra White recuperando sua memória ao lado de outros personagens igualmente carismáticos e profundos. Enquanto a química entre eles impressiona - e é até um pouco ousada -, as fortes motivações pessoais e personalidades excêntricas conferem um charme extra ao jogo. Embora essa narrativa possa ser um pouco secundária em relação às mecânicas de jogabilidade, ela recompensa aqueles que têm paciência em acompanhá-la e tem um desfecho até emocionante.
Mas a paciência que se exige do jogador não é devido a uma história arrastada ou monótona - pelo contrário, cada diálogo é divertido e mostra o carinho dos desenvolvedores com esse aspecto do jogo -, e sim à vontade de encarar a próxima missão de White em sua busca pela vida eterna. Cada estágio de Neon White não dura, com poucas exceções, mais do que um minuto: é preciso correr entre construções divinas com movimentos que remetem ao parkour, enquanto elimina demônios com cartas que se transformam em armas celestiais.
É justamente nessas armas celestiais que Neon White encontra sua fórmula viciante. Cada carta tem, além do poder de fogo já esperado de um jogo que, em sua essência, ainda é um shooter, um efeito de descarte. Descartar pistolas, por exemplo, garante um segundo salto; descartar rifles de precisão - curiosamente chamadas Vá Com Deus - um impulso para frente capaz de eliminar instantaneamente qualquer demônio, e assim por diante. Essas cartas são encontradas em cada estágio e são as peças de um quebra-cabeça em busca da melhor estratégia e do melhor tempo.
Além disso, elas são apresentadas aos poucos ao longo de toda a campanha, o que garante uma curva de aprendizado que flerta com a perfeição: em nenhum momento Neon White será punitivo ou terá estágios extremamente desafiadores, apenas premiará a busca insistente pelos movimentos perfeitos. No começo, o jogador aprenderá o básico da movimentação e será apresentado a estágios ainda poucos engenhosos e cartas que têm efeitos mais básicos. Conforme avança pela campanha, será preciso colocar em prática tudo o que aprendeu e demonstrar precisão e habilidade para lidar com a velocidade imposta e para descartar cada carta no momento certo.
Outro fator que torna Neon White viciante e seu fator replay praticamente infinito, é a possibilidade de alcançar quatro rankings diferentes em cada fase: Bronze, Prata, Ouro e Ás. O ranking Prata libera colecionáveis que podem ser dados aos companheiros assassinos para liberar diálogos extras e missões secundárias.
Já o ranking Ouro libera dicas pelo estágio que podem economizar preciosos segundos e faz com que cada um desses estágios seja revisitado no mínimo uma vez, enquanto o ranking Ás dá acesso ao Placar de Líderes Global, onde cada centésimo de segundo será ainda mais recompensador para os mais competitivos. Reiniciar cada estágio em Neon White não significa que o jogador falhou, significa apenas que ele sabe que um tempo melhor é possível e que ele quer isso mais do que nunca - nem que isso custe 30 tentativas.
Considerações
Neon White é caótico, inteligente e desafiador. Seus gráficos fazem bonito e a dublagem dos personagens dispensa elogios. Por mais que, nas palavras do próprio Ben Esposito, o jogo seja uma “aberração para aberrações” e tenha um público mais restrito e, por isso, talvez passe despercebido pela maioria, é encantador e viciante de tal forma que torna qualquer tentativa de apontar defeitos, complicada.
Neon White chega sorrateiramente como um dos melhores jogos do ano e, sem dúvidas, o mais viciante deles. O jogo está disponível para PC e Nintendo Switch.
*Essa análise foi feita no Switch, com uma cópia gentilmente cedida pela Annapurna Interactive.