Análise: Tunic é uma incrível aventura indie
Game combina narrativa silenciosa com level design complexo e combate desafiador
Desenvolvido quase que inteiramente por Andrew Shouldice e publicado pela Finji, mesmo estúdio por trás de Chicory: A Colorful Tale, Tunic chegou de forma despretensiosa e sem chamar atenção no dia 16 de março, mas rapidamente encantou os jogadores. E talvez essa seja a palavra mais correta para descrever a sensação que a jornada da pequena raposa nos proporciona: encanto.
Num primeiro momento, Tunic parece apenas uma linda aventura isométrica, com uma trilha sonora agradável e muito semelhante à The Legend of Zelda: Link's Awakening. De fato, o jogo é inspirado e funciona como uma homenagem à aventura de Link, mas passa longe de se resumir apenas a isso.
Mostrar, não contar
Tunic não conta muito ao jogador - na verdade, quase nada - sobre sua história: praticamente todos os diálogos do jogo estão em uma linguagem própria, seu roteiro é inicialmente indecifrável, não há objetivos aparentes e sequer há dicas dos próximos passos.
A única maneira de se guiar em Tunic é através de diversas páginas de uma espécie de manual de instruções - semelhante aos manuais dos jogos da era dos 16 bits - que se encontram espalhadas pelo mundo. Por mais simples que essa ideia possa parecer inicialmente, ela funciona de maneira absolutamente genial. Embora esse manual também esteja na linguagem própria do jogo, ele deixa diversas dicas implícitas em imagens, alguns poucos rabiscos e raras explicações: estar atento a todos esses detalhes é vital para qualquer chance de sucesso.
Essa narrativa silenciosa é, além de inteligente, recompensadora: a intuição e cada passo da exploração levam o jogador rumo a cenários cada vez mais marcantes - a parte final é um espetáculo à parte - e revelam desfechos surpreendentes.
Exige habilidade
Mas não é só através da forma inusitada de contar uma história que Tunic se destaca. O combate é um de seus pontos fortes e, também simples, desafia. Embora existam outros itens que ajudem no combate, como uma Adaga e um Orbe Mágico, o jogo é centrado na perícia com espada e escudo - além de muita esquiva. A semelhança com Dark Souls não é mera coincidência, o jogo da FromSoftware é inspiração para Andrew.
Um ponto interessante é que não é possível aprender novas habilidades ou movimentos durante a jornada: a evolução é apenas nos atributos da simpática raposinha. Se inicialmente isso pode parecer uma limitação, Tunic contorna qualquer desconfiança ao dosar perfeitamente o nível de ameaça dos inimigos para que o jogador sinta de forma natural. sua própria evolução
A diversidade de inimigos em Tunic é mais do que satisfatória, mas os principais chefes realmente impressionam. Se os inimigos comuns já são um tanto quanto desafiadores, embora seja geralmente simples prever seus movimentos, essa dificuldade alcança o ápice nas batalhas mais importantes. A variedade de movimentos de cada chefe é grande, cada acerto é muito punitivo - enquanto a raposinha parece apenas fazer cócegas a cada espadada - e a necessidade de esquivas e bloqueios constantes exigem que o jogador gerencie bem sua estâmina - as batalhas são suadas, literalmente.
Mas talvez o maior trunfo de Tunic seja o design de suas fases. Cada canto do grande mapa parece ser pensado para esconder algum segredo, alguma passagem - tudo parece conectado, mesmo que muitas vezes de maneiras imperceptíveis. A progressão do jogador é controlada através dos itens que encontrar pelo caminho, necessários para desbloquear algumas passagens para novas áreas, algo semelhante ao que se vê em inúmeros metroidvanias. Toda essa complexidade faz com que seja quase impossível se acostumar com o mapa e é comum desconfiar que há algo escondido em cada pequeno cenário que descobrimos.
Uma das poucas - se não a única - coisa que faz falta é o recurso de viagem rápida. Embora Tunic conte com um hub que liga as principais partes do jogo, sempre será necessário atravessar muitos locais repetidos durante a exploração.
Considerações
Tunic é um jogo que chama a atenção à primeira vista pelos belíssimos gráficos e pelo carisma do protagonista, mas vai além. A aventura desafia o jogador tanto no sistema de combate, quanto nas inúmeras descobertas pelos segredos do mapa. Sua estrutura narrativa é recompensadora e a forma como o manual de instruções, encontrado página por página, guia o jogador é realmente incrível.
O jogo se torna uma aventura independente indispensável para os amantes do gênero, mas tem tudo para agradar qualquer tipo de jogador.
Tunic está disponível para PC, Xbox One e Xbox Series X/S. O jogo está incluso no catálogo do Game Pass.