Análise: Saints Row entrega ação e uma nova geração de criminosos
Novo jogo da Volition reinventa o universo da franquia mas mantém foco na galhofa explosiva
Recomeçar uma franquia do zero, o famoso 'reboot', é sempre uma tarefa muito arriscada e difícil, mas a Volition topou o desafio com um dos seus principais jogos. Saints Row, após quatro jogos contando a história dos 3rd Street Saints, agora se passa em um novo universo, com novos personagens e ambientado na ensolarada e repleta de crimes Santo Ileso.
As extensas possibilidades de personalização, o mundo aberto divertido e a pegada cômica na campanha continuam a ser o norte para essa nova etapa da franquia, mesmo com o foco dividido entre agradar fãs de longa data e atingir um novo público.
Nova geração de criminosos
Meus primeiros minutos em Saints Row já serviram para demonstrar o que estava por vir. Como se estivesse em um filme de ação caricato, explodi dezenas de inimigos com um tanque, lacei um avião a jato ultra tecnológico para o vilão não escapar e lutei com ele - um latino vestido como cowboy do velho oeste - para completar a missão. Até aí tudo muito Saints Row, o que muda assim que chegamos na casa dos protagonistas.
Os quatro fundadores dos novos Saints são bem jovens e enfrentam dilemas que são temas da geração atual. Nosso personagem está levando uma vida de mercenário para pagar sua dívida escolar, um problema muito debatido atualmente no contexto dos Estados Unidos, onde jovens passam boa parte da vida pagando os débitos gerados no financiamento da sua formação. Para conseguir pagar as contas ele divide o aluguel com outros três personagens: Neenah, Eli e Kevin, que também possuem o problema de falta de recursos e oportunidades para realizar os seus sonhos. Cada um deles membro de uma gangue local. O pano de fundo pode parecer mais sério do que deveria, mas tudo isso é tratado de forma bem caricata, sem se levar muito a sério e apostando nas piadas com redes sociais, cultura pop contemporânea e as próprias manias e reclamações dos jovens de hoje em dia.
Após notarem que podem unir seus talentos para criar uma gangue própria, o quarteto terá como objetivo alcançar o topo do universo do crime no comando da recém criada Saints. Essa caminhada é o foco das 25 missões, algumas delas opcionais, na curta campanha do jogo. A duração definitivamente não ajuda na construção e desenvolvimento dos personagens e as piadas funcionam menos do que deveriam, deixando os diálogos com aquela aura de tiozão do pavê tentando ser engraçado nas festas de fim de ano. Por conta disso, a narrativa é definitivamente o ponto mais fraco da jornada e nenhum dos personagens da gangue consegue ter destaque o suficiente para fazer esquecer de ícones da franquia como Gat e Pierce. Os vilões também fazem pouco para serem memoráveis e o final não contribui para apagar um pouco deste gosto amargo.
As missões principais vivem de altos e baixos e sofrem um pouco pela repetição. Nas mais legais há momentos épicos de ação, com bom uso do cenário para criar algumas situações divertidas, como assaltar um trem em movimento ou destruir acampamentos inimigos com um banheiro químico puxado pelo seu carro. No entanto, a grande maioria foca apenas dirigir até um local e combater ondas de inimigos que não possuem variação o suficiente para continuar renovando a experiência. O combate nem de longe é ruim, na verdade o gameplay é bem legal, mas o samba de uma nota só aqui merecia mais variação.
Império do Crime
Se por um lado a campanha não entrega como deveria, por outro o mundo aberto é bem divertido. As ruas povoadas e o design dos bairros como um todo dão uma aspecto bem vivo para Santo Ileso, que é legal de explorar. A cidade foi construída no deserto e lembra um pouco Las Vegas. O visual é bem legal, embora por vezes pareça um pouco datado dependendo do seu foco. É bem verdade que boa parte das atividades disponíveis aqui são voltadas para o combate também, mas o lado de gerenciamento da gangue ajuda bastante a dar uma variada.
Em um mapa na sede dos Saints, o jogador pode escolher como vai ser investido o dinheiro conseguido. É possível comprar empreendimentos por toda a cidade, cada um deles com um mini game que ajuda a impulsionar o negócio. Roubar carros específicos, guinchar veículos, limpar cenas de crime, dirigir caminhões com material tóxico e várias outras atividades são oferecidas para alavancar esses investimentos.
As recompensas são sempre bem legais, podendo ser armas, roupas e objetos que servem para customizar a base. Aliás, a customização de tudo é um dos pontos mais altos do jogo. Do seu personagem, que pode ser modificado nos mínimos detalhes, passando pelos veículos, armas e base, tudo é repleto de opções, que vão se abrindo aos montes à medida em que o dinheiro vai entrando e dando a impressão de estar construindo um verdadeiro império do crime. E ainda há a parte "Ubigame" do jogo, com pontinhos para completar nos diversos distritos da cidade, que incluem tirar fotografias, fazer algumas corridas ou executar procurados da polícia a troco de grana.
Considerações
É difícil dizer se Saints Row acertou em cheio no seu reboot, vai depender bastante do que o jogador apreciava mais na franquia e o quanto vai se dar bem com o combate. Santo Ileso é uma cidade legal, o gameplay é bem executado e o aspecto "sandbox" do jogo funciona bem, o que abre um bom precedente para eventuais continuações. No entanto, a campanha deixa a desejar em mais pontos do que deveria e deve ser o tendão de Aquiles deste novo começo.
Saints Row chega em 23 de agosto para PC, PS4, PS5, Xbox One e Xbox Series X/S.
*Esta análise foi feita no PC, com uma cópia do jogo gentilmente cedida pela Volition.