Atomfall traz uma nova proposta da Rebellion com uma atmosfera promissora
Novo projeto do estúdio aposta em ambientação distinta e elementos de sobrevivência
Quando um estúdio é fortemente associado a uma única franquia, é natural que qualquer novo projeto levante dúvidas. Esse é o caso da Rebellion, amplamente reconhecida por Sniper Elite. Por isso, quando anunciaram Atomfall, foi difícil não encarar a novidade com uma certa desconfiança.
Com o título em mãos, a primeira impressão que Atomfall transmite é a de que a Rebellion está tentando se reinventar. A ambientação chama atenção, algumas escolhas de design fogem do que o estúdio costuma fazer e há uma clara tentativa de oferecer algo diferente. Mas fica a duvida se essa mudança de direção realmente convença.
Windscale alternativa
Atomfall se baseia em um evento real, o desastre nuclear de Windscale, que ocorreu no norte da Inglaterra, a história se passa cinco anos após o incidente, em um vilarejo em estado de quarentena por conta do incidente. Aqui somos apresentados ao nosso personagem, que acorda em um abrigo subterrâneo sem saber como foi parar naquele local, com essas informações partimos em busca de saber mais sobre nosso passado e arranjar um meio de sair daquela região.
Após sair do bunker, somos apresentados a um dos seus melhores aspectos: o mundo semiaberto e a liberdade de decidir para onde ir. As regiões, embora pequenas e divididas por portões, são bem distintas, com pequenas cidades, locais abandonados, florestas, um sistema de esgoto robusto e até outros abrigos subterrâneos. Um ponto que merece destaque é a exploração nos vilarejos. Mesmo quando há avisos indicando que uma casa ou local está fechado, geralmente existe uma maneira de entrar, e boa parte desses locais contém suprimentos. Por outro lado, algo que decepciona é a ausência de um sistema de dia e noite, um recurso bastante comum em jogos de mundo aberto e que faz falta aqui.
Outro aspecto da exploração é o nosso detector de metal, que se torna essencial ao longo da trama. Com ele é possível achar suprimentos e receitas que estão enterrados em diversos locais espalhados pelo mapa.
Antes de começarmos realmente, somos apresentados aos estilos de jogo. O recomendado leva o nome de Sobrevivente. Nele, não há nenhum tipo de orientação para indicar o caminho, tornando a leitura constante e o diálogo com NPCs essencial para avançar. O combate também é mais realista, com inimigos mais agressivos e frequentes pelo mapa. Mas, para quem prefere uma experiência diferente, há outros modos disponíveis, como Turista, Investigador e Brigador, que mesclam os elementos de combate, sobrevivência e exploração presentes no título — inclusive oferecendo a opção de exploração guiada.
Mesmo escolhendo a exploração guiada, que serve para marcar os pontos de interesse no mapa, ainda é preciso encontrar casos por meio de cartas e conversas com NPCs. Boa parte das missões segue essa mesma estrutura. Algumas são descobertas ao cumprirmos solicitações feitas ao nosso personagem, mas, na maioria das vezes, mesmo ajudando, as informações recebidas são vagas, e só indo até o local conseguimos descobrir algo realmente útil.
Por mais que o título ofereça uma boa dose de liberdade, a história acaba sendo rasa. A Rebellion não soube equilibrar bem esses elementos, e os personagens dificilmente despertam algum apego. O que realmente mantém o interesse até o fim é o mistério sobre como o protagonista foi parar ali e como pode escapar daquela região abandonada. Ainda assim, havia espaço para desenvolver melhor a narrativa.
Além disso, no Xbox, o jogo apresenta um problema grave de som. Apenas os passos podem ser ouvidos, enquanto o restante desaparece, inclusive no menu. Existem soluções alternativas divulgadas na internet, como reiniciar, mas o erro costuma voltar. A desenvolvedora já se pronunciou e prometeu uma correção, porém, até agora, nada foi resolvido.
Um estranho no ninho
Pode-se dizer que todos os personagens, sem exceção, desconfiam do protagonista. Por exemplo, sempre que passamos perto de alguns soldados no vilarejo de Wyndham, um sensor de desconfiança é ativado e eles logo começam a nos repreender, avisando para manter distância. Esse tipo de mecânica funciona muito bem e reforça a sensação de que aquele mundo está realmente vivo.
A todo momento, nos deparamos com foras da lei e druidas que sempre ameaçam antes de partir para o tiroteio. A vida animal também representa um desafio. Entrar na água pode atrair piranhas, explorar esgotos ou locais abandonados pode levar a encontros com ratos, ou morcegos atacando em bando. Em alguns casos, é preciso correr para encontrar o ninho dessas criaturas, pois elas não param de surgir até que ele seja destruído.
O combate é realista e bastante divertido. Tanto o protagonista quanto os inimigos humanos podem ser derrotados com poucos tiros, dependendo da distância. A forma como manejamos as armas também segue essa proposta de realismo adotada pela Rebellion. O personagem se move lentamente ao mirar e recarregar, aumentando a tensão nos confrontos. Felizmente, os inimigos humanos também não são rápidos. Já os infectados representam outro nível de ameaça. Ficam presos em paredes à espera de alguma vítima e, quando atacam, causam grande dano. Alguns ainda disparam projéteis capazes de provocar infecção.
Uma das mecânicas pouco aproveitadas ao longo da campanha é a de sobrevivência. É possível encontrar garrafas de água, chá e diversos tipos de comida, mas esses itens têm impacto mínimo na experiência. Na maioria das vezes, servem apenas para recuperar a vida, enquanto alguns oferecem efeitos temporários, como reduzir sangramento ou envenenamento. Apesar do realismo buscado no combate, essa parte do sistema ficou engessada. O que chega mais perto de justificar a proposta de sobrevivência é a escassez de munição. Além disso, ter uma barra de frequência cardíaca que não se relaciona com os alimentos foi outra oportunidade desperdiçada.
Considerações
Atomfall representa um esforço claro da Rebellion em sair da mesmice e experimentar novas direções. A ambientação chama atenção, e o formato semiaberto proporciona momentos interessantes de exploração. Por outro lado, limitações técnicas, narrativa pouco envolvente e mecânicas de sobrevivência subdesenvolvidas acabam pesando contra. Apesar disso, é uma base promissora que, com mais refinamento, pode render frutos bem mais consistentes no futuro.
Atomfall está disponível para PC, PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox One e Xbox Series X|S.
Esta análise foi feita no Xbox Series, com uma cópia do jogo gentilmente cedida pela ID@Xbox.