Bayonetta 3 é um jogo de ação impecável
Jogabilidade transcedental é destaque, mas narrativa contestável deixa o futuro da franquia em aberto
Foram mais de oito anos de espera pela continuação da jornada da Umbra Witch, mas menos de 10 minutos entre começar o jogo e entrar em combates em grande escala belíssimos, envolventes e com possibilidades quase infinitas. Desenvolvido pela Platinum Games, Bayonetta 3 chega ao Nintendo Switch respeitando o legado da série, mas sem medo de assumir riscos e redesenhar sua fórmula - e o mais importante: acerta.
Exagerado e divertido, o jogo mantém a essência que conquistou tantos fãs, mas mostra uma evolução clara de jogabilidade que não foi muito vista entre as duas primeiras entradas da série. A franquia sempre foi marcada pela extravagância - de violência, humor, ação e sexualidade - e por fazê-la funcionar em uma harmonia caótica, mas cheia de charme. Embora isso continue sendo um feito notável, algo está diferente.
Novidades na hora da ação
Uma das grandes mudanças de Bayonetta 3 é que os Infernal Demons não estão mais limitados à cutscenes ou batalhas contra chefes como nos jogos anteriores. Desde os primeiros momentos, as criaturas - que, assim como as armas de Bayonetta, existem em grande variedade - agora emprestam todo o seu poder para a protagonista quando o jogador achar mais viável. Além de serem extremamente poderosas, elas aumentam o leque de possibilidades, seja em combate ou até mesmo em momentos de pura exploração.
Porém, usá-los em batalha exige cautela. Os Infernal Demons podem ser controlados através da mecânica Demon Slave, que deixa Bayonetta vulnerável aos inimigos, uma vez que ela permanece encenando passos de dança pelo cenário. Já contra os colossais chefes que marcam o fim de cada capítulo da jornada, os demônios são ainda mais importantes e responsáveis por momentos realmente impressionantes.
Multiverso da Bruxaria
Outra novidade é o multiprotagonismo. Embora as diferentes versões de Bayonetta a mantenham como personagem principal de um jogo que entra na tendência do multiverso, Viola e Jeanne têm bastante espaço. Vindo de outra dimensão, Viola é uma jovem punk e bruxa em treinamento, e sua jogabilidade é totalmente concentrada em hack’n slash e mecânicas de esquiva que exigem uma certa dose de adaptação. Além disso, Viola tem seu próprio demônio: Cheshire é um gato gigante, perfeito para abrir caminho entre as hordas de inimigos, e nada carismático. A falta de experiência da nova personagem diverte e é bem explorada - e a torna uma peça em potencial para o futuro da série -, mas ela ainda carece de profundidade.
Já Jeanne, uma das melhores e mais antigas amigas de Bayonetta, tem uma participação mais tímida, mas estilosa. Ela é enviada em missões secundárias em que precisa se infiltrar silenciosamente em instalações, eliminando os inimigos da forma mais furtiva possível. Porém, suas missões são todas em rolagem lateral no melhor estilo metroidvania e, além de conferir um estilo único em meio ao caos, ajudam a cadenciar um pouco o ritmo frenético do jogo.
Ritmo ininterrupto
Desde os primeiros instantes, as poderosas protagonistas então em combates quase incessáveis, e é impressionante como os desenvolvedores conseguiram manter essa execução ao longo de cerca de 15 horas de campanha, sempre apresentando novos inimigos, chefes imponentes e cenários deslumbrantes, que vão de versões alternativas de Paris até Nova York, passando por Japão e Egito.
Depois de dois jogos mais confusos, a narrativa de Bayonetta 3 segue direções mais simples, mas pouco impressiona. A história - praticamente independente dos dois antecessores - se resume a enfrentar uma grande ameaça chamada Homunculi, que são criaturas criadas pelos próprios humanos e querem destruir todas as realidades alternativas para moldar um universo único. Daí vem o multiverso e as diversas versões da Umbra Witch. Embora Bayonetta esteja mais comportada, cada uma de suas versões tem um estilo e personalidade únicos que roubam a cena. Além disso, o retorno de personagens marcantes, como Luke e Rodin, além da própria Jeanne, consegue enriquecer a narrativa um pouco superficial.
Por fim, o desfecho pode deixar alguns fãs apreensivos - ou até mesmo inconformados - com o futuro da série: Bayonetta pode seguir por caminhos muito diferentes daqueles que marcaram a personagem ao longo de seus mais de 13 anos de existência.
Considerações
As escolhas narrativas se tornam apenas pequenos detalhes em um jogo tão avassalador como Bayonetta 3. Com seu estilo gráfico característico e exagerado, e uma trilha sonora composta por Naofumi Harada, dos excelentes Nier: Automata e Astral Chain, o jogo encanta. É extravagante, magnífico em execução e tem a melhor jogabilidade não somente da franquia, mas de todo o gênero. Uma das verdadeiras obras-primas da Platinum.
Bayonetta 3 está disponível para Nintendo Switch.
Esta análise foi feita no Switch Lite com uma cópia gentilmente cedida pela Nintendo.