Dragon Age: The Veilguard é RPG de ação no melhor estilo BioWare
Jogo brilha com mundo fantástico, bom combate e narrativa envolvente
Um dos jogos mais aguardados de 2024, o RPG de ação Dragon Age: The Veilguard marca não só o retorno da franquia de fantasia medieval após 10 anos (o jogo anterior, Inquisition, ganhou o cobiçado prêmio de Jogo do Ano no The Game Awards em 2014), mas também o retorno de sua produtora, o estúdio BioWare, ao que faz de melhor.
Era uma apreensão justificada: os lançamentos anteriores do estúdio, Mass Effect Andromeda e Anthem, deixaram um sabor amargo na boca dos fãs, acostumados com os RPGs de ação épicos, com ótimos personagens e narrativas fascinantes que a produtora entregou ao longo da geração PlayStation 3 e Xbox 360. Bem, The Veilguard chegou para tirar esse gosto ruim e mostrar que a desenvolvedora canadense ainda é uma das grandes marcas do gênero.
Um mundo mais mágico
The Veilguard se passa 10 anos depois dos eventos de Inquisition. O jogador interpreta o herói Rook, personagem totalmente customizável tanto em aparência quanto em sua raça, classe, habilidades e background. Quem Rook foi antes do jogo começar tem bastante impacto nos diálogos e como o personagem é percebido por algumas facções. Mesmo sem uma origem jogável como rolava em Dragon Age: Origins, você acaba curioso para experimentar versões diferentes só para ver o que muda na aventura.
Alguns eventos e personagens de Inquisition se fazem bastante presentes na nova trama, principalmente o elfo Solas e sua busca por destruir o Véu, uma barreira mágica que separa o mundo de Thedas do chamado Imaterial, um reino onde forças mágicas e espíritos fluem livremente. Essa não é a única ameaça presente na aventura, que vai revelando novas camadas a cada missão completada.
Algo que chama bastante a atenção dos fãs de longa data é como Thedas parece muito mais mágico do que nos jogos anteriores. Com visuais belíssimos que aproveitam o poderios das plataformas atuais, o mundo do jogo é cheio de paisagens deslumbrantes, cenários épicos para explorar e lutar em missões que nunca ficam tediosas. Diferente de Inquisition, o jogo não é no formato de mundo aberto e sim, orientado por missões. Você vai visitar várias vezes alguns lugares, mas sempre estará cumprindo alguma missão, seja como parte da campanha principal ou uma das muitas missões secundárias.
Acho até meio errado chama-las de missões secundárias, pois com exceção de pequenas tarefas e pedidos de ajuda que surgem ao longo do caminho, todas as missões para a equipe, para as facções e, principalmente, para os seguidores, são importantes, com desdobramentos e muitas vezes, consequências sérias para as ações e escolhas do jogador.
A aventura se passa no norte de Thedas, bem distante da Ferelden do primeiro Dragon Age, com cidades exóticas, cheias de magia e paisagens variadas: há florestas, montanhas assustadorsa e uma costa ensolarada para explorar, entre várias outras possibilidades. Chama a atenção o capricho ao desenvolver áreas urbanas: há duas grandes cidades que servem como cenário para aventuras e fica o aviso, elas podem passar por mudanças profundas dependendo do que o jogador decidir fazer em alguns momentos.
A Guarda do Véu
Como de prache na fórmula dos jogos da BioWare, Rook precisa recrutar um grupo de seguidores habilidosos que serão seus companheiros de aventura. É notável a diversidade de personagens nesta campanha, que vão desde uma anã ranger (Harding, vinda direto das florestas de Inquisition) e uma detetive particular, uma caçadora de dragões, um assassino possuído pelo demônio, um necromante elegante, um cavaleiro dos Grey Wardens e sua mascote peculiar, e minha favorita, a inventora Bellara, a elfa mais nerd que já pisou em Thedas.
Você vai interagir muito com os colegas e precisará ajudá-los em suas missões pessoais para que alcancem seu potencial. É uma receita que já foi aplicada em vários jogos da casa e que continua muito saborosa. Há uma grande missão que acontece após a primeira dezena de horas de jogo, e que vai dar calafrios nos jogadores das antigas, que podem imaginar se tratar de uma 'suicide mission' precoce da BioWare, mas serve mais como um aviso da importância de desenvolver os laços com os companheiros, porque as que vêm depois terão consequências mais drásticas. E sim, por falar em laços, você pode se envolver romanticamente com os companheiros. Não é tão fácil e, em mais de uma ocasião, pode acabar levanto um fora, pois cada um deles tem suas próprias percepções sobre Rook, suas ações e palavras.
Além dos personagens que integram o grupo de Rook, a Guarda do Véu conta com o suporte de veteranos da série, que aconselham e ajudam o bando em alguns momentos. É um aceno legal para os fãs de longa data, ainda que os encontros com o Inquisidor (seu personagem do jogo passado) sejam meio constrangedores, na minha opinião. Mas em geral, o jogo acerta muito mais do que erra nesse quesito, nos dando um vislumbre do que aconteceu com aqueles velhos companheiros após tantos anos.
Mais ação, menos gerenciamento
Por falar em companheiros, você sempre vai levar no máximo dois deles em suas missões. Eles lutam por conta própria e são bem espertos, mas o jogador pode dar comandos para o grupo, definir táticas e mais importante combinar seus poderes para abater as ameaças de forma mais eficiente. Isso tudo rola em tempo quase real e embora o sistema de grade de comandos pareça confuso, ainda mais jogando com um joystick, você acaba se acostumando depois de um tempinho. Explorar novas opções de poderes e combos é uma das coisas mais legais do jogo e não faltam batalhas para aperfeiçoar suas proezas de combate.
Vale comentar também que não é só no combate que The Veilguard pende mais para a ação do que seus antepassados. A movimentação dos personagens é muito mais fluida e conta com saltos e a possibilidade de se agarrar em beiradas. Não, Rook não sai escalando como Link ou Aloy (ele faz isso apenas em alguns lugares específicos), mas seus novos movimentos aumentam e muito as oportunidades de exploração. Cada companheiro tem também um poder específico, que pode ser ativado em certos pontos do mapa para abrir novos caminhos. Graças à um item mágico, Rook pode acionar esses poderes mesmo quando o colega necessário não está na formação, o que evita ter que ir e voltar por longos caminhos apenas para trocar um personagem do grupo.
O que falta, porém, é mais oportunidades de gerenciamento para os equipamentos de Rook e sua trupe. A BioWare optou por um sistema um tanto simplificado para essa parte do jogo: Rook é o único personagem que tem um inventário mais completo, que inclui o uso de anéis mágicos, amuletos e elmos, além de duas opções de armas, escudo e armadura. Outros aventureiros
contam apenas com sua arma, armadura, uma memória e uma bugiganga (é o nome que eles deram, não estou reclamando!).
Logo de cara, você vai perceber que o loot deixado pelos inimigos é para a classe escolhida para Rook, ou para um companheiro. Você nunca vai encontrar itens de outras classes de personagem principal. Se achar um item repetido, o item original vai ser aprimorado automaticamente. Também dá para melhorar o equipamento de Rook e dos colegas em uma oficina em sua base, um Farol mágico e cheio de segredos no meio do Imaterial.
Parece legal e sim, tem ideias boas aí, mas o que acaba acontecendo é que você vai encontrar muitos itens inúteis ao longo da aventura, pois os que estão equipados em Rook serão melhores. E não dá para equipá-los nos companheiros, o que aumentaria a variedade de builds para o grupo. Isso acaba tirando a atenção do microgerenciamento e colocando na narrativa e na ação? Sim. Mas para muitos fãs de RPG, o microgerenciamento do inventário e dos personagens é parte importante da diversão!
Considerações
The Veilguard é um excelente RPG de ação e um dos melhores jogos de 2024. Para quem é fã da franquia de fantasia, só me resta dizer: jogue sem medo - e sem consultar guias de builds ou de relacionamentos - pois essa é a aventura épica que você estava esperando todos esses anos.
Dragon Age: The Veilguard será lançado em 31 de outubro para PC, PlayStation 5 e Xbox Series X|S.
Esta análise foi feita no PlayStation 5, com uma cópia do jogo gentilmente cedida pela Electronic Arts.