Indiana Jones e o Grande Círculo traz aventura imperdível para fãs dos filmes
Jogo da MachineGames coloca o jogador na pele do arqueólogo mais famoso do cinema
Adaptações de cinema para videogames e vice-versa são sempre um perigo. Os resultados, aliás, são na maioria abaixo da média e muito aquém do material original. Não é o caso de Indiana Jones e o Grande Círculo, novo título da MachineGames que acerta muito e coloca o jogador na pele de Indy de forma imersiva e muito divertida.
Esse projeto sempre foi um sonho de Todd Howard, diretor da Bethesda que ficou conhecido por jogos como TES: Skyrim e Fallout 3. Amante dos filmes de Harrison Ford, ele ficou por décadas pensando em como faria um jogo do arqueólogo mais famoso do cinema. E foi então que surgiu a oportunidade com a Disney e ele achou que a MachineGames seria o estúdio ideal. O casamento deu muito certo!
Aventura digna das telonas
A história aqui se passa um ano após o filme Indiana Jones e Os Caçadores da Arca Perdida, contando uma aventura épica de Indy em busca dos segredos do Grande Círculo. Um gigante invade a universidade onde o arqueólogo dá aulas logo nos primeiros minutos de jogo e rouba um dos artefatos exibidos em um museu local. Indiana sai então em busca do motivo e acaba sendo levado a visitar diversos pontos do planeta para revelar o mistério do tal círculo, o que envolve uma seita milenar, fascistas e nazistas.
Embora o jogo seja em primeira pessoa, uma escolha até esperada pelo DNA do estúdio, que produziu jogos como Wolfenstein, há sempre cutscenes muito detalhadas com os personagens. Os diálogos são bem escritos, as setpieces são dignas dos melhores momentos de Indiana Jones nas telonas e a interpretação do protagonista feita pelo talentoso Troy Baker é digna de nota. A todo momento você tem a impressão de estar dentro de um filme do herói no melhor sentido possível.
Um marco da MachineGames é como eles desenvolvem bem os seus personagens e aqui não foi diferente. Indiana tem seus traumas em relação ao amor e como lida com o trabalho, que é sua grande paixão na vida. O estúdio trata disso muito bem durante a jornada na sua relação com a repórter Gina Lombardi. Essa, por sua vez, também tem muito peso na história e é um dos destaques do jogo tanto na parte de aventura e ação quanto na química que vai criando com Indiana.
A ambientação também é outro ponto de destaque na campanha. O jogo passa por diversos países, incluindo Vaticano, Egito e China. A adaptação destes locais é feita de forma primorosa - falaremos mais sobre o design de níveis já já - e dão uma sensação épica de aventura e exploração como poucos conseguem. Indiana passa por pirâmides, encontra segredos em locais históricos como a Capela Sistina e se aventura no meio de florestas densas para explorar tumbas milenares. Some isso com a boa história e a imersão é total na pele do herói.
Gameplay cadenciado
Se ambientação e campanha dão um show, o gameplay tem seus altos e baixos e é mais divisivo. Primeiro vamos falar da parte boa, a exploração, que é o grande foco do jogo e onde o jogador passa o maior tempo, o que torna o gameplay bem cadenciado e mais lento do que o de jogos que contam com combate a cada poucos minutos.
Sair pelos mapas sem rumo, por si só, é garantia de diversão aqui. Há segredos escondidos em todos os lugares, incluindo puzzles inteligentes e que desafiam o jogador a prestar atenção no ambiente e ler pequenas dicas que podem estar em gavetas, atrás de paredes secretas ou mesmo escritas no teto.
O design de níveis da MachineGames é sempre soberbo e aqui não é diferente. Há sempre muita verticalidade, sendo possível acessar vários andares de prédios, casas e tumbas, sempre premiando quem encontra os cantinhos mais escondidos.
Para andar no meio de fascistas, nazistas e todo tipo de inimigo que encontra, Indy pode usar disfarces que encontra nestas explorações. É legal ficar trocando entre parecer um padre, um militar ou um escavador, por exemplo, para andar em locais diferentes e conseguir algo que está escondido em locais proibidos.
O mapa e menus são todos diegéticos, ou seja, integrados no jogo mesmo, sem ser uma telinha de pause. Indy usa seu diário para guardar as notas que acha, as fotos que tira e também os mapas. Se guiar por esse recurso no início é bem contra intuitivo e pode confundir. A parte de tutorial do jogo, inclusive, é falha e poderia ter tido mais cuidado com esses detalhes.
O grande ponto negativo da exploração é que os mapas maiores meio que repetem seus objetivos, o que cansa um pouco nas jogatinas mais longas. Por exemplo, há os mesmos vidros de remédio para encontrar em todos os mapas, os mesmos artefatos e algumas atividades se repetem também, como as lutas de boxe. Você acaba já sabendo boa parte do que vai encontrar.
Já a parte que não gostei fica por conta da furtividade e do combate. O jogo dá todas as possibilidades que se espera ao ser o Indiana Jones, como usar o chicote para desarmar inimigos e usar com maestria seus socos e armas de fogo. No entanto, os inimigos não colaboram e contam com uma das piores inteligências artificiais que já vi. Como não há aquele sistema de um te ver e todos já ficarem em alerta - o que deveria ser um ponto positivo - eles precisam avisar uns aos outros, no entanto isso quase nunca funciona. Por vezes nem mesmo barulho de tiro alertou alguns NPCs próximos, que ficam imóveis enquanto você destroi um dos aliados deles.
O sistema de alerta também é falho. Inimigos acham corpos e começam a procurar o Indy, mas nunca de forma organizada e que te force a readaptar. A procura é rápida e logo eles voltam para a patrulha do lado do corpo caído, o que mata a imersão.
Com algumas habilidades aprimoradas, o Indiana também bate em todo mundo sem problemas. Socos derrubam rápido e o cenário fornece armas de montão para sair quebrando geral. Invadir bases inimigas nunca foi um problema e eu acabei sempre me preocupando mais em explorar do que em incomodar qualquer inimigo, que rapidamente caia em dois ou três socos.
Por tudo isso, acho que o jogo vai acabar agradando menos quem não gostou ou não viu os filmes. Essas pessoas vão dar um peso maior para essas falhas do gameplay e sentirão mais o cansaço dos últimos mapas.
Considerações
Indiana Jones e o Grande Círculo é imperdível para os fãs dos filmes e quem adora uma boa aventura. A adaptação acerta demais no que diz respeito a campanha e fazer o jogador se sentir na pele do arqueólogo, o que é o maior trunfo do jogo. Já o combate e a furtividade poderiam ter um tratamento melhor, o ponto que deve afastar alguns jogadores e onde a imersão é quebrada.
Atualmente é possível jogar Indiana Jones e o Grande Círculo no PC e Xbox Series X|S, com o jogo também estando disponível via Game Pass. A versão para PlayStation 5 será lançada em 2025.
Esta análise foi feita no PC, com uma cópia do jogo gentilmente cedida pela Bethesda.