Jogamos: Spider-Man 2 pode ser a razão para se comprar um PS5
Jogo oferece dois super-heróis pelo preço de um e a mais impressionante Nova York que os videogames já viram
A pergunta que os donos de PlayStation 5 se fazem a essa altura é: vale a pena investir cerca de R$ 350 na continuação de um jogo da geração anterior, que teria tudo para ser um “mais do mesmo com um banho de loja”?
A resposta à essa questão passa justamente pela plataforma em que Marvel's Spider-Man 2 se encontra exclusivamente: o poder de processamento do PS5 permite que o game seja muito mais do que uma mera sequência turbinada.
Ou pelo menos foi essa a impressão em pouco mais de duas horas imerso na experiência. À convite da Sony, o Game On jogou Marvel's Spider-Man 2 em uma sessão especial para a imprensa, em Los Angeles. Apesar do tempo curto, foi possível ter contato com vários aspectos: os combates com novos poderes diante de múltiplos inimigos diversificados, a livre exploração de Nova York em uma versão amplificada e ainda mais detalhada e pedaços interessantes da narrativa em belas cutscenes.
Dois em um
A versão que testei teve início já com algumas horas de narrativa adentro, então não foi possível entender completamente a trama (e mencionar aqui os detalhes poderia configurar spoiler). Peter Parker, equipado com o uniforme de simbionte e acompanhado do amigo Harry Osborn, está encrencado com o vilão Kraven e seus capangas. Miles Morales, por sua vez, lida com o stress de ser um super-herói novato que concilia missões de vida ou morte com a rotina de estudante que mora com a família.
Mas ficou claro que o principal destaque é a dinâmica que alterna a jogatina entre os dois protagonistas. Jogar com Peter ou Miles representa duas versões muito distintas da experiência de Spider-Man 2. Às vezes, tive até a sensação de que eram dois jogos diferentes. Com Peter e seu uniforme monstruoso, temos uma opção mais visceral do herói, com capacidades avançadas de força bruta, como a utilização dos tentáculos para golpes a longa distância. Com Miles, a performance é refinada e depende mais da rapidez de movimentos e da variação de habilidades.
É interessante notar que a dinâmica também é variada do ponto de vista narrativo, já que a saga do jovem Miles ainda inclui questões mundanas (fazer compras para a mãe, por exemplo), enquanto Peter parece enfrentar crises mais existenciais, que envolvem seu relacionamento com Mary Jane e a amizade turbulenta com Harry. Porém, ambos lidam com perdas, o que contribui para o clima sombrio.
“É importante mostrar que Peter e Miles cresceram e possuem histórias independentes”, diz Doug Sheahan, diretor sênior de programação de Spider-Man 2. “Ambos estão enfrentando perdas e tentando descobrir o próximo passo na vida, mas estão em lugares emocionais levemente diferentes. Entretanto, há muitas similaridades entre os dois também.”
A cidade que não dorme
É nas batalhas que parece estar o grande trunfo de Spider-Man 2, pelo menos para quem busca as emoções típicas de um jogo de super-heróis.
Chamar os combates de frenéticos é pouco: em certos momentos, a pancadaria se dá com mais de uma dezena de inimigos simultâneos, que atacam por todos os lados com táticas diversas, exigindo não apenas velocidade de ação como estratégias baseadas em escolhas nos momentos certos. É como se, a cada nova tentativa, surgisse uma nova possibilidade que não era clara – ou a resposta pode ter sido dada de presente e você nem percebeu.
Passei por isso na pele, o que me fez perder um tempo precioso da sessão. Depois de gastar dez minutos tentando derrotar um simples subchefe, acabei vencendo a luta utilizando a técnica de “Parry” ensinada pelo jogo no início da fase. Foi bem mais fácil quando lembrei de seguir a dica, mas aparentemente não há jeito certo para se superar um desafio. Essa variedade de possibilidades é um charme que acaba premiando os mais atentos e criativos.
“Já que empoderamos os heróis, precisamos fortalecer os vilões também”, conta Doug Sheahan. “Não vai mais adiantar só entrar naquele ritmo de bater e desviar, bater e desviar. É preciso ler o comportamento de cada inimigo e entender a melhor coisa a se fazer em cada caso. E isso ajuda quando for enfrentar os chefões.”
Mas nem só de brigas vive Spider-Man 2. Passear por Nova York continua sendo parte obrigatória da brincadeira, e isso é levado ainda mais a sério do que nos games anteriores. A cidade não apenas exala beleza e detalhes, como dobrou de tamanho, com as adições dos distritos do Brooklyn e do Queens. Claro que não perdi a chance de escalar até o topo do Empire State Building só para curtir o visual acachapante do pôr do sol, e recomendo que seja uma das primeiras coisas a se fazer. Mas há muito mais acontecendo no asfalto lá embaixo.
É só olhar para o horizonte e enxergar os sinais: fogos de artifício, sinais de rádio, drones, raios de luz e símbolos espalhados pelo céu da metrópole, instigando a curiosidade e pedindo para serem visitados. Trata-se de um recurso criativo, que oferece as missões secundárias (normalmente, crimes em andamento) e tira o jogador da rotina “cumprir a missão, abrir o mapa e procurar a próxima para seguir a trama”. “Essa foi a maneira de fazer o jogador ficar mais imerso e melhorar o flow, para que não ficasse apenas avançando na história, mas tendo uma experiência contínua”, explica Sheahan. “A gente quis ir fundo nessa ideia.”
Beleza importa
É difícil não lembrar de Grand Theft Auto IV (2008) quando se joga Spider-Man 2. A vivacidade impressionante desta nova Nova York, apinhada de gente e constantemente engarrafada, cria uma sensação de imersão familiar, como se estivéssemos bem acostumados a circular por metrópoles virtuais. Gastei minutos andando a pé pela Times Square, circulei por acidentes de trânsito e me misturei à multidão para observar as reações, e poderia ter passado mais algumas horas nisso facilmente.
Mesmo que o nível de inteligência dos NPCs não seja digno de aplausos, cada pedestre parece um indivíduo único e com vida própria (infelizmente, não percebi mudanças nos comportamentos quando desfilei com uniformes de cores berrantes). Esteticamente falando, a evolução em relação ao primeiro Spider-Man é impossível de ser ignorada. “As luzes refletidas nas janelas, a grama, o visual do Central Park, as árvores… Graças às capacidades do PS5, tudo foi refeito para adicionar aquele nível extra de qualidade”, explica Doug Sheahan. “Foi só uma questão de garantir que tudo parecesse melhor e mais autêntico, para que o jogador se sinta realmente imerso na cidade.”
Por falar em visual, Spider-Man 2 oferece 65 trajes diferentes para seus heróis, dos mais discretos e conservadores aos mais subversivos (o Homem-Aranha Punk já é o meu favorito). Não consegui descobrir se as roupas servem apenas para mudanças cosméticas ou se possuem serventias específicas em determinados momentos. Seja como for, mudar de roupa é apenas a mais simples dentre as muitas maneiras que os personagens podem evoluir. Habilidades extras são destravadas continuamente, dando a sensação de que os Aranhas estão evoluindo junto à história, empoderando o jogador a cada missão cumprida.
Aparentemente, o PlayStation 5 enfim vai ganhar um exclusivo indispensável para todo mundo (nada contra, mas God of War Ragnarök não é para todo mundo). Spider-Man 2 parece ter o que precisa para agradar o máximo possível de jogadores: os mais casuais devem curtir a liberdade de ação e tudo o que Nova York tem a oferecer, enquanto os mais experientes se sentirão devidamente desafiados e motivados pela narrativa. Não resta dúvidas de que o estúdio Insomniac superou o desafio de criar mais do que uma simples continuação – não apenas pelo cuidado técnico apurado, como por oferecer evoluções de gameplay e design que merecem ser experimentadas.
Marvel's Spider-Man 2 chega em 20 de outubro com exclusividade para o PlayStation 5.
*O jornalista viajou para Los Angeles a convite da Sony PlayStation.