Karma: The Dark World mistura paranoia e terror psicológico
Jogo traz enredo baseado no clássico 1984 e em obras de Hideo Kojima e David Lynch
Karma: The Dark World é um jogo de terror e suspense psicológico cinemático em primeira pessoa, sendo o primeiro projeto desenvolvido pelo estúdio chinês Pollard Studio. O título é ambientado em uma Alemanha de um universo alternativo, e apresenta um mundo distópico dominado por uma grande corporação, que exerce controle total sobre a sociedade.
O game tem inspiração em obras como o clássico 1984 de George Orwell, P.T., a demo de terror de Hideo Kojima e os filmes de David Lynch, conhecido por misturar o estranho e o cotidiano, muitas vezes explorando o subconsciente, sonhos e temas perturbadores.
Se você gosta de jogos com uma pegada mais cinematográfica, essa pode ser uma boa pedida. Confira aqui com Game On o que achamos desse novo título.
Bem-vindo a 1984
Os jogadores assumem o papel de Daniel McGovern, um leal Agente do Departamento de Pensamento da Leviathan, uma corporação que governa a sociedade com punho de ferro, controlando seus cidadãos com vigilância em massa extrema, regras de classes sociais, drogas que adulteram a mente e a promessa de que os portões para Utopia serão abertos àqueles que servirem bem.
Como Daniel você vai conhecer uma linha do tempo alternativa ambientada entre 1966 a 1984 na Alemanha Oriental, e seu trabalho, inicialmente, é investigar um funcionário no Instituto Winston, um departamento responsável em pesquisas em física e biologia, que tem agido fora dos padrões da Leviathan - empresa que por sua vez é comandada por uma inteligência artificial conhecida como MÃE.
Neste universo, o olho que tudo vê da Leviathan observa a todos por meio de câmeras, registrando e catalogando qualquer infração - como um uniforme amassado, conversas ou aplicar maquiagem no meio do expediente. O Big Brother (o de George Orwell, não o da Globo) está observando você. As pessoas são divididas em níveis sociais e possuem cartões de identificação que abrem portas, acessam computadores e teletelas, de acordo com o seu nível social - Daniel, por exemplo, pertence ao nível C.
Além de investigar as cenas de crime, as funções de Daniel também envolvem interrogar suspeitos e testemunhas, e se necessário, usar uma tecnologia para invadir a mente das pessoas e investigar suas memórias para ver se estão contando a verdade ou não em suas histórias.
O problema é que, o que era para ser um serviço cotidiano qualquer, acaba se tornando a ponta de um iceberg gigantesco, abrindo as portas para um mundo de espionagem e traição, repleto de segredos profundos e perturbadores, como experiências bizarras em humanos. Ao longo de suas descobertas, a linha entre a verdade, o mundo real e a ilusão se tornam confusas.
Como o nome do jogo sugere, ele vai explorar temas de causa e efeito na vida dos personagens, construídos em uma linha do tempo e de acordo com as suas ações, memória, identidade, família e a própria natureza da realidade. Ao entrar na mente das pessoas, você não vai apenas ver e interagir com as suas memórias, mas também vai presenciar ambientes surreais e deturpados, além dos horrores que espreitam os recantos das mentes delas.
Experiência cinematográfica
O enfoque de Karma é totalmente em entregar uma experiência com uma narrativa psicológica complexa, apresentando um mundo tão psicodélico quanto se estivesse em um filme, onde a sanidade do protagonista é constantemente testada, e ele passa a desconfiar das suas próprias memórias e das coisas que está vendo. Isso foi real? Foi um sonho? Foi uma memória? Para deixar as coisas mais confusas, essa história é contada de forma não linear entre 1966 a 1984.
Daniel não possui armas e não há inimigos para enfrentar ou fugir - com excessão de um monstro que aparece em certos momentos, mas nada muito complicado. Seu principal trabalho como jogador será resolver quebra-cabeças para avançar na história do jogo, com um estilo muito parecido com o de P.T. de Hideo Kojima.
O game também oferece uma experiência de terror mais sutil. Pequenos toques musicais que aparecem e desaparecem, sons pertubadores que não sabemos da onde estão vindo, a iluminação piscante de um ambiente sombrio, áreas destruídas com sangue no chão, isso sem citar toda a surrealidade que começa tímida, mas que vai aumentando no decorrer do jogo.
A narrativa é, sem dúvida, o grande trunfo do jogo. Com um enredo fragmentado e alucinante, ele brinca com a percepção da realidade, transportando o jogador para um labirinto de memórias distorcidas e paranoia crescente. No entanto, Karma tropeça na construção de seus personagens. A falta de originalidade e carisma dos protagonistas faz com que a imersão seja um pouco comprometida, sem oferecer camadas de profundidade suficientes para que suas figuras se tornem memoráveis, incluindo a de um vilão ou antagonista mais marcante.
Assim como o protagonista do jogo, você vai se sentir perdido e se perguntar "o que diabos está acontecendo aqui?". É importante ler os textos, documentos e informações encontrados pelo caminho ou computadores, que irão te ajudar a dar um contexto nas situações.
Em termos gráficos e visuais o jogo não chega a impressionar, mas cumpre o seu papel de nos oferecer uma experiência imersiva. Os textos, menus e legendas estão disponíveis em português brasileiro, o que é muito bom, mas alguns trechos não estavam traduzidos, aparecendo em inglês - além disso, senti falta de um fundo preto na legenda, pois algumas cenas tinham a tela muito clara e não era possível enxergar os textos.
Também presenciei alguns pequenos bugs aleatórios como travamentos momentâneos e cortes nas câmeras e música, mas nada muito mais pesado do que isso, que não possa ser resolvido em futuras atualizações. Por fim, o game conta com uma jornada curta entre 10 a 15 horas de duração, podendo ser finalizado tranquilamente em um fim de semana.
Considerações
Karma: The Dark World é um jogo de terror psicológico em primeira pessoa com enfoque em uma narrativa imersiva e conceitualmente intrigante. No entanto, fatores como um gameplay simples que se limita a exploração e resolução de quebra-cabeças, e a ausência de personagens marcantes, impedem que ele alcance um impacto emocional mais duradouro. É um jogo que encanta os sentidos, mas falha em deixar uma marca profunda na memória do jogador. Lembrando que esse é o primeiro game da Pollard Studio, um promissor estúdio que vale a pena ficar de olho em seus próximos projetos.
Mas se você gosta de histórias complexas e perturbadoras ao estilo de David Lynch, ou se gostou da demo P.T. de Hideo Kojima, este é um título que provavelmente vai te agradar. Caso contrário, se você prefere uma experiência com um gameplay mais robusto ao estilo de Resident Evil ou Silent Hill, recomendo que procure por outro jogo ou espere por uma boa promoção antes de comprá-lo.
Karma: The Dark World chega hoje para PC e PlayStation 5.
*Esta análise foi feita no PlayStation 5, com uma cópia do jogo gentilmente cedida pela Wired Productions.