Lost Records: Bloom & Rage - Tape 1 mantém viva a essência narrativa da Don’t Nod
Estúdio retorna às raízes com um mistério que conecta passado e presente
Sequências espirituais são comuns no mercado de jogos, mas Lost Records: Bloom & Rage é um caso especial. A produtora por trás desse projeto é a Don’t Nod, famosa pelos primeiros Life Is Strange. Após o segundo jogo, a produtora cortou laços com a Square Enix e não produziu os jogos seguintes.
Desde o anúncio, este projeto sempre me deixou com uma dúvida: “Será que vai ser mais do mesmo?”. As semelhanças com a franquia que colocou a Don’t Nod no radar de muitos jogadores eram evidentes. Por mais que a fórmula possa parecer desgastada, Lost Records respondeu minha questão da melhor forma possível — a Don’t Nod ainda sabe como manter esse estilo de jogo interessante.
Um verão para ser esquecido
Nessa primeira fita, que funciona como o primeiro episódio, a narrativa se divide entre dois períodos: 2022 e 1995. Nos anos 90, acompanhamos Swann, uma jovem reclusa que vive em Velvet Cove, uma cidade fictícia localizada em Michigan. Solitária, ela passa seus dias fazendo gravações com sua filmadora, até que, acidentalmente, registra a irmã de Kat, outra personagem que futuramente se tornará sua amiga.
Após o incidente, a irmã de Kat e o namorado dela zombam de Swann, o que leva Nora e Autumn a intervirem na discussão. Kat chega logo depois e, em vez de acalmar a situação, acaba intensificando a briga. Apesar do conflito inicial, esse encontro inesperado marca o início de uma forte amizade entre elas. As quatro fazem uma promessa: tornar aquelas férias de verão inesquecíveis.
No entanto, com o desenrolar da história, o que deveria ser uma lembrança especial se transforma em algo que elas prefeririam esquecer — tanto que só voltam a se reencontrar 22 anos depois, quando uma delas recebe uma caixa com o nome da banda que formaram na época.
Por ter apenas uma fita disponível, a Don’t Nod conseguiu instigar o jogador na medida certa, deixando aquele gostinho de "quero mais". Lost Records equilibra bem as narrativas do passado e do presente, mantendo um tom de mistério constante. A relação entre as amigas lembra os clássicos filmes de verão, mas sem parecer forçada. Cada personagem recebe a devida atenção, com destaque para Kat e Nora, que se destacam tanto pelo excelente trabalho de dublagem quanto pelos diálogos com elas.
As referências à cultura pop dos anos 90 são bem evidentes no jogo, desde as músicas da época até filmes e livros icônicos. Em diversos momentos, o grupo de amigas menciona clássicos como Pulp Fiction e até faz comentários diretos sobre Quentin Tarantino, reforçando a ambientação da década em que a história se passa.
Duas linhas do tempo
A jogabilidade varia conforme a troca de período, que ocorre de forma estilizada, como se uma fita estivesse sendo rebobinada. No presente, a perspectiva é em primeira pessoa, enquanto nos anos 90, o jogo assume a tradicional visão em terceira pessoa da Don’t Nod. Durante essa fase, a filmadora se torna um elemento essencial, permitindo ao jogador gravar momentos e criar memórias.
O estilo narrativo do jogo é simples e direto, podendo ser dividido em dois tipos de fases: aquelas em que Swann usa a câmera para registrar memórias e avançar para o próximo capítulo, e as que se passam em seu quarto ou na casa abandonada que as personagens encontram durante a campanha, onde o jogador realiza tarefas simples e acompanha diálogos que complementam a história.
Ao longo do jogo, é possível encontrar dezenas de colecionáveis intitulados “Relembrar”. Ao interagir com eles no presente, a protagonista começa a ouvir diálogos relacionados a esses objetos. Já nos anos 90, algumas personagens do presente narram os colecionáveis como se estivessem em um tipo de vídeo de reação.
A filmadora funciona quase como um segundo personagem jogável, dando total controle sobre enquadramento e zoom. As gravações, divididas entre momentos da história e itens colecionáveis, podem ser editadas e reorganizadas conforme a preferência do jogador. Caso o resultado não agrade, é possível refazer as edições. Quando finalizadas, as filmagens são apresentadas com uma narração da Swann e um título escolhido por ela.
Diferentemente da outra franquia que popularizou a Don’t Nod, as escolhas aqui são bem tímidas. Só é possível perceber algumas delas ao retornar ao presente, onde surgem breves citações sobre como determinada decisão impactou o futuro, como impedir que a chave da Autumn caísse no esgoto.
Além disso, alguns diálogos no jogo indicam um símbolo de coração após serem escolhidos, o que significa que você agradou aquela personagem com a opção. Em outros casos algumas opções resultam num coração partido, o que deixa claro que não foi de bom grado aquilo. Existem também escolhas que são simbolizadas com um broto de planta nascendo, essas decisões simbolizam que aquela escolha irá ser lembrada por alguém ou pelo próprio jogo, como por exemplo escolher o nome de uma gravação pessoal da Swann ou dar informações sobre si.
Na parte técnica há problemas dignos de nota. Enquanto jogava, enfrentei crashes constantes no Xbox e falhas de sincronia labial. Em algumas cenas, o áudio continua rolando enquanto os personagens não movem a boca e, quando finalmente se movem, o diálogo já passou. Além disso, o som do jogo fica abafado em certos momentos, como se os personagens estivessem distantes, mesmo estando bem próximos na cena. Certamente faltou um tempo maior para o polimento.
Considerações
Lost Records: Bloom & Rage - Tape 1 prova que a Don’t Nod ainda domina a arte de criar narrativas e personagens marcantes. Com uma ambientação fiel aos anos 90, uma trama intrigante e mecânicas interessantes, o jogo entrega uma experiência sólida para os fãs do gênero. No entanto, pequenos problemas técnicos e escolhas pouco impactantes podem frustrar aqueles que esperam algo mais, dado o histórico da desenvolvedora. Ainda assim, essa primeira fita cumpre bem seu papel: deixar os jogadores ansiosos pelo que vem a seguir.
Você pode jogar Lost Records: Bloom & Rage - Tape 1 no PC, PlayStation 5 e Xbox Series X|S.
*Esta análise foi feita no Xbox Series, com uma cópia do jogo gentilmente cedida pela ID@Xbox.