Stellar Blade é obrigatório para quem curte jogos de ação e aventura
Com ótimos combates e personagens marcantes, jogo oferece experiência imperdível no PlayStation 5
Após jogar a demo de Stellar Blade algumas vezes, percebi que estava diante de algo especial. E agora, após terminar o jogo completo, ficou claro que minha percepção não estava errada, com o estúdio sul-coreano Shift Up, na sua primeira aposta em um jogo para consoles, tendo conseguido entregar aquele que é um dos jogos mais divertidos do ano.
Em Stellar Blade você é Eve, membro de um esquadrão aéreo, cujos integrantes chamam-se anjos, que tem como objetivo resgatar a Terra de uma raça invasora chamada Naytiba, de origem desconhecida. Ela é enviada pelos humanos sobreviventes, moradores de uma Colônia no espaço, com outras companheiras para cumprir esse objetivo.
A raça humana foi dizimada pelos Naytibas na última guerra que se tem notícia, mas essa não é toda a história. Ela começa desta forma, mas vai se aprofundando e evoluindo à medida que você progride na jornada, com a descoberta de aspectos envolvendo coisas como o avanço da tecnologia, que permitiu aos humanos evoluírem inclusive ao ponto de conseguirem sobreviver no espaço ou debaixo d 'água, trocando seus órgãos biológicos por réplicas mecânicas aprimoradas.
Sem adentrar em spoilers, a trama é cheia de surpresas e acabou me prendendo quase tanto quanto a jogabilidade, sempre me deixando curioso para saber mais a respeito do que viria a seguir. Sua parte principal é contada por meio de cutscenes que decorrem ao longo do jogo, mas há também alguns detalhes que podem ser descobertos em registros, documentos e diários espalhados por todas as áreas de Stellar Blade.
É importante apontar também que suas decisões e certas coisas encontradas, entre outros aspectos, podem afetar partes do desfecho da história, que tem múltiplos finais. O melhor neste caso, ao menos quando for zerar pela primeira vez, é ir às cegas e jogar da forma que preferir, sem se preocupar muito com isso.
Aliás, o fato do jogo estar totalmente localizado em português brasileiro, contando, inclusive, com uma ótima dublagem, facilita para que todos os jogadores no Brasil consigam compreender a história.
Personagens bem construídos
Outro ponto de destaque em Stellar Blade são os personagens. No caso dos protagonistas, incluindo Eve e seus companheiros, Adam e Lily, e dos secundários, eles não são apenas bonitos visualmente, repletos de detalhes minuciosos em seus designs, como também contam com suas próprias histórias.
Alguns, inclusive, oferecem missões opcionais muito bem desenvolvidas e interessantes que você pode completar para descobrir mais a respeito deles e ganhar recompensas exclusivas, isso sem falar nos diálogos que é possível ter com cada um. Quase todos ajudam Eve de alguma forma e contribuem para expandir a trama de Stellar Blade.
Outro aspecto que vale ser mencionado é que alguns personagens têm suas próprias lojas. Quanto mais você comprar, maior fica a sua afinidade com eles, o que garante acesso a mais produtos, incluindo até mesmo acessórios cosméticos para Eve ou itens para melhorar a personagem.
Tais itens podem ser comprados usando dinheiro comum, combinações de determinados recursos encontrados pelo jogo, e Vitcoins, com este último sendo talvez o mais importante deles. Devido à sua escassez, geralmente os produtos mais cobiçados requerem eles para serem adquiridos.
Jogabilidade traz mistura que funciona incrivelmente bem
O principal chamariz de Stellar Blade é a jogabilidade nos combates, sendo, juntamente com a história e os personagens, o responsável por te prender do começo ao fim e ainda fazer com que você queira continuar jogando mesmo depois de concluir a aventura.
Quem jogou a demo viu em primeira mão como funciona a parte básica dos combates, sendo necessário realizar bloqueios e desvios perfeitos para sobrepujar os inimigos mais fortes, além de fazer uso das Habilidades Beta, que permitem a Eve executar ataques poderosos e de forma instantânea.
Os bloqueios perfeitos visam quebrar um medidor de postura do adversário, similar ao que ocorre em Sekiro: Shadows Die Twice. Quando ele quebra, Eve pode executar um golpe visceral que causa muito dano.
No jogo completo, no entanto, o bloqueio perfeito também serve para que Eve consiga realizar contra-ataques avassaladores no oponente, sem sequer precisar esperar quebrar totalmente sua postura. Ao ver o oponente cambaleando com um dos bloqueios, você pode realizar ataques mais frenéticos, que são executados de forma rápida e agressiva, desde que você tenha destravado os requisitos necessários para isso, obtidos via experiência ganha derrotando inimigos e avançando na história. Isso pode ser combinado com as Habilidades Explosivas, similar às Habilidades Beta, só que ainda mais poderosas.
Os inimigos são bastante variados, sendo divididos quatro categorias: Naytiba Lacaio, que são mais fracos e só representam alguma ameaça se atacam em bandos, Naytiba Guerreiro, que são a ampla maioria e oferecem desafio moderado, e por último temos os Naytiba de Elite e Naytiba Alfa, que são os chefes do jogo, sendo que no caso dos Elite, você se depara com alguns deles mais de uma vez.
Todos os oponentes contam com escudos invisíveis que precisam ser quebrados para que o dano neles seja maior. Há um medidor representando isso, logo abaixo da barra de vida. Eve também conta com um escudo desse tipo, que pode ser fortalecido com acessórios equipados por ela.
As árvores de habilidades permitem liberar diversos poderes que servem para criar novos combos, deixando Eve cada vez mais forte com o passar do tempo. O melhor de tudo é que, como ocorre em outros jogos de ação e aventura, a jogabilidade vai evoluindo cada vez mais com o progresso da campanha, dando a Eve acesso até mesmo a um modo especial, acessado apertando os botões L3+R3 depois de encher a barra de energia disso, onde ela fica indestrutível por alguns segundos e ganha habilidades distintas exclusivas durante esse curto período.
Os combates não ficam limitados ao uso da espada, sendo possível também equipar o drone de Eve como arma de fogo depois de algumas horas. Evoluindo o drone, é possível utilizar tipos diferentes de munição, transformando ele numa metralhadora, lança-mísseis, raio laser, espingarda e arma explosiva.
Inicialmente pensei que não fosse fazer muito uso desse aspecto nos combates, visto que a munição encontrada explorando os cenários é limitada, sendo necessário comprar mais nos acampamentos (sobre os quais falarei mais a seguir), só que acabou sendo algo bastante útil e até mesmo essencial em certas ocasiões.
Há, inclusive, momentos no jogo onde Eve não consegue utilizar sua espada e depende exclusivamente do poder de fogo do drone para dar cabo dos inimigos, em situações que parecem até saídas do survival horror Dead Space, sendo algo que dá muito certo e acaba servindo para dar uma renovada nos combates. Felizmente, nesses locais há bastante munição, então não existe o perigo de ficar sem balas.
Vale ressaltar também as Exoespinhas e Componentes, que concedem melhorias passivas para Eve e que ajudam a moldar a personagem de acordo com o tipo de jogabilidade que o jogador mais preferir. Existem diversos desses itens espalhados pelo jogo, sendo que as Exoespinhas podem ser melhoradas para aumentar o número de benefícios que concedem.
Tudo isso fornece diversas combinações diferentes para Eve utilizar em Stellar Blade, com o jogo conseguindo entregar algo muito refinado e que agradará qualquer fã de jogo de ação que se preze.
Além disso, mesmo após muitas horas, você ainda se verá descobrindo novidades na jogabilidade, incluindo até mesmo um minigame de pesca.
Exploração que recompensa a curiosidade do jogador
Existem vários locais para visitar em Stellar Blade, com alguns sendo lineares e outros mais abertos, com estes contendo inclusive mapas para que o jogador não se perca. É o caso, inclusive, de Xion, a cidade e porto seguro do jogo, onde a maioria dos personagens reside e fornece tarefas.
Embora as missões opcionais mais importantes sejam obtidas por meio dos NPCs, aparecendo com um ponto de exclamação no mapa ou com uma bolinha verde em frente a eles quando tiverem algo novo para contar, há também um quadro de missões onde o jogador pode ir atrás de trabalhos mais triviais, mas que também oferecem prêmios.
A exploração, aliás, é outro aspecto positivo de Stellar Blade, havendo diversos locais com espólios escondidos para os jogadores encontrarem. Alguns deles requerem que quebra-cabeças sejam resolvidos (os quais, aliás, aparecem também em momentos da campanha em si) ou então o uso de senhas para abrir determinados baús. Entre os tesouros, há quase sempre itens utilizados para melhorar os equipamentos e acessórios de Eve, além de diagramas para criar novos nanotrajes para ela (que não são poucos) e os materiais necessários para isso.
Caso você perceba que não está conseguindo chegar em um determinado lugar ou não encontra o código de algum baú por mais que tenha vasculhado, volte mais tarde, pois é possível que você ainda não tenha chegado ao ponto do jogo que lhe permite ganhar acesso a isso. Por exemplo, existem pontos nos mapas abertos que só podem ser alcançados com pulo duplo, que é uma habilidade obtida apenas após progredir bastante na história.
Todas as regiões de Stellar Blade possuem pontos de descanso, que servem para recuperar as energias e os suprimentos de Eve em troca de fazer os inimigos derrotados renascerem, além de permitir que ela obtenha novas habilidades, compre itens utilizáveis e munição. Há também os acampamentos, que são mais encorpados e contam com acesso ao Console de Reparo para criar nanotrajes, expandir o número de componentes equipáveis, aprimorar exoespinhas, melhorar o dano da espada, fazer upgrades no drone e aumentar o número de usos do cantil, que é o principal item de recuperação de vida de Eve, similar aos Estus dos jogos Dark Souls.
Os acampamentos também trazem cabines telefônicas que servem para realizar viagens rápidas para locais que possuam outras cabines. É importante ressaltar que elas não estão disponíveis somente nos acampamentos, havendo algumas delas posicionadas sozinhas em certos pontos, então é importante ativá-las quando vê-las.
Sempre que alguma missão opcional é concluída, o jogo oferece a possibilidade de voltar imediatamente a quem lhe forneceu, o que poupa tempo de viagem. No entanto, é mais prático concluir primeiramente várias missões opcionais de uma determinada área e, apenas na última, realizar a viagem automática, já que geralmente elas são obtidas em Xion.
Para ajudar em toda essa exploração, seu aliado mais importante é o sonar do drone, que pode ser ativado apertando o touchpad. Da mesma forma que ocorre na demo, ele escaneia todo o cenário em volta de Eve, mostrando inimigos, caixotes, baús, itens a serem coletados, pontos escaláveis (que também são indicados com aquela famosa tinta amarela, cada vez mais comum nos jogos), itens para aumentar as barras de Habilidades Beta e de vida total de Eve, e mais.
É uma ferramenta essencial e que pode inclusive ser melhorada, e você deve usá-la a todo instante quando estiver explorando algum lugar novo, especialmente se estiver atrás dos itens colecionáveis, na forma de latinhas de bebidas diversas espalhadas pelo jogo.
Falando dessas latas, seus benefícios incluem aumento na quantidade de vezes que certos itens, como granadas de mão, podem ser utilizados. Quanto mais você achar, mais benefícios você terá nisso, com a recompensa final sendo um nanotraje especial para Eve, mas apenas aos que acharem todas elas.
Mas nem tudo é positivo. Os mapas dos locais abertos não trazem muitas informações ou referências e é possível apenas marcar certos pontos específicos neles, não havendo uma forma de marcar lugares aleatórios no mapa para seguir até eles ou uma forma de colocar indicadores customizados. Além disso, não há muitos detalhes de cada região do mapa, necessitando que o jogador relembre alguns aspectos destes locais para o caso de precisar voltar neles.
Isso mostra que a Shift Up optou por uma abordagem nisso à moda antiga. Não é um aspecto que me incomodou muito, mas talvez represente um empecilho para alguns jogadores, que irão ficar pensativos, por exemplo, sobre onde já tinham visto um determinado baú trancado, para voltar nele após encontrar o código que talvez sirva para destrancá-lo.
Além disso, as partes focadas na jogabilidade de plataforma são um tanto imprecisas e acabam testando um pouco a paciência. Algo que chama um tanto a atenção, levando em conta que o jogo faz uso disso boa parte do tempo.
Comentando um pouco mais sobre itens, vale ressaltar que embora seja fácil pegá-los no chão, bastando para isso segurar o botão R2, alguns deles não se destacam muito bem e podem até passar despercebidos do jogador. Apesar disso, os itens importantes são mais chamativos, para que não sejam perdidos de vista.
Felizmente, itens utilizáveis quando obtidos em excesso, como granadas e poções, são imediatamente enviados ao inventário compartilhado dos acampamentos e locais de repouso, com eles repondo automaticamente o inventário máximo de Eve assim que ela se senta para descansar.
Dificuldade hardcore, mas nem tanto
Stellar Eve conta com duas opções de dificuldade, uma voltada apenas a quem deseja curtir a história e outra para os jogadores que também esperam por um desafio. Caso você esteja acostumado a jogos de ação onde o foco está no combate corpo a corpo, a única opção viável é a segunda.
Digo isso porque, embora o jogo comece um pouco difícil já que Eve ainda não possui um vasto número de habilidades, acessórios e poderes, a situação muda de figura após algumas horas. Com Eve sendo evoluída, especialmente se você focar no conteúdo opcional, ela fica tão forte que, em certos casos, mesmo com a introdução de novos inimigos e o dano e vida deles ser maior, isso acaba não representando uma ameaça verdadeira.
Jogadores mais experientes, habituados com esse tipo de jogo, não terão dificuldade mesmo nos locais mais avançados da jornada, pois os combos que Eve pode executar após cerca de 15 horas de jogatina são devastadores. Quem dominar a jogabilidade, os bloqueios, esquivas e contra-ataques, não terá maiores problemas mesmo na hora de encarar os chefes, embora as lutas com eles não deixem de ser memoráveis.
Além disso, não existem penalidades após a morte e há um item no jogo chamado Bomba WB, que permite ressuscitar uma vez durante a batalha. Ou seja, mesmo se você morrer, terá uma nova chance e de forma imediata, com direito à barra de vida completamente cheia.
Isso deixa claro que a Shift Up preferiu tentar agradar a todos os tipos de jogadores, não apenas aqueles acostumados com a dificuldade extrema, por exemplo, de jogos como Dark Souls ou Elden Ring.
Visuais, desempenho e trilha sonora merecem destaque
Graficamente e na parte artística, os ambientes em Stellar Blade deixam bastante claros sua inspiração em NieR: Automata, com cenários pós-apocalípticos de cidades arrasadas, desertos desolados e assim por diante.
Tudo isso chama a atenção positivamente na maior parte do tempo, devido ao cuidado que os desenvolvedores tiveram nos detalhes e a qualidade visual proporcionada pelo Unreal Engine 4. Entretanto, é possível notar várias texturas em baixa resolução em determinados objetos, com a definição de algumas delas estando um tanto baixas demais, abrindo margem até mesmo para que possam ser eventualmente melhoradas com alguma atualização.
Falando dos personagens principais e secundários, o trabalho visual neles ficou impecável, com um nível de detalhismo fantástico, deixando-os marcantes e ajudando-lhes a ter personalidade juntamente com seus diálogos e ações, com tudo isso contribuindo para ficarem na memória dos jogadores. A meticulosidade no design também é válida para os Naytiba, quase todos com visuais grotescos, que parecem ter saído de pesadelos ou filmes de terror, claramente voltados a intimidar o jogador.
Quanto aos NPCs aleatórios e aqueles sem muita importância, esses não receberam o mesmo cuidado, com suas aparências sendo essencialmente repetidas uns nos outros, carecendo de variedade.
O desempenho de Stellar Blade no PlayStation 5 é aceitável, sendo possível jogar em 60 fps cravados no modo de desempenho, em até 60 fps no modo equilibrado e em 30 fps cravados no modo resolução, com a única diferença visual notável entre eles sendo na própria resolução.
Caso você tenha uma TV ou monitor com VRR, recomendo fazer uso do modo equilibrado, que foi como joguei. Agora, se não for este o caso, use o modo focado na performance. Ao meu ver, um jogo como Stellar Blade, que vai ficando cada vez mais frenético com o passar das horas, perde e muito se jogado em 30 fps.
Por fim, a trilha sonora é provavelmente a parte do jogo que mais me fez recordar de NieR: Automata, já que os responsáveis por quase metade das músicas é o estúdio Monaca, que cuidou disso no jogo da Square Enix. O resultado não poderia ser diferente e ficou fenomenal, tanto falando dessas músicas quanto das demais que compõem a trilha sonora, com todas fornecendo o tom certo para cada situação.
Conclusão
A Shift Up começou com o pé direito nos videogames, entregando um jogo de ação e aventura muito competente. Stellar Blade fornece diversão pura em sua jogabilidade nos combates, personagens marcantes e muito bem acabados visualmente, e uma ótima história, sendo obrigatório para quem se amarra nesse gênero.
Após passar mais de 30h jogando e concluir a campanha, com ainda uma boa parte do conteúdo opcional a ser desbravado, mal posso esperar pela chegada do modo Novo Jogo+ para que eu possa me adentrar novamente neste universo.
Stellar Blade está disponível para PlayStation 5.
Essa análise foi feita em um PlayStation 5 com uma cópia gentilmente cedida pela PlayStation.