Unicorn Overlord inova em narrativa e é RPG tático imperdível
Desenvolvido pela Vanillaware, jogo tem narrativa cativante, jogabilidade criativa e gráficos belíssimos
Inovar em um gênero tão bem estabelecido não é tarefa das mais fáceis ou vantajosas. Muitas vezes o risco simplesmente não compensa. Mas a Vanillaware tinha uma poderosa carta na manga com Unicorn Overlord.
E sabia disso.
A narrativa de Unicorn Overlord não é apenas seu ponto mais forte, como também é imperdível – por mais simples que a história seja. Esqueça as cenas longas – às vezes demasiadamente longas – tão comuns no gênero: o novo titulo publicado pela Atlus tem uma narrativa construída em torno de seus personagens, e pouco a pouco o jogador conhece mais do universo do jogo a partir das perspectivas de possíveis aliados e inimigos.
Unicorn Overlord é uma história sobre resistência. O jogador controla o jovem príncipe Alain, que foi levado às pressas para fora de seu reino quando sua mãe, e rainha da nação de Fevrith, enxergou que não seria capaz de lidar com forças invasoras. O protagonista precisa, então, construir seu próprio exército, viajando através dos cinco reinos da nação, para retomar seu lugar de direito.
Não é uma história inovadora. Na verdade, longe disso. Mas contá-la através dos personagens, que na grande maioria das vezes se conectam tão bem com Alain e sempre têm motivações que se justificam, sejam elas morais ou não – isso cabe ao jogador decidir –, abre espaço para que todas as missões sejam realmente relevantes, tanto as principais quanto as secundárias.
Enquanto a jornada principal sustenta bem a história, é nas paralelas onde se escondem muitas das nuances de Unicorn Overlord, onde muito do jogo é realmente contado. É também graças a essas missões paralelas que cada arco do jogo, que têm longas durações, passam rápido. Esses arcos, inclusive, não são lineares. O jogador pode escolher onde quer ir em cada momento, embora exista uma trilha sugerida. É possível, inclusive, ir diretamente para a missão final, o que não é nada recomendado (nem pelo jogo, nem por mim).
Corroborando a não-linearidade do jogo, cada arco traz diversas escolhas, que determinarão o destino de possíveis aliados – mesmo que antes eles tenham sido inimigos duros no campo de batalha. São nesses momentos que as decisões morais entram em cena, e é interessante saber que cada jogador pode moldar a campanha de acordo com o acredita ser certo ou errado.
Mas todos esses elementos não fariam muita diferença se Unicorn Overlord não tivesse um sistema de combate excelente. No início, me senti um pouco reticente com a ausência das escolhas durante as batalhas: aqui, tudo é decidido antes mesmo de se entrar em combate, mas isso está longe de tornar as coisas mais fáceis.
É preciso pensar bem no posicionamento das unidade – e há uma generosa variedade delas, terrestres e aéreas – de cada esquadrão, considerar a hora de colocá-los em batalha e decidir para onde cada esquadrão irá avançar. Também é possível pausar a batalha em qualquer momento, para alterar tudo o que achar necessário ou retraçar as rotas pelo mapa, recurso bastante útil nos momentos difíceis.
As batalhas acontecem quando dois esquadrões inimigos se encontram e é totalmente automática, de acordo com as escolhas prévias do jogador. É possível até mesmo pular a animação das batalhas, mas ao mesmo tempo é bastante útil assistí-las para saber onde está o erro em caso de derrotas.
O resultado das batalhas é baseado numa combinação de fatores: força das unidades e dos equipamentos, habilidades de cada unidade, tanto passivas quanto ativas, condições de ativação, entre outros. É um sistema simples em essência, mas que tem um grau de complexidade que dá bastante liberdade e espaço para a criatividade.
Por fim, falando em gráficos e trilha sonora, Unicorn Overlord é mais um tiro certeiro da Vanillaware. Personagens e ambientes têm ilustrações belíssimas – há diferentes raças de personagens, todas cheias de personalidade, assim como biomas no reino de Fevrith, todos absolutamente deslumbrantes. Toda essa atenção aos detalhes também é vista na trilha sonora, seja nas conversas, seja nas batalhas, seja nas viagens pelo mundo: é uma trilha sonora que confere o tom certo a uma aventura de fantasia tão carinhosamente pensada e desenvolvida.
Infelizmente, não há dublagens ou legendas em português brasileiro, o que pode comprometer bastante a experiência, uma vez que o jogo tem longos textos e diálogos relevantes.
Considerações
Unicorn Overlord é uma das melhores surpresas do ano até agora. Para os fãs do gênero, é um jogo absolutamente imperdível; para aqueles que querem experimentar estilos diferentes, é perfeito, simples e complexo. Tudo na medida certa.
Unicorn Overlord já está disponível para PlayStation 4, PlayStation 5, Switch e Xbox Series X|S.
*Esta análise foi feita no Nintendo Switch com uma cópia gentilmente cedida pela Atlus.