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Blazing Chrome traz rebelião de humanos contra as máquinas

Terceiro jogo do estúdio Joymasher assume papel de sucessor do clássico game de tiro Contra, em momento que a franquia decepciona os fãs

20 ago 2019 - 05h11
(atualizado às 10h13)
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2019 tem sido um ano interessante para games independentes com inspiração retrô - é o caso de Katana Zero e Bloodstained: Ritual of the Night, este último elaborado pelo criador do clássico Castlevania. Lançado em julho, um game brasileiro busca se juntar a essa lista: Blazing Chrome, terceiro jogo do estúdio brasileiro Joymasher, é um título de plataforma e ação que homenageia os clássicos da era dos 16-bits por meio do tiroteio incessante, da dificuldade e das explosões sem fim, servindo como sucessor espiritual da série Contra.

O jogo se passa em um futuro distópico onde a inteligência artificial tornou os humanos dispensáveis. Os protagonistas - a soldado Mavra e o robô Doyle - são a última esperança contra as máquinas. Esse cenário é recorrente em obras dos anos 80, como Exterminador do Futuro, mas está mais próximo da realidade no momento atual, onde IA é um tema cada vez mais cotidiano e a automação é uma ameaça presente. Danilo Dias, artista e desenvolvedor do estúdio, diz que se sente particularmente desconfortável com o uso de drones em guerras e com os vídeos de robôs subindo escadas e saltando que frequentemente viralizam na internet.

Jogo brasileiro Blazing Chrome
Jogo brasileiro Blazing Chrome
Foto: Divulgação

Para derrotar esses inimigos robóticos, insetos gigantes e criaturas biomecânicas, o caminho escolhido é a ação frenética inspirada nos clássicos do run'n'gun como Contra e Metal Slug. São seis níveis somente, mas a variedade na jogabilidade, repleto de chefões e com particularidades específicas a cada nível, como motos e mechas, e a dificuldade alta garantem a diversão. Se fosse um fliperama, Blazing Chrome seria um daqueles jogos "comedores de fichas". Ainda bem que estamos na era dos consoles, com pontos de salvamento pensados.

Feito por Danilo e por Thais Weiller, que divide com ele o comando do estúdio Joymasher, Blazing Chrome segue os caminhos dos jogos da era 16-bits (leia-se: do Super Nintendo e do Mega Drive), mas sem se ater às limitações do período. Os controles são fluídos - com exceção da mira em alguns momentos - e os cenários e animações mostram uma grande evolução considerável dos jogos anteriores do estúdio. O desenvolvedor concorda, "Blazing Chrome está bem acima do Oniken e do Odallus mesmo", e explica que esse foi o primeiro jogo em que cuidou apenas da arte e design, graças a parceria com Iury Nery, que fez a programação do jogo. "Isso me deu mais tempo pra poder me dedicar a gráficos e animações mais detalhadas", conta.

Essa liberdade em relação aos elementos retrôs aparece também na trilha sonora, assinada por Tiago Santos e Dominic Nninmark. "Eles não se limitaram a uma trilha sonora 100% fiel ao Mega Drive. Tentaram usar instrumentos um pouco mais elaborados e mais canais de som, isso somado a vozes digitalizadas fez com que o Blazing Chrome tivesse um som bem fiel a jogos de fliperama como Metal Slug mesmo". O resultado é fiel ao lendário Konami Kukeiha Club, equipe de som responsável pelas trilhas da empresa japonesa, mas não ficaria fora de lugar em uma compilação synthwave no Youtube.

A série Contra foi uma das inspirações do jogo - "quando comecei a trabalhar no Blazing Chrome eu estava revisitando a série", conta Danilo - mas também contribuiu diretamente para divulgar o jogo. Poucas semanas antes do lançamento de Blazing Chrome, a Konami anunciou na E3 um novo título da série, Contra: Rogue Corps. O jogo, dirigido pelo mesmo desenvolvedor de Contra 3 e Hard Corps, sai da tradicional perspectiva side-scrolling 2D para uma visão 3D.

Essa mudança (somada a escolha questionável de um panda ciborgue como protagonista) causou uma reação nos fãs, que rapidamente adotaram Blazing Chrome como exemplo de um jogo "mais Contra que o próprio Contra", frase repetida infinitamente em reviews e comentários do youtube. Danilo conta que como fã da série fica muito feliz ao ler essa comparação, e que para ele, o anúncio de Rogue Corps contribuiu para valorizar Blazing Chrome. "O pessoal acabou valorizando mais nosso jogo".

Durante o desenvolvimento de Blazing Chrome, um trailer do jogo chamou a atenção de Elon Musk, presidente executivo da Tesla e SpaceX, que tuitou sobre incluir o game nos carros da marca. Danilo conta que depois desse acontecimento bizarro realmente ocorreu um contato entre a publisher do jogo e a equipe de Musk, mas "infelizmente não foi pra frente."

Em Blazing Chrome, os protagonistas são a resistência contra o domínio das máquinas. Em Oniken, contra um conglomerado militar global. Em Odallus, contra as próprias forças da escuridão. Essa relação entre opressores e oprimidos faz parte de uma mensagem política do estúdio. Em outubro, durante o segundo turno das eleições presidenciais, publicaram nas redes sociais um manifesto assinado por entidades da cena dos games contra o então candidato Jair Bolsonaro. "Boa parte do público que joga videogames acha que jogos e política não devem ser relacionados, mas nós acreditamos que isso não faz sentido algum. Assim como qualquer produto cultural, videogames também são políticos", explica Danilo. Mesmo sobre o recente aceno do presidente ao público gamer, Dias afirma ter dúvidas "se essa é a agenda mais importante a ser abordada nesse momento em que existem várias outras questões maiores a serem resolvidas em nosso país".

Um dos personagens desbloqueáveis de Blazing Chrome é um Ninja, Raijin. E essa aparição ajuda a indicar o futuro do estúdio: o próximo jogo, que já aparece em alguns vídeos no canal da produtora com o título "Moonrider" é sobre ninjas. "No nosso próximo projeto o jogador assume o papel de um ninja cibernético em um futuro distópico cyberpunk. Os elementos de design e jogabilidade serão bem parecidos com jogos como Shinobi e Hagane", afirma Danilo. "Vai ter bastante porrada cibernética".

Blazing Chrome

Produtora: Joymasher

Plataformas: PS4, Xbox One, Nintendo Switch e PC

Preço: R$ 32,99 (PC)

Já disponível no Brasil

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Você consegue adivinhar o videogame pelo som?:
Estadão
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